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A geografia lingüística
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COSERIU, Eugenio. A geografia lingüística . In: O homem e sua linguagem. Rio de Janeiro: Presença, 1982, p. 79 a 116. Parte superior do formulário
A geografia lingüística designa exclusivamente um método dialetológico e comparativo e que pressupõe o registro em mapas especiais de um número relativamente elevado de formas lingüísticas (fônicas, lexicais ou gramaticais) comprovadas mediante pesquisa direta e unitária numa rede de pontos de um determinado território. Relaciona-se com a geografia não só pelo emprego comum do instrumento cartográfico, mas também porque revelam um aspecto essencial das relações entre vida social e cultural do homem em seu ambiente natural. A geografia lingüística compreende três etapas principais, além da etapa de preparação, em que são selecionados os pontos a investigar, e confeccionado o questionário: 1) o trabalho de coleta do material, 2) o registro do material colecionado em mapas que constituem os atlas e 3) o estudo e a interpretação do material proporcionado pelos mapas. Essa técnica é de índole geográfica, mas seus fundamentos e seus fins são evidentemente glotológicos. Os mapas lingüísticos além de permitirem observações de caráter geral sobre o funcionamento da linguagem como meio de intercomunicação social, revelam a conexão entre a história lingüística e os fatores geográficos ou geopolíticos: permitem comprovar que as inovações nas línguas procedem de determinados centros e que a sua difusão se detém em certos limites constituídos por rios, montanhas fronteiras políticas, administrativas ou eclesiásticas. Por essa aplicação particular, a geografia lingüística foi chamada de neolingüística e, posterior, lingüística espacial , mas é normalmente aplicada à dialetologia. Jules Gilliéron é considerado o fundador da geografia lingüística, mas outros lingüistas como Leibniz, Johannes Schimidt e Hugo Schuchardt prenunciaram o método geográfico por tentarem realizar algo nesse campo. Entretanto foi no terreno da dialetologia que o método mais se destacou, voltando-se contra as idéias da escola neogramática e impondo-se o estudo e a investigação diretamente das ?línguas vivas?. O neogramático G. Wenker é o precursor que mais se aproxima de Gilliéron por ter tentado estabelecer os limites dialetais da fala alemã. Antes do ALF ( Atlas Linguistique de la France ), outros já haviam sido produzidos como o pequeno atlas da Suécia de H. Fischere o atlas romeno de G. Weigand. Entre os atlas românicos, os mais importantes são o Atlas Ítalo-suiço (1928-1940) e o Atlas da Córsega de Gino Bottiglioni (1933-1942). Outros dois Atlas românicos ficaram incompletos: o da Romênia (1877-1948) e o da Catalunha (1890-1973). O atlas lingüístico é essencialmente uma ?coleção de material? que apresenta vantagens de clareza e evidência imediata dos fenômenos e garantias de unidade técnica, de homogeneidade do material e de densidade de pontos estudados e, sobretudo, não apresenta fatos isoladamente num único falar, mas no conjunto de falares nos quais se articula um dialeto ou uma língua, oferecendo para cada fenômeno uma visão espacial simultânea que permite importantes induções de ordem histórica, geral e comparativa. A investigação sistemática numa rede de pontos com malhas suficientemente estreitas permite supor que as formas do inventário não rastreadas não são muito numerosas e comprovar os limites e as áreas dos fenômenos registrados, bem como fazer induções sobre o caráter ?conservador? ou ?inovador? dum dialeto. No que diz respeito às inovações, o atlas lingüístico permite induções tanto histórica, a partir de que centro se difundiu uma inovação e até onde chegou, quanto geral, percurso pelo qual uma inovação segue e onde é interrompida, formando feixes de isoglossas (linhas que limitam as áreas ocupadas pelos fatos). Assim a comprovação da área duma inovação e do seu centro de irradiação permite deduções importantes no campo da comparação lingüística, ou seja, comprova-se a distribuição de um fenômeno em relação a outro. Para concluir o ensaio, Coseriu afirma que o método geográfico constituiu uma das grandes conquistas da ciência da linguagem no século XIX. A geografia lingüística alcançou progresso muito considerável, aperfeiçoando cada vez mais os métodos de investigação direta da multiforme realidade do falar e proporcionando aos lingüistas esses poderosos instrumentos de estudos que são os atlas lingüísticos. Contribuiu ainda para mostrar com toda evidência que cada mudança lingüística parte, em última análise, de um indivíduo falante e se difunde por razões sociais e culturais, como também não existem mudanças simultâneas em toda uma ?língua?. Finalmente o próprio conceito de ?língua? se modificou devido à noção de isoglossa adotada pela geografia lingüística, pois deixou de ser vista como um organismo autônomo com ?vida? independente do falante, mas, idealmente, como ?sistema de isoglossas? que se estabelece com base no falar concreto e, historicamente, como unidade e continuidade duma tradição lingüística numa comunidade. Apesar dos mapas não refletirem todo o falar correspondente de uma língua, pois, além da variedade horizontal, há uma variedade vertical entre estratos sociais e culturais, fornecem subsídios necessários para o desenvolvimento de novas pesquisas e novas investigações dialetais monográficas. Entretanto esse novo método que surgiu na lingüística do século passado não se ausentou de trazer alguns riscos como o de cair no objetivismo das formas e áreas lingüísticas e atender apenas à multiplicidade do falar, negligenciando sua unidade e homogeneidade. Sendo assim, vale ressaltar que é um método que coexiste com outros métodos, igualmente valiosos e profícuos e que não se opõe à lingüística anterior, mas nela se insere e a modifica, em parte, e só deste modo a supera. Por Fabiana dos Santos Lima
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