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Teorias da aquisição e a aprendizagem da escrita
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Para a Lingüística Moderna, as indagações sobre a aquisição da língua giram em torno de três questões: se ela é inata no homem, se é adquirida culturalmente e qual seria a natureza dessa aprendizagem. Para a tese inatista de Chomsky, o homem vem programado biologicamente para desenvolver determinados tipos gramaticais. A faculdade lingüística é entendida como um esquema formal abstrato que subjaz a qualquer gramática particular. Cada língua seria uma realização completa desse esquema, constituída de regras prescritivas que possibilitam ao falante compreender e produzir frases nunca antes ouvidas. Uma das evidências inatistas é o fato da criança atingir formas gramaticais perfeitas quando o estímulo ambiental é fragmentado. Ela, ao adquirir seu idioma, desenvolve também sistemas de desempenho, cuja natureza e forma seriam determinadas geneticamente. Para a teoria evolucionista de Bickerton, o bioprograma especifica um limite inferior, definido pelo trajeto natural inicial de desenvolvimento lingüístico e, um superior para a capacidade lingüística, atingido com o desenvolvimento cultural. Para o pesquisador, a língua culturalmente adquirida não se distancia da primitiva. Ele preocupou-se em estabelecer o trajeto inicial do bioprograma lingüístico. Admite uma evolução da fala, atestada pelo desenvolvimento das formas primitivas das línguas naquelas mais elaboradas, até atingir gramáticas as complexas. Compromete-se com a tese de que a filogênese se reflete na ontogênese, isto é, de que a mesma evolução verificada no desenvolvimento de uma dada língua observa-se na gramática infantil. Inicialmente, a criança concebe a escrita em sua forma motora, resultando em grafismos. Em seguida, começa a produzir algo como os pictogramas, aos quais atribui valor de escrita. O passo seguinte é usar um símbolo para um conceito, atribuindo a ele um valor ideográfico. A seguir, demonstra conceber a escrita como representativa dos sons orais, passando a usar símbolos com valor silábico. A partir daí, a criança pode ser alfabetizada. Já, Lenneberg baseou-se na comparação entre a aquisição da fala e a de outras atividades motoras, como o escrever, cuja natureza é postulada como uma premissa. Para ele, ler e escrever são atividades comunicativas que são culturalmente aprendidas, cuja historiografia não pode ser traçada e divide-se em vários tipos de sistemas. Na tese funcionalista, Laberge e Sankoff e Brown focalizam o papel dos fatores culturais funcionais no desenvolvimento lingüístico. Constataram que novas formas são acrescentadas quando aumentam as necessidades comunicativas, mostrando que a gramática é culturalmente determinada. Assim, é preciso criar situações que levem a criança a buscar novas formas em função daquilo que quer comunicar. A tese cognitivista-funcionalista de Bever explica problemas de compreensão e produção da escrita microestrutural. Segundo ele, o limite da gramaticalidade é o da compreensibilidade e da produzibilidade, ou melhor, o que não podemos compreender ou produzir é inaprendível e, portanto, agramatical. Apoiado nessa concepção, Slobin monta um conjunto de estratégias heurísticas que explicam o desenvolvimento do desempenho lingüístico infantil. A princípio, a criança é levada por uma estratégia que a faz fechar qualquer seqüência canônica (sujeito + predicado), sem atentar-se a outros sinais que a advirtam de que deve suspender esse fechamento sintático. Mais tarde, já se mune de outra ação: a de prestar atenção aos sinalizadores de subordinação. Além da tese de que fatores de desempenho determinam a forma gramatical, Bever adota a hipótese cumulativa na aquisição lingüística: as estratégias primitivas podem surgir de sua latência em situações de conflito e de dificuldade. Tal proposta explica porque os alunos, em suas redações, fecham precipitadamente uma estrutura em uma fase em que já dominam a subordinação. Para o construtivista Piaget, o conhecimento resulta de uma atividade estruturadora por parte do sujeito, conseqüência do comportamento que gera esquemas de ação, através da sua interação com o objeto de aprendizagem. Além disso, enfatiza a interação do organismo com o ambiente infantil com o objeto da aprendizagem. A criança, na fase operatória, mostra que é capaz de inferir o resultado da emissão de letras de uma palavra que ela reconhece. Finalmente, a tese associacionista defende que um certo estímulo ambiental X provoca uma resposta Y e leva a um reforço positivo. Segundo o estruturalismo americano, o ato verbal é um comportamento social que depende de um organismo cooperativo para o reforço. Os processos que levam à aprendizagem são a generalização indutiva e a abstração. Conforme Miller, a criança responde a elas através de termos lógicos e o significado das sentenças é resultado da substituição dos itens lexicais por variáveis. Os termos lógicos que fornecem os esquemas permitem que o falante-ouvinte deduza o significado deles, dado o contexto. O associanismo reconhece que o significado de sentenças não pode ser aprendido por resposta automática e que o significado de palavras pode ser aprendido por dedução. Na aprendizagem da leitura, supõe-se que as primeiras palavras aprendidas o sejam globalmente e por resposta verbal auditiva. Aos poucos, a criança tem consciência da analisabilidade usando uma operação que envolve dissociação e construção. Mesmo no nível textual, ela aprende rapidamente alguns elementos convencionais que delimitam o texto. Também no nível dissertativo, a apreensão inicial se dá através de um esqueleto formal estrutural, cujos elementos invariantes são conectivos sentenciais ou de parágrafos. Essa teoria, também, apontava para o fato de que a criança monologa na fase inicial da aquisição lingüística enquanto está fazendo algo, porque responde verbalmente as suas atividades motoras. Todavia, esse monólogo desaparece depois por causa da pressão social, embora se subvocalize. Essa vinculação da ficção com a realidade, através da primeira pessoa, seja para a criança uma fase cognitivamente necessária para se chegar a um discurso totalmente hipotético. Em suma, todas as teorias da aquisição do conhecimento defendem que o homem nasce com algum tipo de equipamento inato, que lhe permite interagir com os objetos ambientais e deles extrair significado. Se a escritura é esse objeto, será aprendida naturalmente e será usada como instrumento comunicativo. Essa aprendizagem será facilitada se o contexto lhe suprir condições para a interação, as quais lhe fornecerão a base para o desenvolvimento da capacidade simbólica.
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