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Alfabetização em processo
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Na obra ?Alfabetização em processo?, Emília Ferreiro mostra como ocorre o processo de alfabetização infantil. No capítulo, ?Os problemas cognitivos envolvidos na representação escrita da linguagem?, analisa a relação entre a totalidade e as partes constituintes da escrita. Para compreender a transição de um modo de organização conceitual a outro, deve-se identificar as estruturas que caracterizam os níveis sucessivos do saber em cada domínio pré-alfabético. Cada um caracteriza-se por concepções assimiladoras que absorvem a informação, excluem outras e introduzem elementos interpretativos próprios. Os resultados são construções originais, mas caóticas a princípio. Ferreiro buscou a compreensão dessa ?lógica interna? e as razões da substituição de uma forma pela outra, pois a criança enfrenta problemas classificatórios quando tenta compreender a representação escrita. Daí, novas classificações surgem: grafias diferentes recebem a mesma denominação e são consideradas equivalentes. A escrita é composta de partes e partindo-se da ?hipótese da quantidade mínima?, a coordenação do parcial com o total se torna uma problemática. Inicialmente, os elementos gráficos constituem uma totalidade legível, não se diferindo. Mais tarde, quando as crianças começam a controlar as variações na quantidade, conseguem uma coordenação momentânea: cada letra representa um objeto e o todo, a ?totalidade legível?, representa o nome plural. A escrita completa representa o conjunto de objetos e cada uma de suas letras, um dos elementos do conjunto. Ambas propriedades relacionam-se. Esta situação se contradiz em relação à outra hipótese, a da ?quantidade mínima?, na qual obtém duas representações. As crianças utilizam-se de um número de letras para escrever um objeto, o plural se obtém repetindo, conforme o número de objetos, a mesma série inicial. Quando começam a escrever no plural, uma letra é suficiente para representar um objeto. No entanto, quando escrevem no singular e, em seguida, no plural, necessitam de mais de uma letra para um único objeto. Lingüisticamente, existem quatro níveis de variação no status da sílaba: é usada sem que o sujeito possa aproveitar esse ?saber como?; atua como um indicador: duas sílabas dadas, cada uma servirá para uma exploração individual; converte-se em uma parte não ordenada do nome; e, compreensão que a sílaba de um nome é uma parte ordenada, dispostas numa dada ordem. Esse problema entre o todo e as partes também é enfrentado pelas crianças quando procuram interpretar a escrita produzida pelos outros. Para coordenar, consideraram os textos escritos sob a forma da ?completude? e da ?incompletude?, ou seja, cada parte de um nome escrito pode corresponder a uma do falado. Para chegar a ?hipótese silábica?, estabelecem equivalências numéricas. O princípio de ?variação interna? aplica-se a dois níveis: de uma dada escrita; e, de conjunto de escritas relacionadas: Quando a ?hipótese silábica? está no auge, as crianças precisam de letras diferentes para cada escrita, e de letras diferentes para uma mesma. É sua posição que determina a interpretação. Nossa escrita convencional não se acomoda a esse esquema, pois a criança compreende o que faz, mas não o que os outros fazem. Devido a isso, há três tipos de reação: a deixa de lado; a compensa localmente; e, a compensa através de modificações no seu esquema assimilatório, alcançando uma nova equilibração. Neste momento, abandona a ?hipótese silábica? e reconstroi o sistema escrito sobre ?bases alfabéticas?. No capítulo, ?Informação e assimilação no início da alfabetização?, apresenta o modo como os processos assimilatórios operam seletivamente sobre a informação, baseando-se na dinâmica da equilibração piagetiana. As crianças com mesmo legado cultural se assemelham quanto ao desenvolvimento lingüístico. Em seguida, alerta o professor que todas elas terão dificuldades quando tentarem coordenar os aspectos quantitativos equalitativos da escrita e passarão por uma seqüência de critérios intra e inter-relacionais de diferenciação, construindo sistemas interpretativos próprios. Já, no capitulo ?A interpretação da escrita antes da leitura convencional?, estuda o significado do psicogenético dos esforços infantis para interpretar textos escritos em momentos evolutivos anteriores a compreensão das relações existentes entre as letras e os sons da língua. Afirma que, antes de ser capaz de ler, a criança tenta interpretar os diversos textos existentes. A bagagem de esquemas interpretativos, antes da escolarização, é essencial sobre qual base será possível estimar que tal ou qual informação será assimilada. Além disso, o processo de leitura implica em que o leitor recorra a fontes de informação visuais ou não-visuais. A primeira é aquela disponível de forma gráfica. Já, a segunda, é o conhecimento da língua que cada um possui. Finalmente, o ato leitor deve ser concebido como um processo coordenativo de informações de procedência diversificada e cujo objetivo é a obtenção de significado expresso lingüisticamente. No capítulo, ?A representação escrita da pluralidade, ausência e falsidade?, mostra a relação que os sujeitos não-alfabetizados estabelecem entre a representação escrita e o enunciado oral em três casos contrastivos: entre singularidade e pluralidade; entre afirmação de presença e de ausência; e, o verdadeiro e o falso. Para a escrita do plural e a para a da negação, existe uma série de tipos de respostas a serem ordenadas a partir de considerações e coordenações das semelhanças e diferenças entre o modelo inicial e a nova escrita a realizar. Por fim, no capitulo, ?O calculo escolar e o calculo com dinheiro em situação inflacionária?, mostrou que as crianças desprivilegiadas têm uma possibilidade de cálculo com dinheiro superior à constatada apenas no uso do com lápis e papel. Elas usam um processo de coordenação de escalas de intervalos fixos que permite ir aproximando o cálculo da direção da unidade. Alerta que para usar esse cálculo mental em situação escolar deve ser refletido e usado no sentido de aproveitar para o avanço do aluno. Valorizar o cálculo aproximado indica a existência de raciocínio.
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