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A Sociedade Transparente (Parte 2)
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(Continua de Parte I referida em baixo em 'Links importantes) ------------------- -----------------------------------------------------------------
Capítulo II CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIEDADE DA COMUNICAÇÃO O aparecimento e desenvolvimento de uma sociedade civil distinta do Estado não são, imediatamente, um fenómeno do qual se veja relação directa com os fenómenos da comunicação e com os novos meios de informação disponibilizados pela moderna técnica. Porém, é possível mostrar, referindo os modernos estudos de Habermas sobre a opinião pública, que mesmo no devir da sociedade e civil, com âmbito diferenciado relativamente ao Estado, tem um papel fundamental a opinião pública, a ideia geral de uma esfera pública, que está certamente ligada aos mecanismos da informação e da comunicação social. As chamadas ciências humanas, desde a sociologia à antropologia ou à psicologia, são condicionadas pela constituição da sociedade moderna como sociedade da comunicação. As ciências humanas são, ao mesmo tempo, efeito e meio de ulterior desenvolvimento da sociedade de comunicação generalizada. Com efeito, se suposermos que as ciências humanas são aquelas que descrevem positivamente aquilo que o homem faz de si na cultura e na sociedade, então poderemos também convir que a própria ideia de uma tal descrição é essencialmente condicionada pelo desenvolvimento, de forma visível e acessível a análises comparativas, de uma tal positividade do fenómeno humano. Temos então que a intensificação dos fenómenos comunicativos, o aumento da circulação das informações até à simultaneidade da reportagem televisiva em directo, não é apenas um dos aspectos da modernização, é o centro e o próprio sentido deste processo. A tecnologia que domina e modela o mundo em que vivemos é certamente feita de máquinas ainda entendidas no sentido tradicional do termo, que fornecem os meios para dominar a natureza externa; mas é sobretudo definida por sistemas de recolha e transmissão de informações. Constatamos, pois, que: 1) o sentido em que se move a tecnologia não é só o domínio da natureza através das máquinas, mas o desenvolvimento específico da informação e da construção do mundo como imagem; 2) esta sociedade em que a tecnologia tem o seu apogeu na informação é também, essencialmente, a sociedade das ciências humanas. Através da redefinição dos conceitos de contemporaneidade e simultaneidade no plano da história, suscitada por técnicas como a reportagem televisiva em directo, os ideias sociais da modernidade mostram-se unitariamente guiados pela autotransparência. A partir do Iluminismo, tornou-se evidente que o facto de submeter realidades humanas ? as instituições sociais, a cultura, a psicologia, a moral ? a uma análise científica não é apenas um programa epistemológico que se proponha perseguir interesses cognitivos estendendo o método científico a novos âmbitos de estudo; é uma decisão revolucionária, que só se compreende em relação a um ideal de transformação da sociedade. O ideal de autotransparência, que atribui à comunicação social e às ciências humanas um carácter não só instrumental, mas de algum modo final e substancial, no programa de emancipação, encontra-se hoje largamente na teoria social, nomeadamente de autores como Habermas e Harl Otto Apel. Apel, por exemplo, constrói toda a sua visão da sociedade e da moral em torno do ideal da ?comunidade ilimitada da comunicação?. As suas posições são significativas não só porque atribuem um papel essencial às ciências humanas na realização de uma sociedade de comunicação entendida como ideal normativo, mas também porque mostram sem equívocos o que está contido neste ideal como sua característica essencial, isto é, a autotransparência completa da sociedade, sujeito-objecto de um saber reflexivo que , em certo sentido, realiza aquele absoluto do espírito que em Hegel era um puro fantasma ideológico. Será este, portanto, o ideal da autotransparência, a direcção para a qual aponta hoje a relação entre a sociedade da comunicação e ciências sociais? Para tal, bastaria que os mass media, que são os modelos em que autoconsciência da sociedade se transmite a todos os seus membros, não se deixassem já condicionar por ideologias, interesses de sectores, etc., e se tornassem de alguma forma órgãos das ciências sociais, se sujeitassem à medida crítica de um saber rigoroso, difundissem uma imagem científica da sociedade, precisamente aquela que as ciências sociais estão já em condições de transmitir. Em geral, o desenvolvimento intenso das ciências humanas e a intensificação da comunicação social não parecem produzir um aumento da autotransparência da sociedade, mas, pelo contrário, parecem funcionar em sentido oposto. Há uma espécie de entropia ligada à própria multiplicação dos centros de história, dos lugares de recolha e transmissão das informações. Assim, tronando-se efectivamente possível do ponto de vista da disponibilidade estritamente técnica, a autotransparência da sociedade, como mostra a sociologia crítica de Adorno, revela-se, por um lado, ideal de domínio e não de emancipação; por outro, desenvolvem-se no próprio interior do sistema de comunicação mecanismos que tornam definitivamente impossível a realização da autotransparência. Nesta tomada de consciência que se chamar hermenêutica, as ciências humanas reconheceram o carácter histórico, limitado e afinal ideológico, do próprio ideal de autotransparência, como do de uma história universal a que se fez referência. Em vez de avançar para a autotransparência, a sociedade das ciências humanas e da comunicação generalizada avançou para aquela que, pelo menos em geral, se pode chamar a ?fabulação do mundo?. As imagens do mundo que nos são fornecida pelos media e pelas ciências humanas, embora em planos diferentes, constituem a própria objectividade do mundo, e não apenas interpretações diferentes de uma realidade de algum modo dada.
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