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Ética demonstrada à maneira dos geômetras


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A Ética de Spinoza é um tratado de moral escrito em estilo euclidiano ("geométrico", como avisa o subtítulo), o que significa que o autor parte de alguns axiomas e definições, dos quais deduz proposições cada vez mais complexas, e que contém, além da filosofia ética, uma filosofia da natureza, uma filosofia da mente humana e algumas passagens de outros assuntos que são desenvolvidos por Spinoza em outras obrasx em maiores detalhes, como a filosofia da religião, a filosofia política e a teoria do conhecimento. O livro divide-se em cinco partes.

Na primeira, Spinoza se esforça para demonstrar uma filosofia da natureza que podemos chamar de panteísta, mas que contém, apesar de tudo, uma semente poderosa de ateísmo. Segundo o filósofo, Deus não seria um ser imaterial e dotado de vontade livre, mas, o que ele chama de "Deus" é apenas um sinônimo para "Natureza": um conjunto de leis causais que produzem os fenômenos de acordo com suas necessidade material interna. Se, para Spinoza, Deus se reduz a Natureza, basta desenvolver o conceito da segunda, o que ele realmente faz, recorrendo à noção de que a natureza é produto da sua própria necessidade interna. Este capítulo conclui com uma notável reflexão acerca da superstição, que Spinoza busca explicar pelo antropomorfismo e pelo hábito dos homens de pensar em termos de meios e fins; por outro lado, Spinoza também se inclina a explicar a superstição como produto da confusão do intelecto, a ausência do hábito de ordenar os conceitos. A superstição seria, para Spinoza, a fonte da religião.

Na segunda e terceira partes, Spinoza, pressupondo o seu conceito de natureza, desenvolve o conceito de homem, considerando a espécie humana como uma parte da natureza. Em grande parte, seu conceito é típico do racionalismo do século XVII: o homem seria, como os animais, uma máquina, isto é, um sistema de mecanismos organizado, mas, diferente do animal e da máquina, seria dotado de uma alma. Não crendo na alma no sentido religioso, Spinoza, porém, pretende formular um conceito de alma dentro do seu materialismo e naturalismo filosóficos mais gerais, sem retirar do homem as capacidades intelectuais e volitivas. Spinoza tenta resolver o problema das relações mente-corpo e intelecto-vontade recorrendo ao paralelismo: os movimentos do corpo e da alma, da cognição e da volição seriam paralelos, sem prioridade ou reciprocidade entra ambos. É frequente que Spinoza diga que corpo e alma, vontade e intelecto sejam uma mesma coisa, da qual os dualismos seriam apenas aspectos diversos.

Na quarta parte, Spinoza devenvolve uma longa reflexão e minunciasa reflexão sobre as paixões, que ele reduz a três: alegria, tristeza, desejo, e empreende uma definição de um conjunto enorme de paixões de acordo com as três paixões básicas, aonde amor, ódio, inveja, cobiça, etc. seriam ordenações mais complexas das unidades básicas das paixões. Apesar de cansativa, esta descrição não deixa de ser fascinante. Mas a mensagem de Spinoza é clara: a confusão do intelecto e da vontade produz uma subordinação do homem ao domínio dos estímulos sensoriais exteriores. A liberdade só pode ser alcançada pela emancipação em relação ao sensorial. Essa emancipção, porém, não significa, para Spinoza, um ascetismo puro, mas antes uma moderação. A busca do útil e do agradável, da autoconservação e da felicidade, impõe uma dupla necessidade: equilibrar ascetismo e hedonismo, para que as paixões não sejam destrutivas para o indivíduo, mas, sim, que elas lhes favoreçam a atividade. A reciprocidade entre capacidade (potência) e felicidade constitui a base da autonomia do indivíduo em Spinoza.

A quinta parte busca a significação ética do comportamente pela sua relação com a liberdade. Como vários filósofos, Spinoza identifica a felicidade à virtude, pois "a virtude não é prêmio da felicidade, mas a própria felicidade". O segredo estaria na ordem intelectual com vistas à autonomia. Ao mesmo tempo, Spinoza atribuía à razão uma capacidade de contemplação que ele definia como "amor intelectual por Deus", que seria o motivo da conquista da felicidade e da virtude, vistas, aqui, como um produto da "potência do intelecto" especulativo. Ordem moral e intelectual, equilíbrio entre hedonismo e ascetismo e livre-pensar autônomo seriam os princípios fundamentais da Ética de Spinoza. Em outros livros, ele desenvolve mais atentamente a sua ética política democrática e sua filosofia racionalista do conhecimento.



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