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A Moralidade Coletiva
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A moral é assunto pessoal, individual, que deve partir de cada pessoa. Porém, em se tratando de realidade pessoal, o decisivo é a liberdade. Quer dizer, o homem é responsável, faz e escolhe a sua vida, realiza-a na medida em que as circunstâncias o permitem, mas o projeto é próprio. Cada um projeta sua vida, procura realizá-la de acordo com as circunstâncias sociais e de algo que não se costuma reparar muito: o acaso. Há acidentes, isto é, há coisas que sobrevêm e que não têm nada a ver, diretamente, com o projetoindividual, mas, que o perturbam. O acaso não significa uma supressão da coerência do projeto, porque cada pessoa absorve-o, transforma-o, digere-o, convertendo-o num ingrediente externo, porém assimilado para sua vida. Contudo, o homem vive em uma sociedade, tem uma vida individual articulada com a coletiva e, assim, a vida moral está naturalmente condicionada à situação sociocultural em que vive. A liberdade é sempre fundamental e decisiva: faz que o homem seja responsável por aquilo que escolhe dentro de suas possibilidades. Mas, a sociedade exerce uma grande pressão difusa em alguns sentidos: nas vigências, usos sociais, configurando sua vida, tirando-lhe a espontaneidade, parte de sua autonomia. Regula sua vida e lhe propicia facilidades ao oferecer, já prontas, muitas soluções para os problemas pessoais, automatizando a vida, tornando-a mais fácil, mas condicionadaaos modos de vida existentes, especialmente em nossa época, em que os processos sociais têm se alterado muito em conseqüência do poderoso avanço da comunicação. O homem vem recebendo diversas interpretações do real que, muitas vezes, tem um caráter moral: as formas de vida, as relações humanas, família, moral, política, interpretações que lhe são apresentadas em forma de atitudes, muito freqüentemente tidas como normais, por serem freqüentes. Essa identificação é muito perigosa porque tende a considerar o que é freqüente como normal, este como lícito e o que é lícito como legalmente moral. São identificações inaceitáveis: há coisas freqüentes que não são normais, não são lícitas, ou podem ser lícitas legalmente, mas moralmente não. O indivíduo tem recebido modelos humanos de conduta que são mostrados pela mídia impressa e televisiva e isso exerce uma influência negativa, particularmente sobre as crianças e jovens, alvos que são de uma série de impactos, fazendo com que certas coisas pareçam ser normais, lícitas, aceitáveis e, não o são. É evidente que tudo isso condiciona o que chamamos de moralidade coletiva. A palavra moral deriva do substantivo latino mos, mores, que significa costume. Quer dizer, os costumes têm um caráter moral, são vividos como algo que tem uma condição moral e, certamente, a moralidade é afetada por eles. O homem pode aceitar essas vigências ou resistir a elas, porém, precisa compreender que se trata de algo que tem vigor e exerce pressão, mas que pode resistir a elas ou aceitá-las. Se resistir, estará agindo de forma contrária às pressões sociais, às vigências, o que não é nada fácil, já que a vida coletiva é afetada por esse sistema de pressões. Um bom exemplo é a televisão. Nela são vistas certas pessoas ou grupos de pessoas, uma minoria que aparece, que se mostra, expressa opiniões, sua maneira de ver as coisas, etc. Pode parecer que isso tem pouca importância, mas não, tem muita, porque o que se vê, é o que vale. Esses modelos que aparecem na televisão são os que realmente têm influência, um efeito muito maior porque o número de pessoas que vê televisão é imenso, quase a totalidade da sociedade, com efeitos coletivos que são exercidos sobre todas as classes e níveis sociais. Trata-se de uma transformação enorme e é esta a situação, na qual se encontra a moral coletiva, inquietante, porque o que se vê na televisão tem um efeito que se difunde amplamente, mas que, geralmente, dura pouco, o contrário do que ocorre com a influência da escrita e da leitura que são mais profundas, mais continuadas. Quando uma pessoa adere incondicionalmente a um determinado canal de televisão, isso é bastante grave, porque há um estreitamento do horizonte, uma manipulação consentida, fato este que tem um caráter moral inquietante e é algo muito grave. Há poucas pessoas que têm personalidade, que vivem a partir de si mesmas, que têm suas opiniões pessoais e que, portanto, não se deixam manipular e exercem sua liberdade. Mas, há muitas outras que permanecem em estado de passividade, aceitam tudo que recebem como se fosse a própria realidade, não a colocando em questão e deixam que sua vida seja orientada, configurada por esse tipo de influência. Nossa época não é imoral, mas de muita desorientação. As pessoas não sabem bem a que se ater, o que opinar, aceitam o que lhes é apresentado como verdadeiro, com certa apatia ou debilmente, mas, aceitam. Expomo-nos a graves erros ao julgarmos as pessoas, mas isso não quer dizer que não se possa julgar as coisas e as condutas. Há certas coisas que estão bem, outras mal, e isso se pode e se deve julgar. As pessoas acreditam que não se pode julgar nada e que tudo dá na mesma - e a isso tem sido chamado, às vezes, de liberdade. Liberdade não significa o que me dá na telha, o que alguém me diz, ou o que alguém me ordena. Liberdade é o que alguém pode querer pessoalmente e muitas outras podem até não querer, no entanto, ele o faz porque considera como correto .
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