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Pesquisa: princípio científico e educativo
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PESQUISA Princípio Científico e Educativo
Não deve haver separação entre ensino e pesquisa. Antagonismo entre professor que apenas ensina (que não pesquisa) e pesquisadores exclusivos (que não ensinam). Desmitificar a pesquisa significa também o reconhecimento da sua imissão natural na prática. Quem ensina precisa pesquisar; quem pesquisa precisa ensinar. Pesquisa não é só busca de conhecimento, mas atitude política. Compreendida como capacidade de elaboração própria, a pesquisa condensa-se numa multiplicidade de horizontes no contexto científico e deve aparecer em todo o trajeto educativo Ao lado da preocupação empírica, deve haver preocupação teórica. A teoria faz parte de qualquer projeto de captação da realidade, a começar pelo desafio de definir o que seja real.. Teoria e prática detêm a mesma relevância cientifica e constituem no fundo um todo só.
Torna-se fatal a distinção entre ciência pura e aplicada, entre teoria e prática, por questão de método. Problema do cientista é somente saber, estudar, analisar, não intervir, mudar, questionar. A capacidade de questionamento da pesquisa, não admite resultados definitivos, e estabelece a provisoriedade metódica como fonte principal da renovação cientifica. A pesquisa também pode ser vista no contexto dos interesses sociais. O confronto histórico-estrutural de interesses é que perfaz o ambiente típico da comunicação e do dialogo. Estes se tornam necessários e inevitáveis, não por harmonia funcional, mas por sobrevivência. Existe a raiz política da pesquisa, que a coloca a serviço do poder, podendo informar para desinformar, inventar dados para denegrir, conhecer, matar. A pesquisa tecnológica, que atua como estratégia de acumulação de capital, supera já a fonte da mais-valia. Portanto, valorizar a pesquisa é em primeiro lugar questiona-la. Cabe afirmar que, como princípio científico, a pesquisa instrumenta qualquer interesse político, principalmente quando se pinta de neutra. O que faz da aprendizagem algo criativo é a pesquisa, porque a submete ao teste, à duvida, ao desafio, desfazendo tendência reprodutiva. Professor é aquele que ensina, baseado em seus conhecimentos adquiridos com pesquisas, e não somente com graduação. Se a pesquisa é a razão do ensino, o ensino é a razão da pesquisa. Reduzir o ensino à aula é reduzir a aprendizagem ao escutar. É necessário motivar o aluno a pesquisar, no sentido de fazer o seu próprio questionamento, para chegar à elaboração própria. As ciências sociais priorizam a teoria em detrimento da prática, no que tange ao currículo. É preocupante que as ciências sociais insistam no especialista em generalidades, produzindo o cientista, apenas bom de discussão e crítica. Um educador, pela sua formação, deve saber discutir ciência e seus caminhos de construção, para atingir a condição de elaborador de ciência. A prática deve aparecer como preocupação maior. O caminho para a verdadeira aprendizagem é a biblioteca, onde é preciso munir-se de leitura farta, para dominar posturas explicativas, entre elas escolher a mais aceitável e a partir desta elaborar uma própria. O segundo passo é iniciar a elaborar, fazendo tentativas aproximadas, até sentir-se seguro de um tema. O professor assume, então, o lugar de orientador e pesquisador. Para que o aluno se sinta capaz de trabalhar um tema, é necessário retomar o contexto do trabalho científico, comprovando as hipóteses. Primeiro concebe-se o que se quer mostrar; em seguida parte-se para a comprovação das suspeitas (hipóteses). Tanto se pode chegar a resultado positivo, como negativo, significando cada um igual interesse para a ciência. Ao se buscar os embasamentos teóricos para um trabalho científico, o aluno é que deve saber descobrir o que ler, quanto ler, como ler, para formar o seu próprio juízo. Sobretudo deve saber justificar quando e por que julga ter ?dado conta do tema?. A avaliação é necessária, tanto a avaliação do aluno quanto a avaliação de desempenho do professor. Ela pode conter o desafio da própria pesquisa, como realimentação do processo de produção cientifica, como respeito a compromissos assumidos com a sociedade em planos e políticas. A concepção e execução de um projeto emancipatório supõe a busca de auto-sustentação e de autogestão, algo econômico e político. Emancipação só existe como conquista, nunca como doação ou imposição. Não há como emancipar alguém se esse alguém não assumir o comando do processo. É claro a importância da educação e da pesquisa para o processo emancipatório. Apesar da consciência dos limites da educação, é preciso transformar, motivando o surgimento consciente do cidadão. A prova avalia a aprendizagem; não combina com a pesquisa. Decorar também não é necessariamente um mal, desde que utilizadas para traduzir domínios de instrumentalizações formais, como tabuadas, tabelas, e outros, se compreendida a lógica interna do que se decorou. Refletindo sobre a pratica de pesquisas e educação, nota-se que a prática não se restringe à aplicação da teoria. A aplicação da teoria ressalta o lado da qualidade formal, no aprimoramento das condições instrumentais de exercício profissional. É indispensável ser um técnico competente, como é indispensável ser um cidadão atuante e organizado, trazendo para o bojo dessa cidadania a instrumentalização cientifica adequada. Por sua vez, toda prática deve estar relacionada com a formação acadêmica, contextualizada pela teoria e pela pesquisa/ensino/extensão. A relação professor/aluno é questão vital na elaboração de um currículo. O profissional da educação deve ser capaz de construir um projeto próprio, educativo e assistencial, competente cientificamente e participativo politicamente, abrangendo o conceito de pesquisa em seu compromisso de atuar.
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2000
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