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"A Moral da Ambiguidade"
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Simone de Beauvoir fala basicamente de uma única moral aceita no existencialismo (sendo esta a moral da ambigüidade) e de seus desdobramentos no contexto do homem e sua existência, considerando também a sua liberdade. A ambigüidade é entendida como o próprio paradoxo da existência humana; é o ponto indefinido onde a humanidade reside, sem qualquer certeza ou fundamento elementar e inquestionável. Tal ponto indefinido está inserido entre as possibilidades opostas e ambíguas. Seja no intermédio entre o passado e o futuro ou entre a morte e a vida, a humanidade se depara com a falta de certezas acerca de sua existência. Por este motivo, não existe natureza humana definida e admite-se a existência como fator naturalmente ambíguo. A título de ilustração, o texto também traduz a ambigüidade no fato de que, mesmo sentindo-se plenamente racional, a humanidade vivencia ?mais vivamente que nunca o paradoxo de sua condição?. Tal condição é a ambiguidade que se faz presente diante da certeza da morte, do embate entre o deslocamento existencial do indivíduo (que é único e ao mesmo tempo mera soma no corpo coletivo) e da não intervenção divina na existência humana. Somados a estes elementos, há o dado primordial de que o poder da racionalidade hipoteticamente construtiva, dominadora e fundante, sofre o abalo de não se safar da ambigüidade, considerando assim mesmo todo o poder de alcance que esta possui. Prova disso, é a defesa filosófica e conceitual de aspectos da realidade, que na verdade, não podem ser decifrados por serem ambíguos. Desta forma, algumas doutrinas filosóficas e pensadores buscaram resoluções e pretenderam reduções inadmissíveis. São estas reflexões pouco prováveis ou inadmissíveis, considerando que a condição da humanidade e sua existência não são passíveis de definições e conceitos exatos. A humanidade não consegue escapar de sua condição original: a ambigüidade, sendo a única circunstância vigente da realidade. É verdade que tem-se a morte como certeza e a liberdade como característica fundamental associada à humanidade, mas todas as considerações se inclinam à esta condição enigmática e complexa. De Beauvoir explicita que temo que ?assumir nossa fundamental ambiguidade? e que ?é preciso extrair a força de viver e as razões de agir do conhecimento das condições autênticas da nossa vida?. Essa declaração sugere-nos a indicação de ?existência autêntica?, utilizando-se da liberdade originária como ferramenta capaz de obedecer a este intuito, ainda que haja obstáculos e a obscuridade do estado ambíguo e paradoxal do existir. Sendo livre, a humanidade há de converter sua liberdade em uma intenção emancipatória a respeito da existência. Não se trata de fugir desta, mas de admiti-la a despeito de quaisquer dificuldades e de seus empecilhos naturais e dolorosos. Embora possa ser convertida e ?salva? na constatação do desespero natural da existência inapta à conclusões, a liberdade pode ser afastada de sua função emancipadora pela própria humanidade. Daí, há a recusa da própria existência e seus desafios, a fuga da responsabilidade de tomar o controle da vida (Sartre irá chamar esta atitude de ?má-fé?), a busca por subterfúgios que permitam à existência anular-se. Tratam-se apenas de escolhas. Novamente, a autora retoma seus apontamentos diante uma bifurcação: a vida ou a fuga desta. A humanidade ?pode-se hesitar em fazer-se carência de ser, recuar diante da existência; ou então afirmar-se como nada; pode-se realizar sua liberdade apenas como independência abstrata ou, ao contrário, recusar com desespero a distância que nos separa do ser? (p. 27).
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