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A ÉTICA NO PÓS-MODERNISMO
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A ÉTICA NO PÓS- MODERNISMO
Raúl Kerbs (Ph.D pela Universidad de Córdoba)
O Modernismo dominou o pensamento ocidental durante os últimos séculos e privou a moralidade de sua estrutura religiosa. ?Fora com Deus? era seu grito de guerra. Formulava um mundo sem restrições, constrangimentos, tradições e religião mas mantendo valores como trabalho, economia, e o benefício em longo prazo. Seu subjetivismo destruiu a necessidade de objetivismo, o que produziu quase um estado de ilegalidade na história. Produziu uma moralidade hedonista, jocosa, que visava apenas o presente. Levantou uma resistência contra limites à liberdade e à realização individual. A nova moralidade está no cerne da ética pós-moderna. Na base da ética pós-moderna jaz uma crise de autoridade que envolve família, escola, igreja, estado, justiça, polícia. Preocupou-se em organizar uma sociedade racional e progressista que idolatra a juventude com seus caprichos e fantasia, além de consumista em que o ?ser? consiste em comprar, consumir, usar e desperdiçar. Uma identidade marcada pela ausência de ideologias ou amor pela verdade. Em contraste com a ética de trabalho e economia individual, o pós-modernismo estabelece o individualismo, a desvalorização de causas caritativas e a indiferença em relação ao bem público. O irracional é legitimado pelas afeições, intuições, sentimentos, sensualidade e criatividade. Tudo isso tem lugar na conjuntura de um axioma respeitado por quase todos: minimizar a austeridade e maximizar o desejo, minimizar a disciplina e maximizar a tolerância. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação e informação formam a opinião pública, prescrevem normas de consumo e comportamento, dão interpretação religiosa e ética, valorizando o que parece real acima dos conceitos de bem e mal. Paradoxalmente, tudo ocorre em meio à crise de comunicação. As pessoas querem ser ouvidas, mas não querem ouvir, querem comunicação sem compromisso através de hot lines, e-mails e chats. Aqui cabe a seguinte preocupação: que forma assume a moralidade no contexto epistemológico e sócio-cultural do pós-modernismo? Segundo lipovetsky, com o dealbar do pós-modernismo (meados do século XX), surgiu uma época de pós-dever que renega a ética e despreza valores como o serviço em prol de outrem e a abnegação. Mas a sociedade pós- modernista não exclui a legislação repressiva e eficaz. Não propõe um caos moral, mas sim um compromisso fraco que não interfira na liberdade individual. É uma nova moralidade onde tudo é permitido, menos o dever incondicional e o sacrifício. Tal procedimento resulta numa moralidade ambígua. De um lado temos um individualismo sem regras. De outro, um espírito hiper-moralista que defende a ecologia, combate as drogas, o fumo, a pornografia e a discriminação. Institui tribunais éticos, marchas silenciosas, proteção às crianças, socorro a refugiados, assistência aos pobres, etc. Essa moralidade neo-hedonista se traduz em exigências de direções opostas. De um lado, temos normas: comer de modo saudável, valorizar o espiritual, envolver-se em esportes, controlar o comportamento violento, etc. De outro, encontramos a promoção do prazer sem responsabilidade moral, o consumismo e a valorização do corporal em detrimento do espiritual que resulta em depressão, vacuidade, violência, cinismo, etc. O pós-modernismo produz seu próprio código de consciência: Não devo ser discriminatório porque preciso ter visão aberta;Devo doar dinheiro a causas beneficentes porque fico irritado ao ver crianças famintas;Devo interessar-me em algum tipo de religião porque isso poderia energizar-me;Devo mostrar preocupação com causas sérias de modo a não parecer um materialista ordinário e imitador, etc. Poderíamos até dizer que a ética pós-modernista não é inteiramente má. Há contribuições positivas para os problemas que ameaçam a humanidade. Ademais, o pós-modernismo põe em relevo os fracassos éticos, teóricos e práticos do passado. Mas a ética pós-modernista não tem motivação moral: ela continua individualista. Quer apenas combater os excessos do mal, mas não eliminar a causa. Quer alcançar a autonomia egocêntrica contra a qual a descrição bíblica do pecado tanto adverte. Como pode um sistema moral lutar contra o mal se o seu fundamento é a promoção do eu, o qual é, biblicamente, a fonte do mal? Tudo isso ignora o que está por trás da busca pela felicidade: eliminar colisões antiéticas. Sua ética argumenta que é tempo de escolher um alvo inferior e aceitar as pessoas como elas são. Essa atitude resignatória entende que o cristianismo foi aplicado e falhou e que, portanto, para nada contribuiu. Incrível, pois a máxima do pós-modernismo afirma que não há verdade absoluta, mas defende a idéia de que a moralidade tradicional não pôde melhorar o ser humano e que deveríamos resignar-nos diante disso. Quem pode saber se isso é verdadeiro? Parece que o pós-modernismo conhece, com certeza, algo sobre a natureza humana e sobre o futuro que ele nega a todas as ideologias e religiões do passado. É por isso que consideramos que ele apresenta uma postura cínica, afirmando (implicitamente) de um lado o que nega (explicitamente) do outro.
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