|
|
Página Principal : Filosofia
Vida Comum e Ceticismo (Saber Comum e Ceticismo)
Publicidade
A proposta de Prochat, em parte, volta-se para uma questão, o papel da filosofia de Descartes na incorporação de uma atitude cética, que remonta os gregos antigos, na filosofia ocidental moderna e contemporânea e as possíveis implicações, numa visão comum do Mundo, desta mesma incorporação. Porém, antes de entrarmos diretamente nesse ponto, melhor seguirmos alguns passos ao longo do texto: entender os princípios da atitude cética perante o mundo, apresentada nas Hipotiposes Pirrônicas de Sexto Empírico; como Descartes, influenciado pela crise cética da Renascença, faz uma releitura da argumentação pirrônica; as conseqüências desta releitura na tradição filosófica pós-cartesiana; e por fim, como um adepto da visão comum do Mundo deve se posicionar diante de tal situação. Nosso autor, antes de fazer um esclarecimento das bases do ceticismo pirrônico, apresenta-nos um personagem, que assume e refleti algumas de suas posições. Este personagem diz ter abandonado a filosofia e passa a viver a vida comum dos homens, rejeitando as especulações filosóficas e adotando as práticas cotidianas de um saber comum do Mundo. Apesar da disposição do personagem em abandonar a filosofia, conclui que a tarefa não é tão fácil.. É a partir deste ponto que o autor desenvolve sua argumentação, de que há na filosofia pós-cartesiana um traço fortemente cético, pois ?...é essa contestação filosófica do Saber humano e comum do Mundo que define essencialmente o ceticismo. Assim, de fato, ele se definiu historicamente, desde a Grécia antiga...?. A filosofia cética não se opõe somente ao dogmatismo filosófico, mas sobre qualquer juízo com pretensão de verdade. Em resumo, o que se busca é uma suspensão do juízo generalizada, não havendo espaço para asserções dogmáticas. Esta suspensão do juízo (epoché) consegue-se através da oposição a qualquer discurso um discurso com a mesma força persuasiva, evidenciando a eqüipolência quanto à credibilidade. Nenhum argumento é mais digno de ser crível do que outro. Para isto, existe um extenso número de figuras e tropos formulados por gerações de pensadores céticos. Das muitas formas que podem nos induzir à suspensão do juízo, destacam-se o tropo da discordância (diaphonía), que trata do conflito e discrepância entre inúmeros assuntos, incluindo aí também os de ordem comum e filosófica; e o tropo da hipótese (ex hypothéseos), onde nos é proibido assumir algo como ponto de partida sem que antes haja uma demonstração. Retomando sua reflexão a partir daquele mesmo personagem, conclui: ?Não creio possível viver sem conhecer, nem dizer sem assertar. A mera observância ?adoxástica? das necessidades da vida aparecem-me como uma aberração patológica. Nem me parece aceitável crer, fingindo-se que se não crê; assertar, fingindo-se que se não asserta. A adoxia cética tem para mim o sabor de uma ficção?.O ceticismo aproxima a filosofia do saber comum, pois assim é possível uma suspensão do juízo generalizada, uma epoché que não é restrita ao discurso filosófico. Tenta mostrar que os recentes estudos historiográficos evidenciam um papel muito importante do ceticismo renascentista na construção da filosofia moderna. Toda a tradição filosófica pós-cartesiana não ficará imune à penetração cética iniciada na renascença. O ceticismo, por via da filosofia cartesiana, se propagará até os nossos dias, mesmo que isso ocorra de forma implícita e inconsciente. A maioria dos filósofos modernos e contemporâneos não encara seriamente a realidade do Mundo cotidiano, não reconhecem como digno de interesse filosófico um Saber humano e comum do Mundo, não é digno de qualificação teórica. O filósofo vive a vida comum ?adoxasticamente?. É feito do discurso comum do Mundo um uso cético, mesmo que isso não seja evidente. A postura cético-cartesiana é dominante nos nossos tempos.
Veja mais em: Filosofia
Artigos Relacionados
- Filosofia
- Descartes. In: O Mundo De Sofia
- Pergunte A Platão
- Pode O Ceticismo Ser Fundamentalista?
- Filosofia
- A Atitude FilosÓfica E O MÉtodo Dialogal De PlatÃo
- Algumas Aproximações Entre Descartes E Platão (2)
|
|
|
| |