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Confissões de um Santo Agostinho
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Quando não me perguntam o que é o tempo, eu o sei; mas se perguntam, não o sei! Santo Agostinho, Confissões, Livro X. Uma característica universal do envelhecimento humano é a percepção do escoar do tempo a velocidades cada vez maiores. Quanto mais vetusta a nossa idade, mais formulamos queixas do tipo: A semana passou e nem vi !, O mês já está acabando !...Ou... o ano começou ontem e já é novembro !... Uma reflexão apressada nos leva a creditar a fugacidade dos dias ao declínio das forças envolvidas: a fraca retenção da memória, o menor grau de atenção ao fluxo das horas; genericamente falando, ao declínio da vivacidade, do nosso envolvimento com as coisas ordinárias da vida. Mas pode não ser esta a verdadeira explicação. A intuição do tempo vivido, qualquer que seja o período, é cumulativa; intensa mais do que extensa, o que faz com que nossa vida inteira esteja sempre presente em qualquer intervalo considerado. Quando, assim, consideramos o transcorrer de um intervalo de tempo qualquer, seja dias, semanas ou anos, é dentro de um caldeirão ? onde se encontra a totalidade de nossas experiências ? que o retiramos para avaliar o sabor, isto é, a velocidade do intervalo transcorrido que lhe confere o valor fugaz, insípido, ou, ao contrário, marcante, duradouro, substancial... Quanto mais água na panela, quanto mais idade possuímos, menor será a proporção que esse intervalo representa em nossa vida. Por outro lado, quanto menos anos de vida temos, maior será o que certo intervalo corrente, proporcionalmente falando, representa e mais lenta será a velocidade em que ele aparenta ser transcorrido ? e vice-versa! As tardes da infância pareciam imensas, vagarosas, pela grande proporção que uma tarde representava naquela época de calças curtas; já a noite de um idoso não passa de um piscar de olhos na escuridão quase infinita de suas noites acumuladas! Assim como precisamos de um corpo imóvel como referência para ter a sensação de movimento (por isso que não nos sentimos mover dentro de um elevador); a sensação da passagem do tempo possui, na totalidade da experiência vivida, o seu único critério de comparação. Quando cruzamos um caminhão-cegonha na estrada a 80km/h, ele aparenta ser duas vezes mais veloz do que uma motocicleta a 100km/h. Nesta, o vulto é toda a moto que passou, enquanto, no caso do caminhão, o vulto persiste por alguns segundos quando o móbil empresta ao movimento sua extensão. Uma boiada passando em uma porteira é vertiginoso, um boi solitário é entediante! Quanto mais larga uma vida, mais rápida a bola de neve desce pelas montanhas! o O Tempo é um só, mas a sua aparente velocidade, muito se deve ao tamanho do ponteiro. Na música também observamos fenômenos semelhantes: Giaccocino Rossini pôe a cavalaria rusticana no final da abertura em Guilherme Tell ( Se a pusesse no início, teria a celeridade de uma tropa de mulas). Antes de ser um capricho da nossa natureza, essa variação da velocidade do tempo que sentimos passar obedece as mesmas leis da ótica nos fenômenos chamados de paralaxe. Neles, a percepção da velocidade de um corpo varia em decorrência de comparações feitas com outros corpos envolvidos como, por exemplo, o movimento retrógrado e aparente de certos astros, as árvores que correm na beira da estrada ou as casas que fogem rápidas e depois desaceleram no quadro móvel de uma vidraça do carro. Em outro apontamento sobre Bergson e Proust, acessível no link abaixo, abordamos um exemplo desse fenômeno do paralaxe na obra do grande escritor Marcel Proust. Evito retomá-lo aqui para não descambar para o ensaio científico o que pretendia ser uma elegia à clepsidra das horas! http://pt.shvoong.com/books/383706-h-bergson-m-proust/
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