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Para cada um, um lugar no tempo
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Tempo. Adão. Emanuel. Tres únicas palavras. Dessas três fluirão milhões de palavras que sustentarão toda a história. Deus segura sua pena e traça a primeira: T-e-m-p-o. O tempo não existiu até que Ele escrevesse. Ele, em si, é atemporal. Mas suahistória ficaria fechada no tempo. A história teria o primeiro nascer do sol, o primeiro movimento da areia. Um começo... e um fim. Um capítulo final! E Ele o conhece antes de escreve-lo. Tempo. Um passo na trilha da eternidade. Devagar, com ternura, o Autor escreve a segunda palavra. Um nome. A-d-ã-o (você é esse Adão). Enquanto escreve, vê o primeiro Adão. Depois vê todos os outros. Em milhares de eras, em milhares de terras, o Autor os vê. Cada Adão. Cada filho. Instantaneamente amados. Permanentemente amados. Para cada um. designa um tempo. Para cada um, indica um lugar. Nenhum acidente. Nenhuma coincidência. Apenas desígnio. O Autor faz uma promessa a esses não nascidos: À minha imagem, fá-los-ei. Vocês serão como eu. Vão rir. Vão criar. Não morrerão, nunca. E ainda escreverão. Cada vida é um livro, não para ser lido, mas, antes, uma história que deve ser escrita. O Autor inicia a história de cada vida, mas cada vida escreverá seu final. Que liberdade perigosa. Seria muito mais seguro terminar a história de cada Adão. Registrar cada escolha, seria mais simples. Seria mais seguro. Mas não seria amor. Amor só é amor quando há opção. Assim, o Autor decide dar uma pena para cada filho. "Escreva com cuidado, sussurra". Carinhosamente, deliberadamente, escreve a terceira palavra, sentindo já a dor. E-m-a-n-u-e-l. A maior mente do universo imaginou o tempo. O mais capaz dos juizes garantiu uma escolha a Adão. Mas foi o amor que concedeu o Emanuel, o Deus conosco. O Autor entraria em sua própria história. A palavra tornar-se-ia carne. Ele também nasceria, ele também seria humano, ele também teria mãos e pés, ele também teria lágrimas e provações. E, o mais importante, Ele também teria uma escolha. Emanuel postar-se-ia nas encruzilhadas da vida e da morte, e escolheria. O Autor conhece bem o peso dessa decisão. Faz uma pausa ao escrever a página de seu próprio sofrimento. Podia parar. Mesmo o Autor tem escolha. Mas como não criar, sendo Criador? Mas como não escrever, sendo Escritor? Como não amar, sendo Amor? Assim escolhe a vida, embora signifique morte, na esperança de que seus filhos façam o mesmo. E desse modo o Autor da vida completa a história. Ele encrava a lança na carne. E rola a pedra sobre o túmulo. Conhecendo a escolha que fará, conhecendo a escolha que todos os Adões farão, escreve "Fim", então fecha o livro e proclama o início.
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