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Os Descobrimentos e a Problemática cultural do Século XVI


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A eficácia da investigação científica depende, no conceito de D. João de Castro, de três condições: observação e experiência continuada; combinação da teoria com a prática; associação da crítica e do cálculo ao empirismo. As viagens de D. João de Castro a caminho da Índia e nos mares do Oriente tiveram proporções de missão científica no campo da oceanografia e da arte de navegar. As suas notações e observações sistemáticas correspondem tanto às curiosidades de um espírito indagador como às necessidades da técnica e às interrogações da ciência em Portugal.

A crítica da ciência antiga no que respeita à astronomia e à mecânica, avançara bastante desde os fins do século XV. E é mais com a sua tradição do que propriamente com a experiência dos Descobrimentos, que se relacionam as concepções de Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico, Tycho Brahe e Galileu. A origem da ciência experimental situa-se na conquista decisiva do espírito crítico pelo espírito humano.

Os ? naturalistas? portugueses do século XVI chegaram, pela via da prática, a conclusões análogas às que os sábios de Além-Pirinéus formularam à luz de uma análise teorética, apoiada ou não por experiências e observações. Valorizava-se então o conhecimento positivo e os processos positivos de investigação.

A teoria do conhecimento científico e o juízo de valor cultural figuram em Duarte Pacheco, D. João de Castro, Amato Lusitano, Garcia da Orta, etc., sob as espécies de precipitados doutrinais de um longo uso da observação e da experiência. A toeira e a praxe andaram de mãos dadas, frequentemente, ao serviço da técnica, na náutica portuguesa dos séculos XV e XVI.

A mudança de perspectiva que levaria à revolução científica dos séculos XVI e XVII, geralmente atribuída à ruptura do humanismo com a escolástica, prende-se também com o papel de certos reflexos psíquicos e culturais das navegações ibéricas nessa viragem decisiva do espírito humano.

A essência da nova óptica intelectual resume-se nos seguintes pontos: investigação da causalidade física em vez de investigação das causas metafísicas, observação em vez de disputa, relação em vez de juízo de ser ou de substância, estudo do fenómeno em vez do estudo da coisa em si. Estes pressupostos foram indissociáveis da seiva que brotava da própria acção de portugueses e espanhóis nos mares.

Com os Descobrimentos, volatilizaram-se muitas das certezas tradicionais da ciência graças à prática, e tudo à margem das escolas e das autoridades culturais. A atitude de ruptura só se catalisou com a chegada de Cristóvão Colombo à ilha de Cuba, e a de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.

Diluíram-se, assim, as fronteiras multisseculares do mundo, e o homem passou a intuir-se como cidadão de um orbe imenso no espaço e com recursos de acção e fruição inesgotáveis. 


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