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Prefácio à tradução brasileira de Omeros: uma "outrização" positiva
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É em um campo minado de desconfianças e suspensões, demarcado pelo pós-estruturalismo francês de matiz foucaultiano, em particular, e pela própria natureza plural de nosso Zeitgeist, de um modo geral, que aqui se dá o encontro da Análise do Discurso com a poesia de Derek Walcott, que se insere em um ambiente discursivo pós-colonial<1>. Ou melhor, que se dá a tentativa de análise do "discurso Derek Walcott" como entrevisto por seu tradutor e prefaciador para o Brasil, Paulo Vizioli, através das concepções teóricas de Sara Mills e Eni Orlandi, que formam o dispositivo central de interpretação.
Dentro dessa perspectiva de suspeição, é importante ressaltar que o subtítulo - "uma Outrização Positiva" - pode dar a impressão de que há uma dicotomia simples com uma implícita "Outrização Negativa", o que tem fundamento, de um modo geral; seria a revanche ou a redenção dos ?outrizados? (colonizados e oprimidos) no contexto do discurso pós-colonial, em um momento em que as ?periferias? estariam reescrevendo a história. Entretanto, sabe-se que as circunstâncias discursivas nunca estão assim tão bem delimitadas (como se sabe também que títulos e subtítulos às vezes funcionam como ?iscas? para eventuais leitores). Por isso, alio-me a Sara Mills (1994: 128-9), quando ela afirma que, dentro das atuais análises de discurso, não se crê mais em apenas um significado dominante, mas que os ?textos? funcionam como uma arena onde vários sentidos jogam e resistem entre si. Pode-se, então, pensar em "outrizações".<2>
Mas o que é um prefácio? Praefatio: o que se diz no princípio. Advertência, introdução, apresentação, prefação, preâmbulo, prólogo etc. (HOLANDA, 1986). É um texto. E é um texto não apenas por sua extensão delimitadora, mas porque, ao ser referido à discursividade, constitui uma unidade em relação à situação e significa (ORLANDI, 2001: 69). É discurso colocado no simbólico. É, de fato, uma ?posição? tanto física quanto funcional: antecede e faz apologia. Alguém já viu um prefácio que diminua uma obra para a qual serve de apresentação? No máximo, algumas ressalvas diplomáticas. É dessa posição muito marcada (e marcante) que se pode ?ler? Paulo Vizioli, ou melhor, compreender sua participação nesse contexto discursivo-histórico dos prefácios. Deve-se atentar para o fato de que ele está, naturalmente, apresentando também a si mesmo como tradutor (re-criador) de Omeros, bem como está dando visibilidade às circunstâncias discursivas de uma literatura ?pós-colonial?.
Assim, o arquivo-texto analisado aqui é daquele tipo que funciona como instância de autorização, de comunhão, de referendo e de apresentação simpática. Interessa-me estudar como se opera a construção discursiva da recepção de Omeros (obra que culminou na outorga do Prêmio Nobel de Literatura para Derek Walcott, em 1992) no Brasil, especificamente através do prefácio de Paulo Vizioli à sua tradução brasileira, pela Companhia das Letras, problematizando e/ou evidenciando a posição de enunciação do prefaciador, seus "gestos de enunciação" (ORLANDI, 2001: 26), bem como as imagens e construções discursivas que ele tenta instituir ou legitimar. Por outro lado, não perco de vista o fato de que estarei sob leitura também, suscetível aos mesmos crivos de análise futura, a partir do meu próprio local de enunciação: a ?posfacialidade? de toda crítica.
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