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Página Principal : Teoria e Crítica
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As primeiras edições do Pasquim - semanário que revolucionou a linguagem jornalística no Brasil, tornando-se um ícone da imprensa alternativa - começam a circular em meados de 1969. Não por acaso, alguns meses depois de ser decretado o AI-5 (Ato Institucional nº 5), excrescência legal que "institucionaliza", de fato, a censura. Reinstaura e consolida definitivamente a ditadura, imposta ao país em 1964 por longos vinte anos. O jornal nasce como frente de resistência e combate ao regime - com as armas do humor e da crítica - e veículo das ideias de democracia e liberdade. Luiz Carlos Maciel - graduado em Filosofia pela UFRGS, dramaturgo e roteirista - foi um dos seus criadores e editores. Escreveu por longo tempo, em duas páginas, a coluna intitulada Underground. Pela qual ficou conhecido como "o guru da Contracultura" no Brasil, produzindo também uma significativa bibliografia sobre o tema. Publicado em 1981, Negócio Seguinte: faz uma colagem (técnica do cubismo, futurismo e surrealismo, movimentos caros à formação do autor), abrangente e rica, de seus próprios textos. Artigos, notas e entrevistas extraídos do jornal - tratando de temas como o existencialismo, política, repressão, filosofia oriental - associados a crônicas que atualizam seu pensamento nos doze anos transcorridos. Compostos de forma alternada, na busca de uma produção de sentido para a repercussão dessas ideias e posturas entre nós, ao longo da década de setenta. Caberia destacar uma série de três artigos, intitulados irônicamente "A Esquerda Pornográfica", epíteto atribuído pela mídia conservadora aos teóricos da Revolução Sexual. Marshall McLuhan, e seus estudos sobre os meios eletrônicos de comunicação de massa. A televisão, específicamente, mas cuja validade pode ser estendida também à internet - a mídia por excelência da aldeia global - o que o torna extremamente atual. Herbert Marcuse, e o seu conceito de dessublimação repressiva: a sociedade excita o instinto para adoecê-lo. E Wilhelm Reich, com a sua tese da neurose como uma doença social, coletiva, e não individual. Em seu tempo, Reich foi submetido à pressões e a uma perseguição implacável, pela sua militância. Assim como o próprio Maciel, que foi preso junto com colegas do Pasquim, a pretexto da publicação destas e outras matérias, fatos que relata no livro. A ironia está em que Marcuse e Reich foram, na verdade, críticos agudos da pornografia, ao contrário de defensores. A propósito, há uma interessante e breve análise destes artigos, disponível para acesso na web: "A Esquerda Freudiana & a Contracultura Brasileira", de Patrícia Marcondes de Barros. Numa verve crítica e bem humorada, permeada de lirismo e leveza, encontramos toques sobre os hippies, rock'n'roll, psicodelismo, teatro de vanguarda, beat generation, etc. Entrevistas com Novos Baianos e Julian Beck (do Living Theater), e Caetano Veloso, numa visita ao Brasil em meio ao seu exílio em Londres. Papos surrealistas entre Tarso de Castro, Glauber Rocha e Maciel - reverberando insights de uma clarividência surpreendente. Encerrando com o programa político de um partido imaginário, num tom quase simbólico. Mas pleno de significado, nestes tempos em que o cidadão se vê cada vez menos representado pelos partidos oficialmente instituídos. Um caleidoscópio de dados, informações e conjecturas filosóficas, formando uma unidade e fazendo uma síntese do sonho humano de liberdade, que nunca acaba - e um recorte do seu devir na História. Inspiradora de uma reflexão sobre a possibilidade da sua superação dialética para um estágio mais evoluído. Sonho sobre o qual - nas palavras de Cecília Meireles - se não há ninguém que explique, também não há quem não entenda.
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