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A Religião das Máquinas


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Para alguns pensadores  - ou mesmo para o homem comum, através da mera observação dos fatos - não é difícil perceber que a chamada Pós-Modernidade pode ser entendida, na verdade, como uma pré-modernidade. Na acepção literal do termo,  pois implica num retorno aos paradigmas do período histórico que precede imediatamente a Era Moderna: o feudalismo medieval.

Haja vista a distribuição dos espaços urbanos e sociais em feudos: conglomerados como os condomínios fechados e shopping-centers; a repartição do poder em territórios, nas periferias e favelas, pela anomia do Estado; o estabelecimento de vínculos, na convivência social, em agrupamentos fechados (as tribos e corporações), baseados em relações de vassalagem,  determinadas pelo prestígio pessoal, trocas de favores, etc. - num predomínio crescente do privado sobre o público. Ou seja, a negação da res publica, e da cidade (a polis) como espaço privilegiado do exercício mesmo da cidadania.

Mais recentemente aparece o fenômeno do chamado feudalismo informacional: a reação, pelos grandes conglomerados empresariais, contra a liberdade de compartilhamento, cópia e reuso das ideias que circulam no ciberespaço, visando uma ampliação dos direitos de propriedade e direitos de autor, para sua apropriação e privatização.

No entanto, na coleção de breves ensaios sobre a Cibercultura, objeto deste resumo - que no seu conjunto forma um arçabouço teórico coeso e substancial -  o autor, Erick Felinto, vai mais além. Revela que as representações derivadas do impacto da tecnologia no imaginário pós-moderno remetem a um passado ainda mais remoto, na antiguidade. Fantasias arcaicas, anseios primitivos, crenças mitológicas e explicações místicas, identificadas com o hermetismo e a gnose, caracterizando o culto da tecnologia como uma nova religiosidade. Parte de uma interessante análise do filme Matrix, produto típico da indústria cultural que incorpora elementos desse imaginário: inúmeras referências - filosóficas, religiosas, literárias, e da cultura de massas -  dialogam, para encenar uma bem construída alegoria dessa convergência entre ciência e espiritualidade.

Felinto chama a atenção para o fato de que não só o senso comum, mas também a produção teórica e crítica se utilizam das metáforas da science fiction, e das analogias mitológicas, para tentar compreender e conceituar os fenômenos da tecnocultura.  Tais como infovia, cidade celestial, e o próprio conceito de ciberespaço (Neuromancer - Willian Gibson, 1984). E faz um bem sucedido esforço de investigação da noção de imaginário tecnológico, e suas possíveis implicações e significados no nosso tempo - a sociedade pós-industrial.

Um texto denso, mas profundamente revelador para quem se disponha a enfrentar o percurso, por vêzes árido, da sua erudição acadêmica. Em que o autor procura advertir para o perigo de que uma adesão quase religiosa ao culto da tecnologia possa nos conduzir a algum tipo de totalitarismo. E dá pistas de como uma postura crítica, ao contrário, pode apontar para um horizonte realmente novo - a comunidade de homens e mulheres livres, próximos, autônomos e interativos, em que as tecnologias da inteligência se constituem potencialmente.


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