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Vestígios de Ruptura em Augusto dos Anjos
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Neste resumo pretendo discutir os vestígios de ruptura da tradição na temática do poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos ( Augusto dos Anjos) nascido em Pau d?Arco, em 1884 e falecido em Leopoldina, MG, em 1914.O marco de sua estréia na literatura deu-se em 1912, com uma única obra intitulada ?Eu?, composta por 58 poemas, distribuídos em 131 páginas impressas pela Princeps da Guanabara, sendo custeada pelo seu irmão Odilon dos Anjos. Todavia, segundo Junqueira (1993) sem a preservação do antigo seria impossível qualquer emergência do novo, que, nesse ponto seria a atualização temática marcada pela contemporaneidade do poeta. O estranho é o título monossilábico de primeira pessoa do singular, provocante, enchendo toda a capa, escrito em vermelho, tendo acima o nome do poeta e abaixo o da capital da república. Seguida de data ligado por travessão num tom encarnado, como se estivessem todos sangrando: Augusto dos Anjos, Rio de Janeiro e o ano de 1912. (MONTGOMERY, 1988, p.55)
Augusto dos Anjos é o poeta remanescente da segunda metade do século XIX e do início do século XX, marcado pelas grandes transformações, principalmente a da ciência, cuja influencia recebeu da vanguarda do Expressionismo alemão. A ruptura da tradição da poesia ocorreu nesses entrementes por um elenco de poetas, qual iniciou e deu seguimento à demolição do discurso do eu-lírico, entoando uma nova maneira de conceber o mundo de forma mais objetiva, opondo-se, por exemplo, das extravagâncias do subjetivismo acentuado dos românticos. Augusto dos Anjos tendo por base o expressionismo alemão e algumas características formais do simbolismo e do parnasianismo, mas não de conteúdo, construirá a sua tradição ao lidar-se com essa ruptura. Esse sentido histórico, que é o sentido tanto do atemporal quanto do temporal e do atemporal e do temporal reunidos, é que torna um escritor tradicional. Em Augusto dos Anjos temos a ?afirmação de algo diferente?, o poeta que traz em sua modernidade um expressionismo ?sui generis?, que antecipa algumas das "descobertas", que rimam com a supremacia do mal e da morte. Na visão antitética de Sartre (1977), a sua angústia é a do homem isolado, reprimido e oprimido, em crise, enfermo que representa sua grande e profunda fissura ou fenda existencial, na qual está lançado, suspenso, frente à necessidade dialética da decisão e do salto; do prazer e da dor, da alegria e da tristeza, do ser, do não-ser, da vida e da morte, como ele mesmo diz, diante do homem psicologicamente vencido pela morte. Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. (ANJOS, In: ?Psicologia de um Vencido?, 1910, p.7.)
É meu objetivo verificar e alertar aos estudiosos que vale a pena estudar os vestígios de ruptura da tradição nas temáticas de Augusto dos Anjos, que, em primeiro plano, ele chama a atenção por se encontrar exímio de qualquer escola literária, sendo seu aforismo literário uma mistura entre romantismo com realismo, que deixa marcas profundas na transição entre parnasianismo, simbolismo e movimento modernista. Augusto dos Anjos é considerado, na medida do seu tempo, um poeta inovador devido ao seu modo de escrever, de suas idéias modernas e de sua temática diferenciada e marcada pela multiplicidade intelectual pautada nas descobertas científicas do século XIX, (qual viveu nesse século até os seus 17 anos), capaz de nos revelar uma inquietação da fragilidade humana e dos estreitos limites de sua existência, abrangendo a ciência, a arte, a psicologia, a história e a filosofia do cotidiano, causando choque aos leitores de sua época, qual, foi considerado por muitos, versificador da imoralidade e da violência.
Referência bibliográfica
JUNQUEIRA, Ivan. Modernismo: tradição e ruptura, in Poesia Sempre. ? Ano I, n.1 (jan.1993). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. Nacional do livro, 1993. pp.153-168.
PROENÇA, Ivan Cavalcanti. ?Imagens obsessivas em Augusto dos Anjos?. In ANJO, Augusto dos. Antologia Poética de Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d..
SARTRE, J-P. O ser e o nada. Ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução e notas de Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 1997.
SOARES, Órris. Elogio de Augusto dos Anjos. In: ANJOS, Augusto dos. Eu & Outras Poesias. 40.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995, pp.29-46.
MONTGOMERY, José de Vasconcelos. A poética carnavalizada de Augusto dos Anjos, Rio de Janeiro: Annablume, PUC, RJ., 1988. ANJOS, Augusto dos. Eu. Paraíba: Acervo Virtual, Biblioteca Nacional, 1910. 78p.
BARBOSA, Francisco de Assis. Notas biográficas. In: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 392. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993. pp. 47 a 72.
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