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A terceira cultura


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Uma educação baseada nas ideias de Marx e Freud e no modernismo, típica dos anos 50, já não constitui qualificação suficiente para um pensador dos anos 90.

Já em 1959, C. P. Snow (The Two Cultures) chamava a atenção sobre a distinção entre os intelectuais e os cientistas. Referia o autor que nos anos 30, os literatos, quase despercebidamente, começaram a referir-se a si próprios como ?os intelectuais?, como se não houvesse outros. Esta definição dos homens de letras excluiu cientistas como Edwin Hubble, John Von Neumann, Norbert Wiener, Einstein e Heisenberg. Os trabalhos dos cientistas foram durante muito tempo ignorados e desprezados pelos autoproclamados intelectuais.

Numa segunda edição do livro de Snow, em 1963, o autor aponta, de forma optimista, o surgimento de uma terceira cultura capaz de superar o fosso de comunicação entre os literatos e os cientistas. Mas para mim não existe comunicação entre os literatos e os cientistas. Os cientistas comunicam directamente com o grande público. O papel do intelectual inclui a comunicação. Os intelectuais não são apenas pessoas que sabem, mas pessoas que modelam o pensamento da sua geração. Estamos a assistir à passagem de testemunho de um grupo de pensadores, os intelectuais tradicionais, para outro grupo, os intelectuais da terceira cultura emergente.

O despertar da terceira cultura representa uma nova filosofia natural, fundamentada na compreensão da importância da complexidade, da evolução. Estamos perante um novo conjunto de metáforas que fornecem uma descrição de nós próprios, da nossa mente, do universo e de tudo o que conhecemos ? e são os intelectuais com estas novas ideias e imagens , os cientistas que estão a fazer descobertas e a escrever livros que comandam o nosso tempo.

JOHN BROCKMAN: (testemunho)

A terceira cultura assenta no trabalho experimental e nas especulações teóricas de cientistas e outros pensadores do mundo empírico que têm vindo a ocupar o espaço dos intelectuais tradicionais no esclarecimento do sentido mais profundo da vida, redefinindo quem somos e o que somos.?

MURRAY GELL-MANN: (testemunho)

Infelizmente, nas áreas da arte e das humanidades, e também na das ciência sociais, há pessoas que se orgulham de pouco saberem ciência, tecnologia ou matemática. O fenómeno inverso é muito raro.

Outro fala de usurpação dos meios intelectuais por parte dos literatos

STEVE JONES : (testemunho)

A questão actual é, como nos tempos de Snow, a de saber se existe uma cultura acessível a qualquer pessoa minimamente instruída. Como resposta, eu diria que, se não existe, deveria certamente existir. Quem não consegue falar em termos gerais sobre assuntos tanto científicos como não científicos não é civilizado.

ROGER SCHANK: (testemunho)

Acho deveras curioso que as pessoas ligadas ao mundo literário estejam convencidas de que quem não conhece os clássicos é inculto, enquanto acham normal não perceberem patavina de ciência. E não consigo compreender porque é que isso é normal.

Os trabalhos de São Tomás de Aquino, Aristóteles e Montaigne não vingariam nas universidades modernas, mas o que nos dizem é que se não os lermos não somos instruídos.


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