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Página Principal : Teoria e Crítica
O Processo Civilizacional
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O conceito de civilização refere-se ao estado de evolução da técnica, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento do conhecimento científico, a ideias e práticas religiosas. De uma maneira geral, não há nada que não se possa fazer de forma civilizada ou incivilizada. Mas esse conceito exprime a autoconsciência do Ocidente: a consciência nacional. Condensa tudo aquilo que em que a sociedade ocidental dos últimos dois ou três séculos crê suplantar as sociedades anteriores ou as sociedades contemporâneas mais primitivas. Mas em inglês e francês, o conceito expressa o orgulho pela importância do papel das respectivas nações no progresso do Ocidente e da Humanidade. Em alemão, a Zivilisation é um valor de segunda categoria, algo que abrange o lado exterior do homem e da superfície humana. A palavra pela qual o alemão exprime o seu orgulho por aquilo que faz e é pela qual se interpreta a si próprio, é Kultur. O conceito francês e inglês de civilização pode referir-se a factos políticos ou económicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O conceito alemão de cultura refere-se a factos espirituais, artísticos e religiosos, e tende a traçar uma nítida divisória entre factos dessa natureza, por um lado, e os factos políticos, económicos e sociais, por outro. Está implícito no conceito francês e inglês de civilização um certo tipo de comportamento e um certo tipo de valores, enquanto o conceito alemão de Kultur designa o valor e o carácter de determinados produtos humanos. Muito próxima do conceito ocidental de civilização está a palavra kultiviert (?educado?). Representa a forma mais elevada de ser civilizado e refere-se à forma como as pessoas se comportam ou conduzem. Designa uma qualidade social das pessoas, da sua habitação, do seu trato, da sua linguagem ou do seu vestuário, mas exclusivamente a determinadas realizações das pessoas. Civilização designa um processo ou o resultado de um processo. É algo que está continuamente em movimento, que avança permanentemente. O conceito alemão de cultura refere-se a produtos que existem ?flores nos campos?, a obras de arte, livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se manifesta a especificidade de um povo. O conceito de civilização acentua aquilo que é comum a todos os homens. Através dele se expressa a autoconsciência de povos cujas fronteiras nacionais e cuja especificidade nacional se pode dizer que não são postas em causa há séculos. O conceito alemão de cultura faz sobressair as diferenças nacionais, a especificidade dos grupos. Em contraste com a função do conceito de civilização de dar expressão a uma permanente tendência expansionista de nações e grupos colonizadores, no conceito de Kultur reflecte-se a autoconsciência de uma nação que constantemente teve de perguntar-se em que consistia realmente a sua especificidade, que repetidamente teve de procurar e reconstituir todas as suas fronteiras, tanto políticas como espirituais. A orientação do conceito alemão de cultura, a tendência para a delimitação, para fazer sobressair as diferenças entre os grupos, corresponde a esse processo histórico. Pode-se dizer, pois, que os conceitos de cultura e civilização representam uma diferente estruturação da autoconsciência nacional, formando-se a partir de vivências comuns. As duas palavras expandem-se e transformam-se com o grupo de que são expressão. Nelas se reflecte a situação e a história do grupo que as adoptou. Foram sendo passados de pessoa para pessoa e tornaram-se instrumentos úteis para exprimir uma vivência comum e um pensamento comum. EVOLUÇÃO DA ANTÍTESE CIVILIZAÇÃO ? CULTURA Se em 1919 ressurgiu no conceito de civilização a função de significar uma oposição a civilização, é claro que isso se deveu ao facto de ser em nome da civilização que se fez a guerra contra a Alemanha e de os alemães terem tido de reconstituir a sua auto-imagem na nova situação criada com o tratado de paz. Mas esta antítese, que foi reforçada no pós-guerra, já desde o século XVIII encontrava expressão nesses dois conceitos. Na Alemanha, é a polémica da camada intelectual da classe média contra as boas maneiras da camada superior da corte, dominante, que preside à formação da oposição conceptual entre cultura e civilização. è pois uma oposição entre cultura e civilização, neste caso virtude autêntica versus cortesia exterior, que aqui está em jogo.
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