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Página Principal : Teoria e Crítica
Estratégias narrativas
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Os textos narrativos representam um processo de exteriorização porque descrevem um universo autônomo, composto por personagens, espaços e ações, tudo isso conduzido por uma entidade fictícia chamada narrador. Esse narrador coloca-se de fora do narrado, em situação de alteridade, mesmo quando é protagonista da história, já que conta algo que já passou, colocando-se com certo distanciamento em relação aos fatos narrados. A única exceção a isso é a narrativa lírica, que apresenta a forma interiorizada, característica do gênero lírico. Esse tipo de texto apresenta uma tendência à objetividade, que pode ser entendida como a capacidade de mostrar o que é, objetivamente, distinto daquele que relata, não sendo o narrador o centro de atenção, mas sim as ações, os objetos, os lugares, as personagens, etc. Ainda, os textos narrativos possuem uma dinâmica de sucessividade, na medida em que descrevem a sucessão dos fatos relatados e, também, espaços, personagens, etc. Quanto ao narrador, podemos dizer que, ao contrário do autor, que é um ser real, com uma biografia conhecida e atestada, o narrador é um ser fictício, criado pelo autor, com a finalidade de enunciar a narrativa. Se, por um lado, não podemos confundir o autor com o narrador, por outro, sabemos que este é uma criação daquele. Portanto, é possível, para o autor, projetar no narrador atitudes ideológicas, éticas, culturais, etc., o que é feito por meio de estratégias próprias, como ironia ou a construção de um alter ego. Se o narrador é o enunciador do discurso narrativo, o receptor é o narratário, também ser ficcional, não devendo ser confundido com o leitor real. Em narrativas epistolares, o narratário adquire grande importância pelo fato de se identificar com o destinatário das cartas, passando a constituir o principal motivo de existência do relato. Há um caso em que narrador e narratário convergem em uma só entidade. No monólogo interior o narrador se torna o destinatário imediato de suas próprias reflexões enunciadas ?na privacidade da sua corrente de consciência?. O autor pode escolher entre três tipos de narrador, conforme seja mais conveniente. O narrador pode ser: Heterodiegético (3ª pessoa) ausente da história que conta, não podendo ser personagem ? narrador onisciente. Homodiegético (1ª e 3ª pessoas) está no interior da história que conta ? eu-testemunha. Autodiegético (1ª pessoa) conta a própria história ? eu-protagonista. Ao enunciar a narrativa, o narrador revela um universo até então desconhecido para o receptor: o universo diegético. Este, embora seja ficional, possui relação com o mundo real. Há o plano da história e o plano do discurso, ambos distintos, mas indissociáveis. A história corresponde a um conjunto de elementos que são organizados através do discurso, configurando o universo diegético. Este integra elementos variados que tendem a se estruturar de forma coerente. A personagem é a categoria em torno da qual gira a ação e se organiza o universo diegético. Alguns teóricos defendem que há uma crise da personagem, porém, quando uma personagem se mostra com contornos indefiníveis, também está demonstrando um tipo de força, na medida em que denuncia algo sobre o mundo. No que diz respeito à funcionalidade da personagem, ela pode ser: protagonista, personagem secundária ou mero figurante. Quanto à caracterização, elas podem ser redondas ou planas. As planas são constituídas em torno de uma única idéia ou qualidade. Segundo Forster, quando há mais do que uma qualidade inicia-se a curva que leva à personagem redonda. Esta apresenta profundidade e complexidade psicológica suficientes para constituir uma personalidade não tão óbvia quanto a plana. O espaço é uma categoria muito importante da narrativa pelas relações que estabelece com as demais categorias e pelas possibilidades de significado que comporta. O espaço pode ser social ou psicológico. O social, geralmente, associa-se a presença de tipos, descrevendo ambientes em um contexto crítico, mostrando vícios, deformações da sociedade, etc. o psicológico, muitas vezes, tem relação com as personagens mais complexas, mostrando atmosferas densas e perturbantes. Além disso, servem para causar determinado efeito psicológico no leitor, conforme a intenção do autor. A ação representa o processo de desenvolvimento de eventos que conduzem a um desfecho e depende da interação de, pelo menos, outros três componentes, que são: um ou mais sujeitos, um tempo determinado e as transformações ocorridas pela passagem de um estado a outro. No conto encontramos, em tese, um a só ação; no romance podemos perceber a evolução de várias ações ao mesmo tempo; a novela, geralmente, é constituída, também, de várias ações, porém, protagonizadas pela mesma personagem. A focalização refere-se ao conceito também identificado pelas expressões: ponto de vista, visão, restrição de campo e foco narrativo. Os três tipos de focalização são: Onisciente: visão que abarca o todo. Interna: restrição do campo de visão a percepção de uma única personagem, onisciência seletiva e onisciência seletiva múltipla. Externa: o narrador fala de fora, somente do observável. In: REIS, Carlos. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
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