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Linguagem e escola: uma perspectiva social
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A linguagem é extremamente importante no desenvolvimento mental e intelectual do ser humano. Através dela, desenvolvemos novas e cada vez mais complexas funções mentais, que serão reforçadas pela natureza das experiências sociais a que as crianças se acham expostas. A linguagem é um dos instrumentos que a criança utiliza para apropriar-se da realidade à sua volta, exercendo um papel estruturante do sujeito na medida em que permite uma interação entre interiorização e transformação. Dessa forma, ao mesmo tempo que indivíduo integra-se no meio social, é capaz de posicionar-se frente a ele, sendo seu agente crítico e transformador. A visão de mundo difundida em um meio social desprivilegiado e a conseqüente forma dos adultos interagirem com as crianças desse meio difere substancialmente da forma de interação com crianças pertencentes às classes dominantes, pois estas têm acesso a informações, viagens, computadores, livros, cursos, enfim, uma série de instrumentos que aquelas sequer sonham. A linguagem é um dos principais fatores no desenvolvimento das funções mentais superiores, tais como: capacidade de solucionar problemas, armazenamento e uso adequado da memória, formação de novos conceitos, desenvolvimento da vontade, etc. Conforme pode-se observar, crianças pertencentes a classes sociais menos favorecidas vêem-se vítimas de um círculo vicioso, pois ao mesmo tempo em que não têm um ambiente favorável para um desenvolvimento lingüístico satisfatório, não conseguem desenvolver um posicionamento crítico frente ao mundo por não possuírem a mesma capacidade de compreensão das crianças mais ricas. Esta diferença social é um dos motivos de fracassos em escolas públicas, normalmente freqüentadas por crianças pobres. Segundo Soares, há diferentes teorias que tentam, de forma supostamente científica, explicar tais fracassos. Além da ?ideologia do dom?, que tenta justificar os problemas escolares dizendo que todos têm oportunidades iguais, porém, não possuem as mesmas habilidades, há, ainda outras duas, a ?ideologia da deficiência cultural? e a ?ideologia das diferenças culturais?. De acordo com a ?ideologia da deficiência cultual?, as crianças provenientes de classes oprimidas, por não possuírem as mesmas condições sócio-econômicas e por não terem acesso a conhecimentos que as outras têm, apresentariam dificuldades de aprendizagem. Esta teoria, por usar como modelo o comportamento das classes dominantes, apresenta a criança pobre como sendo deficitária e reconhece na maneira de falar dos privilegiados a única verdadeiramente correta. Isto faz com que o falar representa uma forma de status social. É valorizado quem ?sabe falar? e estigmatizado quem ?fala mal?. Ainda dentro dessa concepção, há os conceitos de código elaborado e código restrito. O primeiro refere-se a uma estrutura gramatical complexa e precisa, com uso de orações subordinadas adverbiais, preposições, verbos na voz passiva, adjetivos e advérbios. O segundo, ao contrário, caracteriza-se por apresentar estruturas gramaticais simples e, na maioria das vezes incompleta, repetições de pronomes pessoais, de conjunções, uso limitado de adjetivos e advérbios, pouco uso de orações na voz passiva, etc. Segundo a ?ideologia das diferenças culturais?, há diferentes falares de acordo com as regiões em que vivem os falantes, o que leva-nos a diferentes dialetos. Da mesma forma que não se pode falar em língua superior ou inferior, não se pode falarem dialeto superior ou inferior. Porém, por causa dos preconceitos sociais, certas regiões do país são valorizadas e outras estigmatizadas. Da mesma forma, certos grupos sociais são discriminados em detrimento de outros. Para Soares há uma particularidade nas duas teorias citadas acima. Ambas dão a escola um poder de mudança que ela, de fato, não tem e ignoram as causas estruturais do problema. Além das teorias citadas anteriormente, há, ainda, a teoria do ?capital lingüístico?, que defendendo a idéia de que a escola, com o discurso de combate à discriminação social, cultural e lingüística e tentativa de superação das ?deficiências? ou ?diferenças?, apenas dissimula o papel de preservador dessa discriminação e dominação, pois aceitam apenas um único saber lingüístico como legítimo, afastando qualquer possibilidade de transformar o sistema. De acordo com essa concepção, a escola seria um instrumento de perpetuação das desigualdades e não de promoção da igualdade social, como deveria ser. Há, paralelamente à economia das trocas materiais, uma economia das trocas lingüísticas, na qual a situação lingüística é vista como um mercado em que os bens permutados são palavras. A língua, dentro desse contexto, é vista como um instrumento de dominação e de obtenção e manutenção do poder.
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