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Estranhos prazeres (Strange days)


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Os avanços vertiginosos da Ciência têm dado azo a relatos vaticinadores de futuros quase sempre desoladores e despidos de valores civilizacionais. O consenso parece praticamente unânime nessa correlação, que se exprime através de cidades submersas na obscuridade dos néons, como sucede em "Blade Runner", os cenários destroçados do pós- guerra ("Mad Max"), os mundos irreais que povoam galáxias desconhecidas (Caminho das Estrelas, Guerra das Estrelas, Dune) e os combates desiguais contra seres alienígenas (Alien, O Dia da Independência, A Invasão dos Violadores, Exterminador Implacável, Predador). Tudo são hipóteses aventadas para esse amanhã cada vez mais próximo. "Estranhos Prazeres" é um filme curioso pela sua proximidade cronológica. Estamos nos últimos dias do ano de 1999, avizinha-se a transição de milénio. É numa Los Angeles decadente, tal qual Sodoma extraída do Antigo Testamento, que a nossa história se vai desenrolar. No ar pairam sinais inerentes ao tempo em que se vivia; as profecias apocalípticas da mudança de milénio parecem uma realidade incontornável. Os rumores da tragédia que se aproximava eram bem visíveis neste quotidiano moribundo (estado de guerra latente, segregação racial, ódios e violência). É neste contexto de crise de valores que Lenny, Ralph Fiennes, desenvolve a sua actividade de traficante de pedaços de vida alheia. Imaginem poder viver por instantes a vida de outras pessoas; sentir, ver e ouvir o mesmo, ao ponto de tornar essas experiências como nossas. O FBI aperfeiçoou um sistema electrónico de espionagem, facilmente transportável, baseado numa rede de sensores que, adaptados à cabeça, permitiam transformar os olhos em autênticas câmaras de filmagem que, para alem da imagem, também captavam as emoções. O mercado negro rapidamente percebeu as potencialidades desta descoberta e deu-lhe um novo uso. Muitos foram os utilizadores que passaram a andar "ligados", prontos para realizar todas as taras proibidas, sem pecar. Lenny, ex-polícia e também ele um viciado, era um vendedor de sonhos, que vivia de recordações (gravações) de um passado realizado com a sua namorada Faith (Juliette Lewis). Tendo sido trocado por um proeminente nome do mundo da música underground , restavam a Lenny as gravações e a esperança de resgatar um dia Faith às falsas promessas de uma carreira musical. O desejo inocente de arranjar felicidade para os outros, ignorava as possibilidades macabras daquele aparelho. Entre o sonho e o pesadelo, a barreira era mais ténue do que Lenny poderia supor. Uma conhecida em apuros e um amigo anónimo vão confrontá-lo com esse lado obscuro. A primeira, uma fornecedora habitual de gravações, surge junto de Lenny num estado alterado de terror, dando-lhe uma disquete que não estava destinada a ser vista. Depois de alguns desencontros e perseguições, ele vai acabar por ver o que a outra vira. Um mediático rapper negro, símbolo da luta contra a opressão do branco, era assassinado impiedosamente por dois agentes policiais. A divulgação do filme corresponderia ao atear do rastilho que faltava para o eclodir da guerra generalizada. Outras gravações vão sendo entregues anonimamente a Lenny, revelando uma personalidade distorcida de psicopata, desejosa de partilhar com alguém a sua imaginação diabólica. Lenny vai visionando as gravações que periodicamente lhe vão sendo entregues e depara-se com aquilo que julgava não ser possível. A rapariga que presenciara o assassinato do músico era morta com requintes de sadismo. Amarrada e vendada, ela é "ligada" ao transmissor do assassino e vê-se a ser violada e estrangulada. O seu pânico mistura-se com o prazer do carrasco, enquanto assiste incrédula à sua morte, pelos olhos do outro. Lenny é acompanhado nesta aventura alucinante pela sua amiga Mace (Ângela Bassett), uma chauffer /guarda-costas, que nutria por ele uma paixão silenciosa. Juntos vão tentar o impossível antes da chegada do novo milénio. O filme progride e a queda no abismo parece inevitável; as profecias iam realizar-se; a degradação, a corrupção da própria polícia e a violência sem limites, intensificam-se; tudo parece podre e sem esperança. Os minutos passam e o ano 2000 está a escassos outros tantos. Por fim, ele chega. O mundo não eclodiu como o vaticinado, mas trouxe uma nova luz de renovação que não julgávamos ser possível. Os maus são mortos e, com eles, parece ter ido toda a onda de tensão negativa que percorria a cidade. Com o mudar de ano e de milénio, opera-se uma mudança que não pensávamos ser possível. E parece-nos coerente toda essa transfiguração; a vida ia continuar por outro milénio com uma esperança fortalecida. Lenny e Mace, apesar de combalidos, beijam-se finalmente; afinal a Faith (esperança) estava noutro local, mesmo ao virar da esquina. Uma viagem apaixonante pelo mundo da realidade virtual.


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