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A vida em directo (the Truman show)
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Jim Carrey é Truman, personagem principal da vida que lhe criaram. Acompanhado desde a concepção pelo olhar indiscreto de uma câmara de televisão, Truman cresceu num mundo estruturado artificialmente, sem suspeitar da mentira que o rodeava. Dentro de uma redoma colossal, ele partilhava a privacidade, 24 horas por dia, com o resto do planeta. Foi manipulado na (im)previsibilidade dos seus comportamentos, consoante as necessidades de um argumento que precisava de ser estimulante. Ele era "the truman show", o maior espectáculo televisivo jamais assistido. O criador de Truman, ou seja, o megalómano realizador de tão ambicioso projecto, decidia sobre o seu destino e necessidades com os meios de um deus omnipresente. Incutiu-lhe os medos e as razões que o conformavam à sua pacata cidade, deu-lhe o dia e a noite, o amor e a família, a ilusão de uma vida demasiado perfeita e protegida que não o permitiam reclamar aquilo que não conhecia. Truman fez-se homem sem desconfiar das representações dos outros actores que partilhavam o seu espaço. Casou com uma mulher que falava com o mesmo sorriso suspeito acerca da vontade de ter um filho (momento aguardado com ansiedade pelos espectadores da sua vida) como das vantagens de um café que tinha de publicitar. Um dia Truman apaixonou-se por alguém que não fazia parte do guião e, essa paixão, rapidamente colmatada mas não sarada, abriu-lhe desejos novos de alargar os horizontes. As irregularidades comportamentais, bem como as falhas logísticas mal explicadas, fizeram-no desconfiar de uma conspiração; Truman começou a sentir-se o centro da existência dos outros. A desconfiança tornou-se em certeza quando a sua vontade de mudar foi sendo constantemente abortada por encenações forçadas. É então que Truman ousa desafiar o "Criador", vencer as fobias enraizadas num corpo vulnerável e conquistar a vida que lhe pertencia. Navegou contra a ira de um deus encolerizado para descobrir os seus mistérios. Não temeu as tormentas lançadas pelo "pai" protector que não queria deixar crescer o filho. À sua espera, no fim da tempestade, estava uma mulher que amava e uma vida para experimentar. "The Truman show" tinha acabado... "A vida em directo" é uma visão alucinante sobre a influência e ingerência que a televisão pode ter na vida privada. Somos espectadores e cúmplices dessa devassa; estamos dependentes da intoxicação informativa que não conhece limites. A nossa vida fica vazia quando precisamos da dos outros para viver ? o fenómeno "big brother" é o reflexo visível dessa intromissão. Jim Carrey, um cómico assumido, construiu uma personagem que, sem perder o dinamismo e alegria que o caracterizam, é extremamente rica do ponto de vista sentimental. É nesse contraste que reside toda a carga dramática da parábula; a felicidade genuína e o amor pela vida que ele tem demonstrado como humorista em contraposição com a impossibilidade de desfrutar desse dom (são predicados que conferem a Truman uma riqueza interior capaz de fazer vingar a história). O realizador ? Peter Weir ? arriscou, mas acertou, na escolha de um actor carismático, preso a um registo cinematográfico pouco considerado, para veicular uma mensagem acutilante. O efeito pretendido foi plenamente atingido e, depois de vermos o filme, dificilmente conseguiríamos imaginar outro Truman capaz de nos sensibilizar como Jim Carrey. "The Truman show" é uma visão inquietante sobre os tempos modernos. Com ou sem Deus, os passos difíceis têm de ser dados por nós; acomodarmo-nos a Ele é rejeitar a possibilidade de crescer...O mundo é pequeno mas a vida pode ser grande...
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