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Casseta e Planeta: A Taça do Mundo É Nossa


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Comédia. Brasil, 1970. Ao mesmo tempo em que comemora a vitória do tricampeonato mundial de futebol, o país amarga um período de violenta ditadura militar. Reunidos por diferentes razões numa churrascaria, o militante de esquerda Frederico Eugênio, o cantor Peixoto Carlos e o ecoterrorista Denílson vêem-se envolvidos no atentado contra o general Miranda Imbirussú, e com isso tornam-se perseguidos pela polícia. Ao mesmo tempo em que procuram um esconderijo (e seguidos de perto, sem saber, por Lucy Ellen, filha do general, que sentiu-se atraída por Frederico Eugênio), o trio decide-se pela realização de um grande ato contra a ditadura: o roubo da Taça Jules Rimet, recém conquistada pela seleção brasileira de futebol.

Quem acompanha a carreira do grupo humorístico Casseta & Planeta sabe que não é de hoje que eles querem fazer um filme. Agora que a espera chegou ao fim, pode-se perguntar se valeu a pena. A Taça do Mundo é nossa (Idem, 2003) parte de um fato que realmente aconteceu (o roubo da taça Jules Rimet) para fazer graça com a história recente do país. A idéia é ótima e desperta a curiosidade pelo desempenho dos oito humoristas longe dos esquetes curtos e da tela pequena, e de todos os vícios a esta inerentes.

Pois é aí que começam os problemas. A mudança de veículo não veio acompanhada da necessária mudança de linguagem, e o que se vê na tela grande em nada difere do que se veria na pequena. O filme é uma coleção de piadas, algumas ótimas, nem sempre bem costuradas. O roubo da taça e o período histórico, pouco aproveitados, tornam-se apenas pretexto para um humor que oscila entre o debochado e o grosseiro, voltado para um público em sua maioria adolescente. Daí as referências a drogas, gases, sexo, em diálogos carregados de um feroz duplo sentido. Isso tudo narrado, dirigido e fotografado da maneira mais convencional e televisiva possível. Não se trata, em nenhum momento, de uma adaptação cinematográfica, mas de TV exibida em telão. Que, daqui a um ano, será exibida na TV.

Mas A Taça... tem acertos que valem a ida ao cinema. Um deles é o fato de que o grupo é realmente engraçado, e as caracterizações dos personagens aumentam isso. Como Peixoto Carlos (ou como o "rei", Roberto), Hubert está hilário cabeludo e vesgo. Hélio de la Peña faz um viciado que fuma barata, bolsa de palha, sanduíche e o que lhe colocarem à frente, e a cena em que aparece em transe, com boca cheia de fumaça, é memorável. Marcelo Madureira começa o filme genial como Dolores, a rigorosíssima esposa do general ("Garçom, aquela vaca está pingando no meu marido" ), personagem que, como os demais (e como o roteiro), não recebeu o desenvolvimento que merecia.

Pode-se dizer, assim, que, descontadas as ressalvas, a espera valeu. O primeiro filme do Casseta e Planeta é divertido (não se pode dizer que seja despretensioso) e, apesar das musiquinhas e da propaganda do desodorante, não aborrece. Tem momentos antológicos como a partida de futebol entre militares e sindicalistas, frases que são um achado ("Mataram minhas galinhas! Será que eles não têm limites?" ) e - que mais se pode esperar de uma comédia? - faz rir. Quanto à insistente comparação com os ingleses do Monty Python, isso é coisa de jornalista querendo exibir um conhecimento que não tem. Os dois grupos estão tão distantes quanto o Brasil está da Inglaterra. Para comentar tal disparate, melhor utilizar um bordão dos próprios Cassetas: "Ah, fala sério".


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