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Bob Roberts


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Documentário fictício abordando a meteórica ascensão de Robert Roberts Jr., o Bob Roberts, cantor e compositor de música folk que no início da década de 1990 teria despontado como candidato ao Senado norte-americano pelo Estado da Pensilvânia. Dinâmico, carismático, talentoso, jovem e rico, Roberts personifica a direita neoliberal que atingiu o poder em todo o mundo com uma política agressiva, individualista e radicalmente contrária ao assistencialismo social pregado pela esquerda. "Estão dando a um desqualificado o emprego que poderia ser seu", diz o candidato, que em seus discursos e canções promete recuperar o sonho americano, bradando palavras de ordem como "Orgulho" e decretando o fim do que vê como a permissividade dos costumes iniciada nos anos 60. Sua campanha ostensiva faz com que ele caia nas graças tanto das classes média e alta quanto da mídia, deixando para trás seu concorrente, o democrata Brickley Paiste. No entanto, a cruzada solitária de John Alijah Raplin, repórter de um pequeno jornal de esquerda, revelará o envolvimento de Lucas Hart, industrial que financia a campanha de Roberts e é seu braço direito, com o contrabando de armas para o Oriente Médio e com o tráfico de drogas.

É curioso que a mídia em geral classifique esse filme como "comédia" ou, se muito, "sátira política". Na época em que foi lançado, era até compreensível que a platéia no cinema gargalhasse diante das várias semelhanças entre os personagens da ficção com a recente história brasileira, associando o filme ao caso do impeachment do presidente Fernando Collor. E, de fato, lá está o industrial de figura sinistra, Lucas Hart, agindo nos bastidores e criminosamente como fazia P.C. Farias; lá está a primeira-dama Polly, loura, linda e inútil; lá estão os depoimentos diante de comissões parlamentares, os desvios de verba, o entusiasmo da grande imprensa, e, principalmente, lá está o candidato com pinta de galã, atleta, bem-sucedido. Não comparar é, de fato, difícil.

Mas Bob Roberts ("Bob Roberts" , 1992), surpreendente estréia do ator Tim Robbins na direção, não fica só nisso. Crítica contundente à política neoliberal do então presidente George Bush (o pai, que à época envolvia-se numa demonstração de força na Guerra do Golfo), o filme investe também contra o marketing político, contra a mídia parcial e deslumbrada, e não deixa de cutucar a esquerda, representada ora por um senador lerdo, sem propostas e quase patético, ora por um extremista radical e aparentemente fora de si. É interessante que o roteiro (também a cargo de Robbins), ao carregar no estereótipo de seus personagens, tenha assim realizado a proeza de torná-los ainda mais convincentes. Tanto à direita quanto à esquerda, estão ali exatamente os tipos que acompanhamos na televisão, com os mesmos discursos, a mesma irracionalidade e a mesma falta de argumentação para defender os seus pontos de vista. Se de um lado a direita é maquiavélica, de outro a esquerda é exaltada e pouco construtiva. Todas as opiniões contrárias a Roberts mostradas no filme são feitas de maneira emocional e furiosa, e mesmo Paiste, o senador devagar, comenta em certo instante que durante o debate na TV sentiu um odor de enxofre vindo do adversário.

Ainda que destilando sarcasmo em sua visão da política e da sociedade norte-americanas, o filme tem um fundo amargo por baixo da superfície irônica. Por mais que levem ao riso a afetação e as piadinhas sem graça dos âncoras dos telejornais (hoje remetendo-nos diretamente à dupla global Renato Machado e Leilane Neubarth), e sejam deliciosas as seqüências dos bastidores das campanhas (onde são vistos os estudos de cartazes, da propaganda de TV e as pesquisas de opinião) e do concurso de Miss, no final o que fica é a visão que Tim Robbins tem de seu país: um "estado secreto de ligações financeiras sem controle", dominado pelo capital especulativo, pelo tráfico de drogas e de armas, este último utilizado como justificativa não só para a Guerra do Golfo, mas para toda empreitada militar na qual se metem os EUA. "Aumenta-se qualquer vilão à proporção de Hitler" , diz Paiste, citando Fidel Castro, Noriega, e, agora, Saddam Russein, "e diz-se que estamos em guerra, tudo para justificar o orçamento militar" . Decididamente, não se trata de comédia. Tim Robbins, excelente em todas as funções que exerce no filme (e que os mais entusiasmados compararam a Orson Welles), fez um filme ácido, com uma montagem dinâmica que alterna registros de campanha com geniais video clipes, diálogos certeiros e sutis demonstrações de preconceito e fanatismo. Dá pra rir, mas também dá pra pensar.


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