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Vestido de Noiva
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Nos anos 30 surgem as primeiras preocupações com a modernização da dramaturgia e do espetáculo teatral com Renato Viana e Oswald de Andrade, entre outros. Espíritos sintonizados com as conquistas modernistas. Oswald não viu suas peças encenadas e as iniciativas no terreno do espetáculo teatral de Renato Viana tiveram vida curta. Nelson Rodrigues escreveu Vestido de Noiva no início dos anos 40 respondendo aos anseios de modernização teatral. A estréia da peça foi saudada com entusiasmo por vários críticos e escritores como Manuel Bandeira e Álvaro Lins. A peça era inovadora em termos de forma e conteúdo. Por tudo isso, o espetáculo realizado a 28 de dezembro de 1943 é sempre lembrado como marco do nascimento do teatro moderno no Brasil. Vestido de Noiva passou a figurar na história do nosso teatro como uma espécie de divisor de águas. É sem dúvida, a obra mais importante do autor. A história é simples: um triângulo amoroso que não teria nada de surpreendente caso não se tratasse de duas irmãs que amam o mesmo homem. Este conflito desencadeia perturbações mentais, culpa e desejos ocultos. Quatro personagens e uma história contada em três dimensões. Alaíde rouba o namorado da irmã e casa-se com ele. Infeliz no casamento, vê a situação inverter-se: a irmã ameaça roubar-lhe o marido. Alaíde vive uma crise conjugal cuja rival é a própria irmã. A isso se junta outro dado fundamental: no sótão da casa dos pais, esta atormentada protagonista encontra o diário de Madame Clessi, uma mundana que foi assassinada em 1905 por um rapaz apaixonado. Ao mesmo tempo em que vive seu drama pessoal, Alaíde não consegue controlar a curiosidade sobre os fatos que envolveram Madame Clessi, o mundo da prostituição a fascina, pois quer ser amada e desejada. Sua morte deixa transtornada a irmã que não esquece Alaíde, vítima, acidental ou não, de sua obsessão por Pedro. A peça está dividida em três Atos: o primeiro ato não ?prepara? os subseqüentes e nem cria expectativas no espectador, pois não há um conflito armado com clareza ns cenas. O que se vê é uma mulher atropelada, à beira da morte, que sofre uma cirurgia enquanto escapam de sua mente e se materializam no palco algumas imagens do passado recente e outras que parecem fazer parte de um sonho ou delírio. O segundo e o terceiro ato são construídos com os mesmos procedimentos sem uma ordenação lógica. Mesclando as lembranças e fantasias de Alaíde, rompem-se as barreiras que separavam o plano da memória do plano da alucinação. No palco, três planos, um espaço inserido em três dimensões do tempo: o plano da memória, o da realidade e o da alucinação. As cenas finais se sucedem com rapidez, indicando a passagem do tempo e a relativa ?cura? de Lúcia, que afinal se casará com Pedro. Os ?poéticos fantasmas? de Clessi e Alaíde, no entanto, assistem ao casamento e Alaíde invade o plano da realidade para entregar o buquê à irmã. Alaíde será um eterno fantasma assombrando a consciência culpada d irmã. É apenas no final da representação que o espectador consegue organizar mentalmente a trama, enxergar a ordem íntima e profunda que se superpõe à aparente desordem do enredo. Nelson Rodrigues, sintonizado com os anseios de modernização teatral no Brasil, radicalizou o processo de fragmentação da ação dramática. Ele conta a história sem lhe dar uma ordem cronológica. Deixava de existir o tempo do relógio e do calendário, as coisas acontecem simultaneamente. Provavelmente, Nelson Rodrigues tenha sido influenciado pelo cinema que usou e abusou deste recurso do flashback nos anos 30 e 40 como no filme Cidadão Kane, de Orson Welles. (consulta e resumo à partir do livro "O Teatro na Estante").
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