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Domínios da História: História das Mulheres
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Questões teórico-metodológicas A emergência da história das mulheres acompanhou o movimento de expansão dos limites da disciplina histórica, mas também foi impulsionado pelas campanhas feministas por melhoria das condições profissionais.
J. Scott aponta as contribuições recíprocas entre a história das mulheres e o movimento feminista. A colocação das ?mulheres como categoria homogênea?, pelas historiadoras sociais, serviu para afirmar a biologia do feminino, ?essência? da mulher, como inalterável - ainda que em contextos e papéis diferenciados.
O discurso da identidade coletiva favoreceu o movimento feminista nos anos 70, pois fixou o antagonismo homem/mulher, e favoreceu também a disseminação da mobilização política. Por outro lado, no final da década, sobrevêm as tensões no interior da disciplina e no movimento político, em torno dos questionamentos da categoria mulheres e da introdução da diferença como problema a ser analisado.
Em conseqüência, a fragmentação de uma idéia universal ?mulheres? por classe/raça/etnia/sexualidade, associada a diferenças políticas sérias ligadas a uma postura inicial de crença na identidade única, dá espaço a outra postura, a certeza na existência de múltiplas identidades.
Nos estudos das mulheres foi que se deu a derrocada dos pressupostos positivistas nas Ciências Humanas. O enfoque da diferença desnudou a contradição flagrante entre a história das mulheres e as correntes historiográficas polarizadas (sujeito humano universal). A revelação de especificidades faz surgir um sujeito humano que não é uma figura universal.
Outro aspecto do e estudo das mulheres é o predomínio de imagens relativas aos papéis de vítima e rebelde. Na década de 1940, em torno da opressão da mulher, Mary Nash debate seu papel na história, e a historiadora Mary Beard, em Woman as force in history, questiona a marginalização da mulher nos estudos históricos, onde os historiadores homens ignoravam-na sistematicamente.
À réplica do historiador J.M. Hexter (explicando que a ausência deveu-se ao fato de que elas não participaram dos grandes acontecimentos políticos/sociais), S. Beauvoir assume postura similar, argumentando que a mulher, ao viver em função do outro, não tem projeto de vida própria, atuando a serviço do patriarcado e sujeitando-se ao protagonista e agente da história, o homem. Uma história miserabilista se afirma desde então, em torno das discussões acerca da passividade da mulher frente à opressão, ou de sua reação como resposta às restrições da sociedade patriarcal.
Até a década de 1970, emergem mulheres espancadas/enganadas/humilhadas/violentadas, e sub-remuneradas/abandonadas/loucas/enfermas, etc. Uma corrente que surge em oposição a vitimização dá luz a ?mulher rebelde?/?viva e ativa, sempre tramando?/?astuta para burlar as restrições? ?a fim de atingir seus propósitos?. Enfoques que superam a dicotomia vitimização/sucessos femininos e que buscam visualizar toda a complexidade de sua atuação.
Esses enfoques contribuíram para a revisão dos recursos metodológicos e para a ampliação de campos de investigação histórica a partir do tratamento de esferas em que há maior participação feminina - de acordo com os pressupostos de M. Foucault em torno da ampliação das concepções habituais de poder, o que permite abarcar as diversas dimensões de sua experiência histórica.
Gênero foi o termo proposto pelas feministas americanas que marcavam a insistência no caráter fundamentalmente social das distinções baseadas em sexo. Usado inicialmente para teorizar a questão da diferença entre sexos, a palavra (que indica rejeição ao determinismo biológico implícito nos termos ?sexo? e ?diferença sexual?) torna-se maneira de se indicar construções sociais de idéias e papéis próprios a homens e mulheres, e sublinha também o aspecto relacional entre os homens e as mulheres na medida em que nenhuma compreensão do masculino e do feminino pode existir através de um estudo separado.
O termo foi proposto por aqueles que defendiam que a pesquisa sobre mulheres transformaria fundamentalmente os paradigmas da disciplina histórica, tal metodologia implicaria não apenas em uma nova história das mulheres, mas também numa nova história. A inclusão de novos temas, a reavaliação critica das premissas e critérios do trabalho científico existentes, a maneira como esta iria incluir e apresentar a experiência das mulheres dependeria de como gênero ia ser desenvolvido como categoria de análise.
Outro aspecto a destacar nesses estudos, a rejeição ao caráter fixo e permanente da oposição binária, masculino versus feminino, que alimentou as demandas feministas, parte da ênfase na importância de uma desconstrução autêntica, que reverta, que desloque a construção hierárquica, como orienta J. Derrida, de forma que se anteveja para o futuro a transcendência dessa dualidade cultural em lugar de aceita-la como óbvia, ?na natureza das coisas?.
Os pesquisadores consideram que as desigualdades de poder se organizam no mínimo conforme esses três eixos: gênero/classe/raça. Nesse sentido, a preocupação de articular gênero/classe/raça, por parte dos historiadores, denota também que o interesse por estas categorias partem de um compromisso em incluir na história a fala dos oprimidos. Por outro lado, os historiadores frisam a necessidade de se ultrapassar os usos descritivos de gênero, buscando-se a utilização de formulações teóricas.
J. Scott tece uma serie de considerações a respeito de seu argumento de que, para uso descritivo, gênero é apenas conceito associado ao estudo das coisas relativas às mulheres, e logo, não tem força de análise suficiente para interrogar e mudar os paradigmas históricos existentes.
Maria Odila da Silva Dias discorda da necessidade de construção imediata de uma teoria feminista, ?o saber teórico implica também em um sistema de dominação?; considera que mais cabe ao pensamento feminista destruir parâmetros herdados do que construir marcos teóricos muito nítidos; sugere, para melhor construir a experiência das mulheres em sociedade, que se parta de conceitos provisórios e que se assuma abordagens teóricas parciais.
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