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Nhatiú e Tuiuiú
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Nhatiú - mosquito Tuiuiú - ave pernalta, silenciosa e contemplativa
Na selva, perto de um rio, vivia poderoso cacique, dono de grande quantidade de ouro e prata.
Certa vez, voltando da pesca, o cacique viu no caminho um homem trabalhando à sombra de uma árvore; parou e perguntou-lhe:
- Que estás fazendo?
O homem, que era ourives, respondeu:
- Estou fazendo argolas para enfeite das orelhas. Terminei um par agora, pode guardá-lo como presente meu.
O cacique recebeu os belos brincos e ficou admirado; nunca vira joia igual. Perguntou então ao ourives:
- Serias capaz de fazer outras argolas iguais a estas?
- Iguais ou melhores, respondeu o ourives.
- De amanhã em diante, disse o cacique, viverás em minha casa. Quero ter-te a meu lado e darei todo o ouro e prata que possuo para que faças argolas para mim e meus amigos.
O cacique passava os dias ao lado do ourives. Gostava de ver aquelas mãos, de dedos longos e ágeis, moverem-se como pernas de aranha, trabalhando com maestria.
O ourives trabalhava de sol a sol, sem fatigar-se. Sempre que concluía um par de argolas, esfregava as mãos, levantava a cabeça, e os olhos se perdiam olhando à distância o caminho, até o rio, entre salgueiros e juncos.
O cacique aproveitava as pausas para elogiar o belo trabalho. O ourives sorria, desviava os olhos do caminho distante e de novo os dedos longos e ágeis começavam a mover-se como pernas de aranha.
Depois de vários meses o ourives terminou seu labor. Ao entregar o último par de argolas o cacique lhe disse:
- Vamos levar todos os brincos em uma canoa e juntos iremos distribuí-los entre meus amigos.
Assim fizeram e partiram.
Na margem cantavam os passarinhos. E papagaios, em bando, cruzavam o rio e se perdiam no monte. Estendidos na areia, dormiam os jacarés.
Era uma tarde cinza, quente, pesada. O cacique e o ourives navegavam sem rumo, buscando proteção contra a chuva e o vento. As águas do rio, cada vez mais revoltas, faziam cambalear a pequena embarcação. Em vão o cacique e o ourives lutavam para ganhar a costa. A corrente os arrastava. Um forte agitar das águas virou a canoa, que ràpidamente desapareceu.
O cacique e o ourives, nadando, conseguiram chegar até a praia. E de lá olhavam o rio.
Esperavam ver surgir a canoa entre os camalotes, os troncos e os ninhos que a corrente trazia. E o vento continuava golpeando as águas.
Os dois homens não se conformavam com a perda dos brincos. Aguardavam, pensando:
- O rio terá de devolvê-los. O rio devolve sempre o que não lhe pertence. Vai deixando todas as coisas nas margens, nas areias, nas pedras, nos esteiros, ao pé dos juncos. I O cacique e o ourives permaneciam imóveis, com os olhos fixos na água.
A chuva e o vento cessaram. Na praia algumas árvores tombadas mostravam as raízes. Além, o arco-íris estendia sua alegre faixa de cores.
O cacique, sem tirar os olhos da água, disse ao ourives:
- Ficarei aqui vigiando. Esperarei até que o rio nos devolva as joias, e tu irás voando. Compreendes? E perguntarás a todos, um a um, bem perto do ouvido, se viram nossos brincos.
E desde esse dia o cacique se transformou em tuiuiú e o ourives em nhatiú.
Por isso, o tuiuiú vive na beira d'água, vigiando. Espera que o rio devolva os brincos de ouro e prata. E o nhatiú continua voando e perguntando a todos, um a um, bem no ouvido:
- «Que na mi caí? Que na mi caí?"
Que quer dizer:
- Meus brincos? Meus brincos?
JAVIER VILLAFANE - Libra de Cuentos y Leyendas, 1968. (Adaptação livre)
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