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O Que é História em Quadrinhos Brasileira
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As histórias em quadrinhos produzidas no Brasil sempre enfrentaram altos e baixos em sua viabilidade e sobrevivência comercial. Porém, mesmo em momentos de mercado em baixa (como se vê atualmente), não faltam autores brasileiros produzindo, seja em fanzines, sites, publicações independentes ou buscando espaço no exterior. Com tudo isso acontecendo, é comum a discussão entre alguns pesquisadores sobre o que seria uma história em quadrinhos verdadeiramente nacional e não apenas produzida por brasileiros.
É sobre esse tema que se debruçam os autores Gazy Andraus, Edgar Franco, Henrique Magalhães, Marcelo Marat, Cesar Silva e Edgard Guimarães (este, também o organizador da obra). A compilação das pesquisas e conclusões gerou o livro O que é HQ brasileira, da editora paraibana Marca de Fantasia, que tem produzido várias obras teóricas sobre quadrinhos e cultura pop.
O ponto de partida do livro foi um texto do pesquisador Moacy Cirne datado de 1971, no qual ele defendia que nenhum super-herói brasileiro (no caso o antigo clássico O Judoka) poderia ser considerado realmente nacional, por ter sido criado seguindo modelos estrangeiros. Não bastaria um referencial geográfico para que isso o tornasse identificado como sendo de autoria nacional. Atualizando esse ponto de vista, trabalhos como Combo Rangers, Holy Avenger e tantos outros também não poderiam ser chamados de quadrinhos brasileiros por utilizarem inspiração em modelos vindos de fora. Esse raciocínio inspirou uma extensa pesquisa histórica e conceitual sobre o tema, levantando muitos pontos interessantes e polêmicos.
De modo bem didático, Cesar Franco enumera situações diversas, buscando e analisando definições geográficas, culturais e criativas que poderiam denominar uma HQ como sendo brasileira. Já Edgar Franco se mostra bastante contundente em sua crítica a estereótipos nacionalistas e oportunistas de autores interessados em agradar intelectuais, bem como a mentalidade colonizada de muitos autores, capazes apenas de fazer versões de seus heróis favoritos ou desenhar para o mercado estadunidense. A excessiva influência de modelos importados, especialmente dos EUA e Japão, é bastante explorada, deixando o trabalho bem atual. O capítulo de Henrique Magalhães versa sobre a longa tradição do humor no Brasil, citando autores muito ou pouco conhecidos que têm produzido tiras para a imprensa ao longo dos anos.
A impossibilidade em se concorrer com os preços baixos e a estrutura superior do material estrangeiro é mencionada como um dos fatores para a dificuldade na construção de uma identidade nacional. Mesmo que, afinal de contas, seja quase impossível construir tal identidade em um país com tantas diferenças regionais, misturas étnicas e centros urbanos cosmopolitas.
Os textos apresentam uma linguagem acadêmica, com tudo de bom e enfadonho que isso pode acarretar. Frases longas com divagações complexas e pontuadas por muitas citações podem afugentar o leitor habituado a uma leitura mais dinâmica e objetiva. Independente disso, a obra merece um olhar cuidadoso e pode servir como um ponto de partida para jovens quadrinhistas em busca de conhecimento sobre o pedregoso terreno em que se aventuram.
Concordando ou não com os pontos de vista apresentados, o leitor poderá ter um amplo leque de opiniões, sejam elas ponderadas, realistas ou radicais, mas todas embasadas em muita pesquisa e conhecimento de causa. A questão da identidade nacional é pertinente mas, na prática, pode não levar a lugar nenhum. Pois, como Edgar Franco bem define em sua participação, a preocupação maior de qualquer autor deveria ser apenas produzir material de qualidade.
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