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Poderemos FALAR DO FENG-SHUI DOS JARDINS MADEIRENSES?
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A abordagem do europeu aos novos espaços atlânticos fez-se por um duplo objectivo. Primeiro, procura-se revelar os resquícios do paraíso perdido, tão celebrado na Antiguidade Clássica, e, depois, ver da possibilidade de apropriação do espaço numa dinâmica voraz de apropriação da riqueza. Do primeiro ficou apenas a lembrança e do segundo a plena expressão da humanização do espaço de forma desenfreada, que conduziu a diversos problemas, que se materializam nas Canárias com o processo de desertificação e na Madeira com o efeito catastrófico das aluviões. Só muito mais tarde o europeu se conciliou com a Natureza, certamente por influência de outras culturas que teve oportunidade de contactar. Do Oriente e de forma especial da China, Índia e Japão, as culturas milenares deram importantes lições ao europeu quanto a um relacionamento harmónico com a natureza. Certamente que as correntes religiosas imanentes do Taoismo permitiram uma visão diferente da relação do Homem europeu com o quadro natural envolvente. Tenha-se em conta que no século XVI o FENG-SHUI, que pretende estabelecer a harmonia com a energia que fluí do Céu e da Terra, estava presente na China, sendo uma aposta da Dinastia Ming. Será que os portugueses e demais europeus tiveram contacto com esta realidade e procuram fazer uso dela em algumas circunstâncias? Esta é uma questão que tardará muito tempo em encontrar-se resposta e carece de novos olhares e estudos sobre os jardins madeirenses. Os chineses defendiam a necessidade de harmonização dos espaços como forma de alcançar a prosperidade e a saúde. Deste modo, não será por acaso que nalguns jardins europeus a partir do século XVII esta visão ganhe forma. Ao mesmo tempo, os bosques deixam de ser espaços de maldição e as árvores entram no quotidiano das classes altas, alinhando-se em filas para dar acesso à casa de moradia. Os jardins tanto podem ser a imagem do paraíso bíblico, como a expressão do espaço espiritual, aqui entendido nesta harmonia do Homem com o seu entorno, que lhe propicia a possibilidade de fruição das energias subtis. Por outro lado, os jardins são também a expressão do poder humano sobre a Natureza. Assim, os jardins botânicos do século XVIII deixaram de ser uma recriação do paraíso e passam a espaços de investigação botânica. Todavia, na Inglaterra do século XIX os jardins e as flores tornam-se muito populares. Esta ambiência chegou à ilha através dos mesmos súbditos de Sua Majestade. Situação, aliás, evidenciada por muitos visitantes britânicos que destacam esta forte influência britânica na arquitectura dos jardins madeirenses. Todavia, A. J. Biddle afirma que os jardins madeirenses não podem comparar-se aos ingleses, devido a serem mais originais e à variedade de flores. A harmonização do homem com o entorno e a fruição dos benefícios energéticos resultantes desta harmonia repercute-se ao nível da sorte, do bem-estar, do progresso, e, acima de tudo, da saúde. As inúmeras alterações que os ingleses fixados na ilha imprimem às diversas quintas tem muito que ver com esta realidade. Será que teremos um recurso às técnicas orientais, baseadas no FENG-SHUI, para estabelecer no espaço da Quinta a harmonização das cinco energias ou elementos (água, fogo, madeira, metal, terra)? O jardim chinês não se constrói, mas emerge do quadro natural com uma profusão de montanhas, vales, morros, rios, lagos, de forma a poder concentrar-se neste espaço restrito a força da vida, aquilo que os chineses designam de CHI. Não só se copiam os modelos dos jardins chineses, como a organização do espaço obedece a uma determinada ordem e a combinação destes diversos elementos faz-se de uma forma harmónica. É neste contexto que podemos situar o aparecimento dos lagos, das pontes como elementos essências na estrutura dos jardins. E também não serão por acaso as formas, linhas e espaços, como e onde se dispõem as plantas, nomeadamente os buxos, em forma de labirintos, ou em construções geométricas que parecem lembrar mandalas ou outras de carácter dito exotérico, cujo significado nos escapa porque nunca lhes demos atenção nestas perspectivas e de acordo com os conhecimentos orientais, que não a da função decorativa. As nossas casas de prazeres encontram similitudes na China com os pavilhões abertos, locais para contemplação da Lua (recorde-se que os chineses seguem o calendário lunar) ou de deleite, que pode ir do beber vinho ao namorar e escrever poesia. Em síntese, podemos afirmar que em qualquer dos momentos assinalados as ilhas cumpriram o papel de ponte entre civilizações e culturas e de espaços de adaptação da flora em ambos os sentidos. As ilhas foram, assim, viveiros de plantas, hospital para acolher os doentes da tísica pulmonar e outros visitantes. O deslumbramento, a harmonia com a natureza acompanham o interesse científico e convivem lado a lado na cidade, jardins e quintas. As ilhas, que começaram por ser jardins mitológicos, adquirem a função de jardins reais onde a variedade botânica convive lado a lado com as técnicas ocidentais e orientais de organização destes espaços. A técnica de construção de jardins teve na ilha evidentes mudanças no século XIX.
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