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Pró-cannabis e entorpecentes: tolerância ainda que tarda
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Dentre os diversos aspectos referentes aos direitos humanos, podemos ressaltar para o presente artigo: o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e a proteção do estado de direito, para que o homem não seja compelido, como um último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão. Como se sabe, no Brasil é proibido o uso recreacional, medicinal e industrial da maconha e, inclusive, é proibido manifestar apoio à causa, sob o risco de prisão por apologia. Nossa constituição assegura nosso direito à liberdade de expressão, ao mesmo tempo que proibe levar adiante este assunto, como uma mordaça sutil. Assim, um importante evento organizado em São Paulo, em plena Avenida Paulista, ocorre no dia 6 de novembro de cada ano e é chamado de Passeata Verde Pró-Cannabis. Apesar da pequena participação no último encontro de maconheiros, vê-se que os interesses vigentes dos altos escalões do poder ainda são resguardados e predominam: a repercussão da passeata foi marcada, mais uma vez, por repressão policial, na qual foram distribuídas bombas de gás e cassetadas aos manifestantes. E uma das bandeiras da passeata é apenas a reformulação das leis quanto ao uso e plantio da erva. O uso de substâncias psicotrópicas parece ser tão antigo quanto a humanidade. As primeiras referências sobre a papoula, de onde é extraído o ópio, se encontram em tábuas sumerianas, na Mesopotâmia, datando de três a quatro mil anos antes de Cristo. Na América do Sul, desde tempos imemoriais, o homem usa a coca. Mascando suas folhas, os índios adquiriam vigor e energia. Na América Central, o peyot é largamente usado em cerimônias religiosas. Atitudes revolucionárias no campo filosófico e espiritual marcaram época nas décadas de 60 e 70, tais como o advento do movimento beat (movimento de contracultura, de contestação do ?American Way of Life?) e o movimento hippie, o qual apresenta como principal vertente a base estético-existencial do movimento beat. A geração beat foi, antes de qualquer coisa, um projeto estético, como todo o movimento que tem a arte como base. Uma forma de viver e pensar onde a estética do risco estava sempre presente.Seus precursores estão na vanguarda européia, de William Blake, Rimbaud e Baudelaire. Algumas décadas antes esses escritores viviam sua própria geração, com suas próprias drogas, no caso dos franceses o absinto, e encaravam uma barra parecida em relação ao sistema constituído. Muitos criadores europeus buscaram refúgio na América fugindo do horror nazista, artistas como Breton e Max Ernst, Duchamp e Léger, e deixaram a semente de uma vanguarda fértil que logo germinou. A partir de inúmeras experiências realizadas por importantes psicólogos e poetas da contracultura, e demonstrações sobre os efeitos e a discussões sobre o uso de drogas, foi comprovada a capacidade da droga de conectar diversas pessoas por meio de laços de empatia, e a percepção de diferentes realidades compartilhadas com as experiências. Importantes escritores dessa época tais como Jack Kerouac, William Burroughs, Neal Cassady, Aldous Huxley, e outros, buscavam estados alterados e intensificados de consciência e escreveram importantes obras quanto a experiências de drogas e relatos abrangentes quanto a iniciação com amigos e estranhos nos prazeres da maconha e de outras drogas alteradoras da mente. Os psicólogos Timothy Leary e Richard Alpert realizaram experiências marcantes em Harvard, onde estudavam o impacto da psilocibina (princípio ativo presente em cogumelos alucinógenos) a grupos de presos e a grupos de estudantes da própria universidade, em mais de uma centena de sessões experimentais, com administração oral da droga. As experiências de drogas em Harvard passaram a tomar grandes proporções, com o advento de cada vez mais estudantes querendo tomar parte das sessões. A efervescência da consciência das drogas acarretaram em incidentes ocasionais que acabaram chamando a atenção das autoridades. Em relação a usuários de álcool e cigarro, ocorrências de overdose com maconha ou drogas lisérgicas, ou mesmo tentativas de suicídio são certamente muito menos prováveis e freqüentes. Também com base em interesses conservadores e com fins de manipulação, diretores da universidade ficaram irritados com as reclamações de pais e passaram a defender uma reação antidrogas. O grupo de pesquisa de drogas do Dr. Leary passou a ser controlado pela CIA, e as linhas de pesquisa de drogas passaram a ser conduzidas com fins de tortura e obtenção de informações de prisioneiros de guerra. Durante e pós-década de 70, mesmo com a realização de inúmeras manifestações culturais movidas a psicotrópicos, foram e são gastos bilhões de dólares com repressão e inúteis programas de desinformação sobre drogas. Em várias passagens históricas (Revolução Francesa, Revoltas no Norte e Nordeste do Brasil, entre outras), a participação de levantes populares foi essencial para a mudança de panoramas políticos vigentes. No que concerne aos entraves na legislação para a legalização do uso de drogas, é sabido que parte da campanha de alguns políticos seja financiada pelo tráfico e, é lógico, não deve ser de interesse que se libere o uso para a população. Segundo dados da ONU, fazem parte da cultura canábica mundial cerca de 150 milhões de pessoas, embora estatísticas não-oficiais apontem para 300 milhões de pessoas. Nesse montante, o Brasil apresenta mais de 15 milhões de pessoas consumindo toneladas da erva. A liberação da maconha para o consumo e a venda, no Brasil, serviria não só para exterminar a imagem do usuário vagabundo e marginal, como também geraria empregos e renda, juntamente com o bem-estar gerado com o fim da guerra nos morros, a paranóia nas ruas e a superlotação de cadeias. Com o redirecionamento das verbas oriundas do da guerra ?contra? o tráfico e das campanhas publicitárias antidrogas atuais, poderia ser construída uma melhor e eficaz infra-estrutura de amparo e suporte a viciados e a inclusão na área de educação sobre o assunto, como forma de tratamento. Deste modo, a liberação para o uso recreacional iluminaria a mente da sociedade proibicionista e má influenciada, mostrando que é possível acessar outros níveis de realidade e requerer o que todo cidadão tem por direito: escolher o rumo de sua vida desde que não sejam prejudicados pelas demais.
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