Anna Roosevelt começa por apresentar o ponto de vista da teoria ambiental a respeito da ocupação da Amazônia pelas populações pré-históricas de cultura complexa. Segundo essa teoria, o impacto do ambiente úmido sobre o desenvolvimento de culturas indígenas inibiu o crescimento populacional, logo, inibiu também a pressão da densidade populacional sobre o ambiente ? que é o que determina a emergência de culturas mais complexas.
Daí, não ser aceita por essa teoria o desenvolvimento autóctone para a Amazônia de culturas complexas, cuja existência não pode ser negada devido às evidências, ainda que se tente ignorar. Estas culturas podem ter chegado a região através de migrações andinas, ou seja, de regiões áridas e montanhosas, propícias para a adaptação humana e fonte de inovações e, logo, difusão de cultura pré-histórica.
Uma revisão de resultados de trabalhos de campo e de uma produção recente, evidencia para a região uma ocupação e desenvolvimento remotos da Amazônia, sendo possível pensá-la como uma região produtora e difusora de cultura para o resto da América. Diante das evidências recentes (novos resultados de testes radiocarbônicos sobre os indícios pré-históricos dessa região), há de se acreditar que as terrar baixas da Amazônia (várzeas) teriam influenciado o desenvolvimento da agricultura e da complexação de culturas nos Andes. Isto hoje é um consenso.
Além dos indícios arqueológicos, a análise comparativa das transformação ambientais (clima, vegetação, fauna, flora) no período, nos põe em contato com uma Amazônia diferente da que conhecemos hoje. A possibilidade de não ter sido tão densamente coberta por florestas no período pré histórico, de possuir ricos solos aluviais, clima sazonal característico do cerrado, floresta tropical sem vegetação de savana, em áreas que hoje acredita-se terem sofrido desmatamentos, existe ainda a possibilidade dessas áreas terem sido desmatadas propositadamente nesse período pré-histórico, enfim, faz-se levantar hipóteses de que tenha sido mais propícia a ocupação humana que no presente.
Entretanto, esse tipo de relação entre mudanças ambientais específicas e ocupação humana na pré-história, precisa para uma segurança teórica, de um entrecruzamento de evidências paleontológicas existentes.
O porquê do surgimento das primeiras sociedades complexas no Andes (2500-1000 a.C.) e não na Amazônia (1000 a.C.) pode ser explicado a partir dos aspectos ambientais e da demografia histórica, já que a pressão da densidade populacional sobre o ambiente determina uma complexação das relações entre homens, e entre estes e o ecossistema. O problema que fica para a disciplina é:
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a contradição do estágio atual das populações indígenas da Amazônia,
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mesmo quando estas são aceitas como descendentes de grupos marginalizados por altas culturas, que quando desaparecem os deixam livres para se desenvolverem,
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o índio atual da Amazônia parece mais próximo em termos de adaptação ecológico-cultural das antigas populações (de 2800 a.C.) do que dos povos pré-históricos tardios.
A autora coloca a necessidade, a partir disso, de a disciplina procurar elucidar a ocupação indígena de antes da conquista para podermos perceber e compreender as transformações que ocorreram. A arqueologia veio projetando um passado para essas sociedades, subestimando as mudanças provocadas pelo contato com o europeu.
E nesse estudo da ocupação anterior e a transformação posterior, é imprescindível aliar a arqueologia, a etno-história e a etnografia.
