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Educação NOS QUILOMBOS


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Considere: a aculturação rouba a alma de um povo.

?A necessidade imperiosa da formação de professores no tema Pluralidade Cultural. Provocar essa demanda específica na formação docente é exercício de cidadania. É investimento importante e precisa ser um compromisso político pedagógico de qualquer planejamento educacional / escolar para formação e/ou desenvolvimento profissional dos professores.? (PCN. Temas Transversais)

Estima-se que no Brasil haja 1.700 comunidades quilombolas que estão distribuídas em quase todo país. 

O conceito de Quilombo ainda está restrito às denominações de núcleo de escravo fugido; esconderijo de escravo no mato; habitação clandestina; comunidade negra rural; grupos sociais descendentes de escravos africanos. E é está visão estereotipada sobre a representação do segmento negro que ignora o conhecimento científico, técnico, linguístico, estético e a visão de mundo dos africanos e afro-brasileiros. Portanto, estas denotações são limitadas para designar a complexidade desse fenômeno.

Urge pensarmos nestas comunidades como grupos que resistiram ou manifestamente se rebelaram contra o regime escravista e formaram territórios independentes onde a liberdade e o trabalho comum passaram a constituir símbolos de liberdade, autonomia, resistência e diferenciação do regime de trabalho escravista.

Neste contexto, existem cerca de 50 mil estudantes matriculados em 364 escolas localizadas em áreas remanescentes de quilombos que estão concentradas na Região Nordeste.

Quando o conceito de Quilombo é ensinado somente nesse restrito âmbito de ?insolência negra tardia?, semeam e perpetuam-se nos alunos ideologias racistas e eugênicas; miniditaduras e equívocos históricos que ainda perduram há séculos no sistema educacional brasileiro porque são efetivados por péssimos livros didáticos e falácias de autoridades docentes.

Cabe aos educadores a árdua tarefa ética de mudar esse equivocado paradigma secular tendo agora uma visão mais ampla sobre esses grupos que ultrapasse a simples questão fundiária e considere os aspectos étnicos, históricos, antropológicos e culturais.

Os povos africanos não foram responsáveis somente pelo povoamento do território brasileiro e pela mão-de-obra escrava. Podemos destacar algumas contribuições pedagógicas dos povos africanos: oralidade, alunos e alunas contadores de histórias; a circularidade, que é um valor civilizatório afro-brasileiro, pois aponta para o movimento, a renovação, o processo e a coletividade; a musicalidade, que é um dos aspectos afro-brasileiros mais emblemáticos e que está na gênese da música popular brasileira; cooperatividade - a cultura afro-brasileira é cultura do plural e do coletivo. Se a cultura afro-brasileira é a cultura do plural, do coletivo e da cooperação, grande equívoco é ensinar a História do Brasil por líderes, como se eles tivessem agido sem a coletividade.

Caio Prado, em sua obra Formação do Brasil Contemporâneo, ressaltou que o ?trabalho escravo nunca irá além de seu ponto de partida: o esforço físico constrangido; não educará o individuo, não o preparará para um plano de vida humana mais elevado. Não lhes acrescentará elementos morais; e pelo contrário, degradá-lo-á, eliminando mesmo nele conteúdo cultural que por ventura tivesse trazido do seu estado primitivo. As relações servis são e permanecerão relações puramente materiais de trabalho e produção, e nada ou quase nada mais acrescentarão ao complexo cultural da colônia?.


É fundamental rever os currículos dos cursos de licenciaturas e pedagogia, pois os educadores brasileiros ainda são formados a partir de uma visão homogeneizadora e linear da história, conduzindo-os a uma neutralidade que ignora valores básicos da composição pluriétnica da sociedade brasileira.

A pluralidade cultural também é repleta de dinamismo e assume a tarefa de avançar em direção à construção de uma proposta pedagógica multicultural que nunca está acabada, pois o Brasil, que é um país continental, multiétnico onde se vive um intenso sincretismo religioso, nunca estará pronto, com uma única face que o caracterizaria; ele estará sempre ?acontecendo?, se formando.

Os desafios em propor novas metodologias para o ensino de estudos étnicos implicam em reformular currículos e ambientes escolares; articular cultura e identidade; criar oportunidades de sucesso escolar para todos os alunos, independentemente de seu grupo social, étnico, religioso e político.

Em algumas comunidades remanescentes de Quilombos foram realizadas mudanças bem sucedidas na prática pedagógica, com o objetivo de compreender a importância das questões relacionadas à diversidade étnico-racial e lidar positivamente com elas, destacando-se: preservar os recursos naturais existentes na comunidade; valorizar os costumes da cultura afro-brasileira e a preocupação com a importância do resgate histórico da cultura local; re-significar a dinâmica do poder e as relações sociais de dominação.

Desta forma, aboliu-se da prática pedagógica quilombola a desarticulação entre o saber local e a cultura escolar; o espontaneísmo pseudodidático manifesto pela falta de planejamento entre os professores; a manutenção ideológica de que o negro somente contribuiu para a formação da sociedade brasileira como escravo. Buscando-se elementos simbólicos e culturais que influem no processo identitário da comunidade, obtém-se um currículo que atende à especificidade étnica e cultural dos quilombolas.

Trabalhar insistentemente a auto-estima e a conscientização da cidadania da criança negra com a criança não negra, a possibilidade de conhecer uma cultura diferente da apresentada que de maneira alguma está num patamar abaixo ou acima, é conscientizar de que estamos num universo de culturas diferentes que devem ser respeitadas nas suas individualidades. 

Ao estabelecer um canal de comunicação curricular com o mundo, os quilombolas apoderam-se de outros saberes e passam a exercer a plena cidadania brasileira. 








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