O estudo da demografia dos povos primitivos passa, invariavelmente, pela consideração de seu aspecto natural, numa determinada linha de tempo, sem que se haja, durante esse período, contatos externos de grandes dimensões. Essa perspectiva de isolamento de povos vai sofre uma grande ruptura a partir do século XVI, com os efeitos da expansão da civilização européia. Desses efeitos e das posteriores reações da populações primitivas se ocuparão os demógrafos modernos de forma mais intensiva.
No estado anterior ao contato, a população primitiva se encontrava em equilíbrio numérico, estável: taxa de nascimento equilibrada com a taxa de mortalidade. Para tal, recorre, se preciso,a mecanismos eficientes e fora do processo natural de seleção, ?meios de contracepção? e até mesmo infanticídio. Esse controle de natalidade produz uma taxa efetiva de natalidade a que o meio social e econômico (até ambiental) poderia manter; a taxa de mortalidade nessas populações é geralmente uniforme: morre-se por doenças parasitárias e bacteriológicas, por morte ligadas ao ambiente, região em que se vive, por fome, por guerra, etc.
No entanto, um conjunto de circunstancias novas que podem levar uma demografia ao declínio, dá-se quando um grupo se lança em expansão e conquista de outros grupos. A dominação ou o contato faz com que a população primitiva entre em estado de desequilíbrio. A superação desse estado de desequilíbrio marca geralmente o aparecimento de uma serie de mudanças em todos os níveis, chegando mesmo ao desenvolvimento de um novo grupo.
A resposta a perturbação externa segue uma lógica comum: em função dos números e do tempo observamos 2 fases:
1a. de declínio: a população cresce progressivamente podendo chegar à extinção (o declínio vem com o aumento da taxa de mortalidade);
2a. de recuperação: tendencia ao aumento numérico da população. Sobrevém uma alteração qualitativa da raça.
O declínio populacional vem da articulação de fatores, alguns de ordem quantitativa e que contribuem diretamente na queda, e outros que exercem sua influencia de forma mais sutil, porem determinante. São eles:
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o contato físico: a reação ao contato com outro pode insuflar a guerra, onde a mortalidade aparece de forma direta na taxa de mortalidade;
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as enfermidades: exercem influencia mais direta nos números e possivelmente mais catastrófica (epidemias);
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os alimentos: a estabilidade numérica da população está diretamente relacionada com o equilíbrio entre quantidade de bocas (e de braços para produzir) e quantidade de alimentos, onde menos alimento, população menor; mais alimento, população maior. A desestruturação do status quo anterior e uma posterior rearticulação sob novas bases pode causar danos irreparáveis nas formas primitivas de subsistência. Podemos identificar uma coerência e interligação dos fatores da ruptura demográfica: aumento da taxa de mortalidade ? ?é causa ou leva a fome?; causa além de mortes e enfermidades, a má alimentação reduz a taxa efetiva de nascimentos.
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o sexo: o encontro de povos diferentes predispõe a um estabelecimento de relações sexuais que se dão sempre entre homem do grupo vencedor com mulher do grupo vencido. É um relacionamento tenso, não muito favorável para o lado da mulher (e, logo, de seu grupo), podendo afetar a taxa de nascimento, além de produzir tensões sociais e psicológicas que prejudicam a eficiência à nível coletivo. Além de fatores diretos, esse contato pode ainda ocasionar fatores indiretos, são aqueles de ordem econômica e social: praticas econômicas, comerciais; sistema de trabalho, costumes e tradições, religião,ética, etc.