Pesquisa do Inaf mostra que 72% da população brasileira não é plenamente alfabetizada. A qualidade do ensino vem caindo desde a primeira edição do exame Saeb. Seria de esperar que a sociedade estivesse clamando por melhorias urgentes da escola e de seus funcionários, que deveriam estar temerosos da desaprovação dos pais e preocupados em melhores seu desempenho. No Brasil ocorre praticamente o oposto. Em uma ampla pesquisa da Unesco que pedia aos docentes para identificar quais os fatores que mais influenciam o aprendizado de seus alunos, o vencedor disparado foi ?acompanhamento familiar?, com 78% dos votos. ?Competência dos professores? ficou com apenas 32%. Raramente é colocada a função primordial da escola na tarefa de ensinar qualquer aluno de qualquer origem familiar ou social. Frequentemente ouve-se a pergunta: Como seria possível ensinar com uma família que ?não apóia??

Apesar de a escola não cumprir o seu papel no ensino e ainda transferir a responsabilidade para o próprio aluno e sua família, os pais brasileiros estão contentes com a escola do filho. Em pesquisa do Inep com 10.000 pais do país, a nota dada à qualidade do ensino foi 8,6 (!). Para entender esse resultado é necessário entender quem são esses pais. São pessoas de baixíssima formação acadêmica e pouco grau de informação. Eles não possuem, portanto, conhecimento suficiente do processo escolar, nem acesso a fontes de informação mais aprofundadas, que lhes permitam entender que a qualidade do ensino do filho é fraca. Eles comparam a escola que cursaram com a de seu filho, baseados apenas no que é visível e concluem que a última é melhor. O pouco envolvimento na vida estudantil do filho não é fruto de desinteresse ou desamor. Não é preciso ser psicólogo para imaginar a profunda frustração e humilhação sentidas por uma mãe que, por causa de suas próprias carências, não consegue ajudar o filho a fazer o dever de casa. Quem passa por esse tipo de constrangimento relutará em repeti-lo. Nossos professores devem entender que a incapacidade de ajudar os filhos com os deveres de casa ou a estudar não é fruto de menosprezo pela educação, mas sim de despreparo. Nossa escola precisa se preparar para educar as crianças brasileiras, filhas de pais brasileiros, inseridos na realidade brasileira. Por mais que um professor se lamente e condene os pais de seus alunos, ele não fará com que aquele pai se torne um companheiro de estudos do filho. Em uma situação como essa, a atuação de cada professor é ainda mais importante. A escola é a porta de saída que o aluno tem de um ciclo intergeracional de ignorância e miséria. Longe de poderem lavar as mãos e culpar os outros, é nessa situação que os funcionários de uma escola devem se preocupar em dar sempre mais de si.  A grande dificuldade é chegar aos pais dos alunos, informar-lhes que a escola de seu filho é fraca e que a cobrança que hoje vem do professor para os pais deve ter sentido inverso. Como se isso não bastasse, ainda temos de penetrar a redoma de incomunicabilidade dos semiletrados, que não lerão este artigo, nem as notícias dos jornais sobre educação, nem livro algum sobre o assunto.

Precisamos que os bacharéis que colocam os filhos em escolas particulares ajudem seus concidadãos menos afortunados a clamar por uma escola pública melhor, invertendo, assim, a percepção de grande parte da população a respeito do estado brasileiro, que deve parar de ser visto como o provedor generoso que concede benefícios e passar a ser encarado como prestador de serviços que está aí para atender à vontade do cidadão, financiado pelo imposto que nós pagamos. A opção por ignorar o que se passa à nossa volta só continuará nos levando à barafunda do desconhecimento e do atraso.

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