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psicopedagogia - escuta e olhar
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Quando a criança ou o jovem chega ao consultório do psicopedagogo, vem acompanhado de sua história familiar, escolar e sócio-política. O que lhes trouxe, ou seja, a queixa, também vem envolvida de valores, agentes ocultos e moldada à dinâmica e ao funcionamento familiar e escolar do paciente. O psicopedagogo tem, como alicerce de sua intervenção, não somente os dados reais ou os fatos apresentados, mas sim o que está por trás, o oculto e que poderá tomar forma e sentido através do olhar e da escuta psicopedagógica. Destacamos cinco pontos que consideramos que, uma vez articulados e em uma interação dinâmica, podem tornar-se os principais agentes formadores dessa postura. São eles: 1 ? A transmissão do real O discurso é um instrumento de análise fundamental para o psicopedagogo. Suas variáveis assumem valores diferentes em situações diferentes. O diagnóstico psicopedagógico é antes de tudo uma investigação e, nesse sentido, o discurso, a postura, a atitude do paciente e dos envolvidos são pistas importantes que ajudam a chegar nas questões a serem desvendadas. É através do desenvolvimento do olhar e da escuta psicopedagógicos, trabalhados e incorporados pelo profissional que poderão ser lançadas as primeiras hipóteses à cerca do indivíduo. Esse olhar e essa escuta ultrapassam os dados reais relatados e buscam as entrelinhas, a emoção, a elaboração do discurso inconsciente que o atendido traz. 2 ? A compreensão psicopedagógica Da mesma forma que no discurso, as entrelinhas são o centro do interesse, os desdobramentos evolutivos do paciente tem igual valor na busca de uma compreensão psicopedagógica. Busca-se o processo, a construção e não apenas fatos históricos congelados. Dessa forma, a compreensão psicopedagógica circunda as idéias em busca da abertura de novos caminhos que possibilitem a leitura articulada de como a criança ou o jovem incorpora seus conhecimentos e relaciona-se com sua produção. Ou seja, suas modalidades. Essa compreensão, porém, não é construída apenas por uma via é também e principalmente, uma construção individual; formada pela bagagem teórica, prática e pessoal. 3 ? A atitude clínica O psicopedagogo promove a articulação e a organização do paciente ao ouvi-lo. Cria o vínculo e inaugura um novo espaço com o mesmo: o da confiança. A atitude clínica é baseada na escuta e na tradução do discurso. Tal tradução busca compreender os possíveis ?nós? existentes. Esses ?nós? podem ser desatados através do que Fernandes aponta como emergência da história mítica, vinda do somatório entre a escuta, o olhar, o discurso oculto e a compreensão trabalhada do psicopedagogo (comentada no item anterior). Nesse sentido, diversos autores apontam à necessidade de que os saberes do profissional sejam norteados pelo estudo do organismo, do corpo, das inteligências em suas diversas manifestações e da relação com o aprender e o saber (o desejo). Tais estudos devem ser embasados por uma teoria psicopedagógica construída na práxis e pelo conhecimento articulado do que pode constituir e obstruir o processo de aprendizagem do ser cognoscente em sua condição de ser único, inclusive os distúrbios de aprendizagem. 4 ? O lugar analítico é construído pela atitude clínica, ou seja, o escutar e o traduzir. É através dessa dinâmica que o psicopedagogo oferece um espaço de confiança e de escuta livre de julgamentos ou idéias pré-concebidas. Não há porque buscar mocinhos e bandidos nessa história. Esse posicionamento permite a organização e a elaboração das idéias formadoras do discurso (seja ele verbal ou corporal) e maior percepção pelas fraturas surgidas no mesmo, pois são exatamente essas fraturas os indícios do inconsciente. A postura do profissional, somada aos seus conhecimentos e à articulação de sua práxis serão os instrumentos para a construção do lugar analítico. 5 ? O saber psicopedagógico A formação que o psicopedagogo busca para si é degrande importância à medida que ressignifica seus saberes adquiridos pela vida e pelas teorias estudadas. È uma construção pessoal e individual. Os caminhos são traçados enquanto se caminha fazendo com que surja um processo único. Pela proposta de seu trabalho, o psicopedagogo responsável, comprometido e ético - valoriza sua formação continuada e, consciente de suas limitações, deve buscar um trabalho que possibilite sua auto-análise e seu conhecimento, pois este é o único caminho para a construção do saber psicopedagógico formado pela práxis, a supervisão e a auto-análise. Conclusão O espaço transicional que a clínica psicopedagógica oferece (através dos jogos, do vínculo e de sua dinâmica) é o lugar gerador do olhar e da escuta psicopedagógica. Este espaço possibilita também enganos, julgamentos e pré-conceitos que facilmente poderão surgir apoiados em nossos paradigmas sociais e valores pessoais. Portanto, torna-se mister que o profissional posicione-se em um lugar analítico e assuma uma atitude clínica que exija a incorporação de conhecimentos que formarão sua postura profissional. Uma vez que compreendemos a prática psicopedagógica como área multidisciplinar do conhecimento sobre o ser cognoscente, não vemos outro caminho a não ser o da formação pessoal e profissional constante e continuada. O profissional precisa ressignificar-se e questionar-se. Precisa mover-se constantemente em busca da ampliação dos horizontes e da criação de novos. Abrir caminhos reais e subjetivos. Tornar-se autor e permitir-se reformulações. È exatamente no sentido da ressignificação das próprias questões e atitudes; e na busca constante de si que se desenvolve uma escuta e um olhar não enrijecidos ou pré-formatados, mas sim ávidos pela dúvida e impulsionados pela constante curiosidade crítica. Heloisa Ribeiro
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