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Aprendemos com as Crianças
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APRENDEMOS COM AS CRIANÇAS Rubem Alves (comentários sobre a conferência ministrada durante o III Seminário Internacional da primeira Infância, em 25/11/2005) ?As crianças tem olhos para coisas fantásticas; fica adulto é ficar meio cego? ... Assim Rubem Alves iniciou sua fala para afirmar que nós, adultos, e isto inclui os educadores, não nos permitimos viver, perceber, sentir como as crianças. Faz uma aproximação dos pequenos com os velhos, os idosos, os anciãos, afirmando que estes, pelo tempo vivido e pelo descompromisso de ?ser certo?, como o tem cada adulto que precisa exercer seu ?papel? social, acabam conseguindo a proeza de voltar a ser infância, experimentar coisas realmente sensíveis e criativas, permitir-se entrar em contato consigo mesmo e com o mundo sem as defesas que todos os ?homens e mulheres? de negócios, trabalhadores, educadores, pais... acabam utilizando em seu dia-a-dia. Chega a afirmar que pai e mãe são um empecilho à ação educativa, pois só criam problemas. Até aqui, concordo com quase tudo, mas acho que, como educadores, precisamos auxiliar a Família a se envolver mais com os filhos, a ser um pouco ?infantil? e um pouco ?ancião?. Isto, porque, se os adultos perdem a capacidade, a possibilidade de se entregarem a si mesmos, de vivenciarem sentimentos e fantasias, é porque estão envoltos demais num mundo sem valores, numa exigência consumista e imediatista, que os faz mais duros do que realmente são, possivelmente a Escola possa ser o lugar que ofereça a oportunidade de voltar à sensibilidade infantil. Este é um desafio muito importante, visto que, na Família, as possibilidades são bem mais estreitas do que na Escola, no entanto, nem sempre são vividas como poderiam ser. E para que a Escola possa ser este lugar de novas e interessantes vivências, é preciso resgatar entre os educadores a capacidade de aprender com as crianças. Como Rubem Alves, mesmo, citou nas palavras de FERNANDO PESSOA: ?Quando as crianças brincam e eu as ouço brincar, alguma coisa em minha alma se põe a alegrar...? Pois, conforme tais afirmativas, aprender a ?brincar? significa saber olhar, aprender, sentir com os ?olhos da alma?, aqueles que não filtram, não mascaram, não interpretam... apenas vêem! Portanto, Escola deve ser um lugar que envolva as crianças e os adultos, incluindo suas famílias, em uma grande experiência lúdica, que promova a aprendizagem. Do contrário, corre o risco de se tornar reprodutora do engessamento dos sentimentos, das sensibilidades, das possibilidades de enxergar o mundo com outros olhos. Acredito que esta seja uma maneira muito profunda de promover uma renovação educativa capaz de resgatar valores mais humanos e sensíveis ao outro, capaz de remover a idéia de competição, ganância e individualismo que tem deturpado nossa sociedade. Ao mesmo tempo, é preciso repensar o que estamos fazendo com a nossa capacidade de respeitar o jeito de ser de cada um, a essência de cada pessoa. Porque, quando exigimos do outro que responda apenas ao que se espera, está se engessando sua capacidade de SER e acabando com a possibilidade de que ele mostre suas POTENCIALIDADES verdadeiras. Cito as palavras que Rubem Alves usou e sua conferência: ?Sou o intervalo entre os meus desejos e os desejos que os outros fizeram de mim...? (Fernando Pessoa) Ou seja, se acabo seguindo as EXPECTATIVAS dos outros e não aprendo a SER quem eu posso ser, nunca viverei a minha história, a autoria não será minha! E talvez seja isto que Rubem Alves queira dizer quando afirma que precisamos APRENDER COM AS CRIANÇAS, pois elas são autênticas e exigem de nós apenas a nossa autenticidade também, coisa que nem sempre estamos prontos a oferecer. Em geral, como pais, educadores, cuidadores, queremos aplicar muitas teorias e deixamos de lado a capacidade de perceber, sensivelmente, o que uma criança necessita. Perdemos a oportunidade de brincar, cantar, rolar na grama, imaginar super-heróis, construir castelos na areia, brincar de carrinho com caixinhas, embalar uma boneca imaginária, dançar ao som de uma doce melodia... Deixamos as coisas muito mais complicadas do que poderiam ser, caso nos espelhássemos nas brincadeiras infantis: autênticas e sensíveis! Para finalizar esta reflexão, é importante citar a sugestão de leitura que Rubem Alves deixou em sua conferência. O autor chama-se Bachelard, e seu livro A POÉTICA DO DEVANEIO. Cita um dos capítulos como fundamental para embasar este assunto que acabei de explorar: Os Devaneios Voltados para a Infância. Afirma ele que este é um capítulo fascinante em termos de exposição do que é ser criança e saber brincar. Isto, porque, diz Rubem Alves, tudo que não condiz com a teoria do mundo adulto acaba sendo considerado devaneio, loucura... Mas não poderia ser o contrário? Os anciãos, os idosos, vivenciam devaneios parecidos e são considerados, muitas vezes, pessoas em processo de ?senilidade?, internadas em locais que lhes limitam a própria vida. Por isto, diz Rubem Alves, os avós se dão tão bem com seus netos... e os pais só atrapalham a educação! Vamos, como educadores, aproximar mas estes mundos? Ou deixaremos de brincar para viver só o mundo adulto dos conceitos?
Luciana Winck Corrêa ? psicóloga clínica e escolar, formada pela PUC-RS
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