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A TOLERÂNCIA E O RESPEITO ÀS DIFERENÇAS
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A TOLERÂNCIA E O RESPEITO ÀS DIFERENÇASObservamos os dois extremos do limite da tolerância através de duas situações diferentes, a primeira cena seria a do paraíso onde Deus estava tolerante a qualquer ato, onde havia apenas uma proibição, o desejo pelo fruto proibido, que seria o limite de sua tolerância e o ser humano teria que pagar por tal pecado. A segunda cena é proposta pela polícia de New York onde o nível de criminalidade havia atingido o limite de segurança dos cidadãos, foi então criado o programa tolerância zero, onde qualquer infração por menor que fosse seria penalizada, caracterizando-se a intolerância total. Estes dois exemplos servem para pensarmos em questões frente à tolerância: Existem limites externos ditados por terceiros para a tolerância? Não é apenas um acordo entre pessoas que decidem tolerar-se? Uma das partes, a que tem maior poder irá decidir o que é possível tolerar? Considero que em alguns casos a assim dita tolerância serve como defesa social para esconder uma moralidade perversa do poder constituído, porém quero enfocar dois conceitos diferentes de tolerância um psicossocial, sob o vértice da filosofia, da religião e o social, o outro, é biológico utilizado em psiquiatria e em imunologia. O conceito de tolerância surgiu durante as guerras religiosas dos séculos. XVI e XVII, e foi definida para lidar com as atitudes adotadas por algumas pessoas na tentativa de conseguir uma convivência entre católicos e protestantes. Consideramos que os fatos atuais ocorridos na Irlanda nos demonstram que esta atitude ainda não vingou. O conceito psicossocial pode ser entendido como: o teológico, que significa indulgência a certas doutrinas, mas que sempre existirá um limite dado pela religião dominante; o político, enquanto respeito às premissas e praticas políticas, também limitado a uma ordem prescrita e aceita pelo grupo do Poder; e o social, enquanto atitude compreensiva frente às opiniões contrárias nas relações interpessoais. Entendo aos dois primeiros conceitos como morais e o terceiro como mais ético, pois observa as relações interpessoais. Entendo que para o caso dos acertos ou das verdades dos outros, o indivíduo deverá tolerar são os seus pré-conceitos e as suas angustias frente ao novo, o desconhecido, ou à inveja que esse fato possa causar. O outro conceito de tolerância, o biológico, é utilizado pela saúde mental para demonstrar a tolerância do organismo a ação das drogas psicotrópicas. Mas esta tolerância pode ser vista tanto para substâncias químicas externas (cocaína, álcool, cigarro, antidepressivos, etc), como também podem ser abstratas internas provindo dos desejos humanos destrutivos (workaholic, jogadores compulsivos, bulemia, etc.). Articulando o conceito de tolerância com o de poder a partir de Sigmund Freud, onde analisa o nexo entre DIREITO e PODER e que podemos substituir pelo conceito de PODER e TOLERANCIA para a solução dos conflitos de crise intelectual, de valores ou dos maus costumes. Freud diz que frente a um conflito com o outro, o indivíduo resolveria este tipo de crise através da morte do outro, este ato além da vantagem de eliminar o conflito, serviria de exemplo para terceiros além de satisfazer as pulsões. Outra possibilidade, proposta por Freud, para a solução deste conflito seria o da submissão do inimigo pelo medo, deste modo o inimigo amedrontado poderia ser utilizado também para outros fins, porém este ato tem um custo, deve-se aprender a lidar com o ódio do inimigo e perde-se um pouco de segurança. A terceira possibilidade é a de transformar a sociedade até que se alcance o império do Poder, nessa sociedade a maioria mais violenta tem o Poder e o Direito, a conseqüência é a de que exista um maior poder da comunidade e um menor poder individual. Será o Poder desta sociedade quem ditará os limites da tolerância. Como disse Platão ?a justiça é o interesse dos mais fortes?, parafraseando Platão podemos dizer que o limite da tolerância é determinado pelo interesse do mais forte. Um exemplo onde a sociedade tentou lidar de maneira compreensiva com o pluralismo humano, foi a criação da ONU que deveria manter o equilíbrio eqüitativo entre as nações, mas esta instituição foi tolerante frente a invasão dos EUA ao Iraque. Esta tolerância se deve ao fato de que a ONU, que tem essa função, não tem o poder para exercê-la, mais do que isso, dentro da ONU existem cinco Países que tem o poder de veto a qualquer proposta internacional, portanto são estas cinco nações quem irão delinear os limites de tolerância no mundo. Portanto a demanda pela tolerância me faz pensar muito em uma relação paternalista onde existe um dono da verdade, uma postura ortodoxa absoluta, que apenas tolera uma relação e tudo quanto seja novo, porque não tem outra forma para lidar com os conflitos. Se analisarmos a tolerância do ponto de vista de uma relação emocional, podemos dizer que a tolerância cria uma relação de aceitação perversa entre o tolerante e o tolerado. Por outro lado entendo que a autonomia do individuo não significa apenas atuar os desejos, pois eles se impõem, neste sentido os nossos desejos são paternalistas. Creio que exista autonomia quando podemos confrontar os nossos desejos com a realidade e atuar de acordo à uma organização consciente, que se estrutura através do aprendizado obtido das nossas experiências sociais e emocionais. Entendo que eticamente se falamos em liberdade humana falamos mais no respeito à autonomia das pessoas, da capacidade de lidar com as angustias de saber que não somos donos da verdade absoluta e, que muitas vezes as pessoas que qualificamos como menos desenvolvidas não o são. Este tipo de atitude significa respeito às diferenças. Posso dizer que a tolerância equivale a um paternalismo socialmente aceito, a sociedade tolerante tem os critérios de bem e mal definidos, portanto será tolerante para algumas pessoas, porém será intolerante para as pessoas com outros critérios de bem e de mal. Assim como o oposto do amor não é o ódio, mas sim a indiferença, o oposto da tolerância não é a intolerância, mas sim o respeito às diferenças.
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