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A Metrópole e a Vida Mental
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A idéia central que é proposta por Simmel nesse seu artigo é a de que a vida em sociedades urbanizadas é capaz de gerar conseqüências psicológicas nos indivíduos que dividem o espaço das cidades. E, para defender-se dessas conseqüências na maioria das vezes nefastas, os cidadãos metropolitanos são levados a adotar uma série de comportamentos como contatos superficiais (evitando assim o excesso de estímulos nervosos), intelectualização do ?self?, e até mesmo o que o autor chama de atitude blasé. Esses comportamentos seriam necessários para a manutenção da estabilidade psíquica nos grandes centros urbanos, segundo Simmel. Simmel utiliza muito o método comparativo, na maioria das suas obras vê-se presente a comparação entre o meio urbano e o meio rural, além disso, nesse texto ele abre um amplo diálogo com a psicologia e com a psiquiatria. Os principais conceitos abordados no texto são o de espaço urbano (como o espaço onde as relações se dão através do comércio, ou seja, da circulação de moeda); a relação dicotômica entre a dependência gerada pela divisão social do trabalho e a autonomia conquistada nos espaços urbanos; a idéia de indivíduo multifacetário que possui liberdade para vivenciar diferentes aspectos de sua identidade; comportamento mental urbano que seria caracterizado pelo distanciamento das relações afetivas, a instauração de relações primordialmente mecânicas direcionadas a determinados fins e feitas através da moeda; intelectualização que seria exatamente esse afastamento do indivíduo do excesso de relações e estímulos afetivos numa grande sociedade; e a atitude blasé que seria basicamente a indiferença do indivíduo que tem ao seu alcance tudo que deseja através da moeda sem precisar manter contato mais íntimo com os demais cidadãos urbanos. O texto de Simmel aborda como com a expansão do mercado, da circulação da moeda e da generalização das trocas monetárias, criou-se um processo de racionalização do próprio indivíduo. Partindo do mesmo lugar de onde Weber inicia sua análise da formação do espaço urbano, Simmel também vê a cidade como um local de mercado em essência. Porém, ao contrário de Weber, Simmel procura nesse artigo dar um enfoque aos aspectos subjetivos que são causados pela vida urbana nos indivíduos. Dando ênfase aos comportamentos que os indivíduos metropolitanos adotam em prol de sua estabilidade psíquica, pois a tese sustentada pelo autor é a de que num grande centro urbano, o homem está permanentemente exposto aos mais variados estímulos nervosos e pode haver uma espécie de ?overdose? desses estímulos, desestabilizando emocionalmente o morador urbano. Para impedir que tal fato ocorra, postula-se que os indivíduos metropolitanos adotam certa ?vida mental? para que possam continuar a viver nessa sociedade, isso incluiria um distanciamento das relações afetivas. O comportamento blasé, mencionado pelo autor, refere-se ao processo de indiferença aos produtos necessários à sobrevivência. Além disso, há que se ressaltar a intelectualização dos indivíduos através de um distanciamento cada vez maior dos seus concidadãos, muitas vezes feito através de uma espécie de desconfiança excessiva e de uma atitude de reserva. O espaço urbano seria, portanto, um espaço dicotômico, pois, criaria cada vez mais relações de dependência através da divisão social do trabalho, porém essas relações seriam suprimidas e ao invés de relações pessoais de dependência, os indivíduos teriam relações mediadas por algo neutro: papel desempenhado pela moeda nessa economia. Assim, o indivíduo estaria mentalmente protegido do excesso de estímulos nervosos dos contatos cotidianos. Ao mesmo tempo, a esfera da autonomia seria desenvolvida cada vez mais, pois haveria maior liberdade aos indivíduos e menor coerção típicas de pequenos grupos sociais, essa liberdade permitiria o surgimento de indivíduos multifacetários capazes de expressar os mais diferentes aspectos de sua identidade. A sociedade urbana geraria assim, comportamentos específicos nos indivíduos que a compõem através da inserção social mecânica ditada pela circulação de moeda, ou seja, as relações urbanas seriam via mercado. Simmel é um dos pioneiros, e o faz com brilhantismo, a adentrar os meandros psíquicos dos indivíduos ?nativos? das sociedades urbanas modernas. Sua descrição do afastamento e das posições adotadas são facilmente reconhecíveis nos sujeitos modernos e o que torna o texto ainda mais fascinante é que o seu conteúdo não se esgota, afinal a cada dia que passa essas atitudes ?blasé? e de indiferença se intensificam. Uma sacada brilhante é mostrar que cada vez mais a cultura, assim como os indivíduos nela inseridos, vem perdendo seu lado subjetivo, ou seja, como cada vez mais a cultura tem se tornado mais um aspecto do mundo objetivo e uma parede de objetivação que liga os indivíduos ao mercado. Genialidade é um dos aspectos do texto, pois, mantêm-se original e adequado para se pensar desde a era pós-Revolução Industrial até os dias atuais, ou seja, no contexto de globalização. Quantos de nós não nos vemos muitas vezes inseridos de forma mecânica na sociedade por via da troca de moeda, quem de nós realmente pára para pensar em quem produziu ou como foi produzido o objeto que de consumo que aspiramos? As relações que mantemos durante o dia são incontáveis, assim como as atitudes, olhares e posturas de indiferença que prevalecem nessas mesmas relações. Essa é, sem dúvida, uma das facetas mais interessantes do texto ?A Metrópole e a Vida Mental?, além de ser densamente rico teoricamente, nós dá ferramentas para pensar nossa própria vida em sociedade e a nossa inserção na sociedade. O texto de Simmel por dar um passo à frente dos demais e colocar em xeque a autenticidade das relações sociais estabelecidas dentro do contexto urbano.
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