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A Passo de Caranguejo


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Existem alguns autores que respeito sobremaneira. Aqueles que tanto estão aqui como acolá. Que conseguem cruzar com toda a naturalidade as fronteiras de géneros literários. Os que tanto são capazes de redigir um livro de leitura obrigatória para uma licenciatura de base (Semiótica e Filosofia da Linguagem), como de escrever um magistral romance de características históricas (O Nome da Rosa), uma narrativa intimista sobre a memória individual (A Misteriosa Chama da Rainha Loana) ou ainda este delicioso A Passo de Caranguejo . Neste último, Eco junta um conjunto de textos escritos entre 2000 e 2005 (conferências e artigos de jornal) onde expressa o seu ponto de vista (o seu olhar pessoal) sobre a actual situação do seu (e nosso) mundo. Cheguei a uma conclusão curiosa. Ao contrário do que julgava (até determinado ponto da minha vida), a ideologia não é universal. Os valores é que o são. A ideologia é uma construção humana, contextualizada numa determinada cultura e num concreto espaço e tempo. Assim posso afirmar que sou "de esquerda" em Itália (pelo menos no sentido em que Eco o é) e nos Estados Unidos (pelo menos em que o é Al Gore). Não posso esquecer o texto de Eco em que este recorda uma novela de Isaac Asimov (no texto "Como eleger um Presidente"). E como ele faz a ligação entre a escolha do computador MULTIVAC e a actual nomenklatura partidária que nos limita o direito de escolha, impondo-nos os próprios termos de escolha. É como dizer a alguém que tem toda a liberdade do mundo: pode ficar presa, sentada ou de pé. Entre críticas ao regime mediático de Berlusconi (que, bem vistas as coisas, se assemelha a boa parte das estratégias de governação mundiais, desde Lula da Silva no Brasil, Fidel Castro em Cuba, Tony Blair em Inglaterra e José Sócrates em Portugal), uma das mensagens principais é a de um incontornável optimismo e fé. Optimismo no progresso alicerçado no diálogo. Fé no progresso que resultará desse diálogo. A outra mensagem que se retira deste magistral (e Eco é, acima de tudo, um Professor da Universidade de Bolonha) livro, é que uma coisa são os Estados Unidos da América e outra coisa é o mundo. E ambas não são sinónimas nem antónimas uma da outra. São realidades distintas portadoras de diversos interesses e necessidades. Haja é respeito pela diversidade e não se opte pela fraqueza do argumento da força das armas... A ler, com carácter obrigatório, por quem se interesse pelo mundo em que vive.


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