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A ilusão do desenvolvimento
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Arrighi, Giovanni. A ilusão do desenvolvimento. Ed. Vozes, Petrópolis, 1997
Raquel Rocha Baseando-se em Schumpeter 1 , segundo o qual, o surgimento de uma nova tecnologia é responsável pela saida da economia de um estado estacionário para um estado de expansão, Arrighi argumenta que o capitalismo tende a gerar inovações que rompem qualquer ordem pré-estabelecida. Para Arrighi, no sistema capitalista, as inovações econômicas são protegidas e incentivadas pela inter-relação entre Estado, domicílio e empresa, que atuam a fim de assegurar a continuidade do fluxo circular da vida econômica. Aliás, lembra Arrighi, é a intermediação das empresas no fornecimento de subsistência e proteção que o diferencia dos sistemas sociais anteriores. A destruição progressiva do padrão pré-existente e a criação de novas relações seria causada pela própria busca por segurança econômica que induz, segundo o autor, as empresas a engendrarem novas combinações insumo-produto capazes de elevar sua participação nas rendas empresariais, revelando, assim, o caráter 'posicional' da competição entre as empresas e uma atuação muito mais competitiva que a atuação dos domicílios e dos Estados. Por isso, as empresas são líderes no processo de acumulação desigual que acaba por gerar sempre uma nova onda de competição. Arrighi descreve a fase competitiva em três estágios. No primeiro, verifica-se uma relativa melhora das condições econômicas que resulta do estabelecimento de relações mais estáveis de cooperação e complementaridade no sistema interempresas. O segundo estágio começa quando a competição por recursos comprime as rendas empresariais e leva as empresas a optarem pelas racionalizações generalizadas. Esse processo faz com que as empresas menos capazes de substituir e economizar sejam eliminadas ou subordinadas às empresas mais capazes. O terceiro estágio é instaurado quando os sobreviventes estabelecem novos acordos que fazem cessar os efeitos destruidores da competição 'excessiva'. Ou seja, as fases de competição e de relativa estabilidade alternam-se . Arrighi faz referência ao processo histórico da acumulação primária dos primordios do capitalismo na Grã-Bretanha que, segundo o autor, por sua posição central, forneceu às empresas britânicas mercados compradores, insumos primários e meios monetários de forma a sustentar a Revolução Industrial antes que ela ganhasse impulso próprio. De acordo com o autor, a Revolução Industrial tirou a economia mundial do impasse do capitalismo inicial através da ênfase na especialização empresarial, no entanto, desencadeou um aumento secular das pressões competitivas que as empresas capitalistas do núcleo orgânico exerceram umas sobre as outras. Tal processo levou a um novo impasse que, segundo Arrighi, pode ser provocado por uma super acumulação. Ou seja, a acumulação capitalista do final do século XX teria destruído, em larga medida, suas bases sociais e começado a transformar suas próprias instituições numa direção pós-capitalista. Arrighi apresenta como tese central o argumento de que o impasse da acumulação da atual fase competitiva, diferentemente da fase competitiva do final do século XIX, não apresenta nenhuma solução capitalista óbvia. Diante das contradições atuais, poder-se-ia argumentar que mesmo que o processo de racionalização capitalista tenham completado sua missão na zona do núcleo orgânico, há muito o que fazer pelas zonas periféricas e semiperiféricas do mundo. Presa entre remunerações crescentes na zona do núcleo orgânico e um ambiente hostil na zona periférica, a acumulação capitalista pode estar se aproximando de seus limites históricos. Para tanto, argumenta Arrighi, faz-se necessário abandonar o postulado de que desenvolver-se e industrializar-se sejam a mesma coisa. A industrialização geralmente é buscada, não como um fim em si mesmo, mas como um meio na busca por riqueza, poder, bem-estar e/ou por uma combinação desses elementos. Arrighi afirma que apenas uma minoria da população mundial desfruta da riqueza democrática e o faz somente por meio de uma luta perene contra as tendências excluidoras e exploradoras, através das quais, a riqueza oligárquica dos Estados do núcleo orgânico é criada e reproduzida. Para o autor, os Estados podem até cruzar o golfo que separa a periferia da semiperiferia, mas o que cada Estado periférico pode realizar é negado aos outros. Com relação aos países semiperiféricos, como o Brasil, embora seja válida a tentativa, o autor diz ser quase impossível que esses consigam transpor o golfo que os separa da fortuna do núcleo orgânico da economia mundial como chegou a acontecer com o Japão.
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