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O pensar e o agir como possível desconstrução dos sujeitos ?gendrados'


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Maria Inês Santos é professora da Universidade de Fortaleza ? UNIFOR. Sua comunicação enfoca a ruptura epistemológica pós-moderna, que se dá nas ciências sociais, na arte e na cultura como um todo, e que põe em crise, no âmbito do feminismo, a suposta identidade universal da mulher, essa identidade que é uma marca da modernidade. Segundo a autora, a primeira tarefa nessa mudança epistemológica foi a desconstrução do conceito weberiano de patriarcado, até então tomado como explicação para a subordinação das mulheres, o que impedia o alargamento de possibilidades de projetos emancipatórios para as mulheres, com a exclusão de outras formas de relação que não fossem regidas pela dominação masculina. Esse processo de crítica ao conceito de patriarcado levou ao conceito de gênero, que é amplamente considerado a maior ruptura epistemológica dos últimos vinte anos do século XX. Essa nova postura não significou eliminar a dicotomia natureza-cultura, mas colocar a natureza (nesse caso, o corpo) como também culturalmente (ou socialmente) delineado como o gênero (cultura).

Um dos pontos mais enfatizados pela autora é que a questão do gênero é necessariamente relacional, ou seja, não se pode entender o feminino sem fazer referência ao masculino, e vice-versa. Nessa perspectiva, Michel Foucault, com seus conceitos de ?formas de subjetivação? e ?micro-física do poder?, foi fundamental para a desconstrução da visão tradicional de patriarcado, ainda que tenha recebido a crítica por não compreender a sexualidade como gendrada. A partir dessas considerações, a autora parte para um painel dos papéis e representações do feminino no Brasil e em outras partes do mundo, com ênfase na análise que Bourdieu faz da sociedade cabília, no Mediterrâneo. Dá relevância às influências dos aparatos religiosos (especialmente católicos) e educacionais na manutenção de práticas e valores arraigados na construção social de masculinidade e feminilidade. É importante anotar que novos caminhos para pensar o sujeito do feminismo surgem na tentativa de desconstrução de categorias abstratas e universalizantes. Esse sujeito, em que pese ser gendrado, no âmbito da tradição androcêntrica, é, para teóricas como Lauretis, também aquele que ocupa o space-off, o outro lugar desse discurso, também como agente de desconstrução. Ou é, para outra vertente, representada por Saffioti, aquele sujeito do feminismo que, mesmo convivendo com o status quo, implode representações sociais e discursivas opressoras, sem, portanto, ocupar um lugar marginal.

Finalmente, para que o processo de desconstrução dos papéis sexuais tradicionais seja bem-sucedido, são necessárias duas atividades, com base em Hannah Arendt: o pensar, no campo espiritual ou intelectual, e o agir, no campo das relações sociais, entre as quais se coloca o querer ou a vontade. E finaliza reafirmando o caráter relacional e reativo do feminino em referência ao masculino, reciprocamente.



Texto publicado em: AMARAL, Célia Chaves Gurgel do (org). Teoria e prática dos enfoques de gênero. Salvador: REDOR, Fortaleza: NEGIF/UFC, 2004. p. 41-63.




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