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De Braços Abertos - Segunda Parte
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VII ? Uma Pergunta
Desde sempre somos contemplados com uma situação vexatória e infame que nos agride até a medula dos ossos: estrangeiros de pele branca que contemplam magnetizados e plenos de interpretações idílicas as favelas brasileiras. Justamente as favelas que emporcalham a nossa imagem e auto-estima enquanto nação! As favelas são como documentos urbanos que revelam de forma sanguínea, verídica, oficial e inconteste as mazelas mais imundas de nossa sociedade e História! Como então, vira-e-mexe aparece um tarado social a contemplar os morros cariocas e demais 'lócus' de aviltante exploração e fomento da miséria com olhos cobiçosos? O que enxergam e apreciam para que isso renda tanta estultice?
VIII- Debret Fetichista
A última que me coube foi a notícia de que certa fotógrafa francesa inaugurou a pouco uma exposição retratando, qual um Debret fetichista e malignamente cínico, as cenas do cotidiano imoral da Rocinha, desfilando cores, sorrisos, harmonias, brejeirices e outras quitandas pútridas, como sendo um real universo de felicidade e desapego de uma população mestiça não mais dependente do Estado.
Esta acintosa interpretação já seria um espetáculo de canalhice e pobreza moral dos mais deslavados, mas não bastando, a Dita Cuja ainda apresenta os traficantes, os agenciadores do tráfico, as arraias miúdas do tráfico, os capitães do contrabando de armas e tutti quanti como beneméritos e eficientes gestores do coletivo: heróis e não abutres que se banqueteiam com as vidas e carnes dos desvalidos... É possível esse disparate? Parece-me que sim, já que esta recebeu todas as loas possíveis em seu torrão natal e as de certa elite de má consciência das plagas tupiniquins.
IX- Seios Desnudos e Escuros
Mas essa pitoresca interpretação de um Brasil que nunca se assume escravagista, racista, ineficiente, acomodado, machista, predador e covarde, não é nova: desde os cronistas iniciantes da Europa que aqui desovaram os ?ovos da serpente? ainda no século XVI até o futuro ?ad etaernum? sempre virão com o mesmo olhar perturbado de desprezo e desejo em igual medida, tal qual os doces jesuítas pós-adolescente que contemplavam extasiados os seios desnudos e escuros das ameríndias de Pindorama.
O estrangeiro que contempla os morros e fuça impudente as cloacas da miséria nacional com olhos de glutão em regime, ainda é vítima desta malsinada tara: a melanina das carnes subdesenvolvidas sempre será para este, o atestado da animalidade e do demoníaco de nossas populações, mas sem que possa negar são irresistíveis afrodisíacos ao olhar, olfato, paladar e ideologia. Como negam polidamente o desprezo, a responsabilidade histórica e moral na produção de tanta tragédia, de tantas ruínas, de tanto aviltamento, saudosamente vêem nisso tudo o paraíso redescoberto, confundindo araras com anjos e traficantes com líderes sociais...
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