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A CONDIÇÃO CYBORG
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A CONDIÇÃO CYBORG
SANTOS, Lionês Araújo dos1
1. Introdução
?O Devir da humanidade é um devir cyborg. O primeiro homem, que de uma pedra faz uma arma e um instrumento, é o mais antigo ancestral dos cyborgs? O termo Cyborg é uma acrossemia de CIBerneticORGanism, ou seja, organismo cibernético formado por ? natureza? e ?artifício? onde o corpo funde-se com objetos da técnica, tornando-se, portanto, um híbrido. Segundo o professor da Universidade Federal da Bahia, André Lemos, o cyborg confunde-se com a própria história da humanidade. Para Lemos (2008, p.165), ?a questão do cyborg pode ser colocada como estrutural da própria humanidade e como característica inegável de cibercultura?. O cyborg constitui um processo imanente à própria evolução da sociedade. Hoje, na sociedade contemporânea, a condição cyborg encontra na cibercultura seu ponto de referência mais digno de manifestação.
2. Cyborg protético
André Lemos nos fala que podemos pensar em dois ?ideais tipos? de cyborgs: o interpretativo e o protético. Concentramos nossa atenção aqui no cyborg protético. O cyborg protético é aquele ?colonizado? por artifícios da tecnologia e da engenharia genética, um verdadeiro híbrido de material orgânico e inorgânico. Um exemplo apresentado por Lemos sobre essa espécie de cyborgização é o do famoso físico inglês Stephen Hawking que vive numa cadeira de rodas motorizada. Sua voz é uma voz maquínica, gerada por circuitos digitais. Um outro exemplo de cyborg protético no campo da arte da performance apresentado por André Lemos é o caso do ciber-artista australiano, Sterlac. Segundo Lemos, Sterlac utiliza o corpo como espaço, numa junção ?corpo-máquina?. ?Sua obra se resume a uma tentativa de estender o corpo humano com ciber-mecanismos, visando, assim, redefinir o humano?. O corpo de Sterlac torna-se palco para novas experiências, transformado numa espécie de corpo; metade carne, metade ciberespaço. Além de Hawking e Sterlac, temos vários outros exemplos de ciborgs protéticos. Muitos deles, menos evidente mas que, um olhar mais atento denuncia a sua condição cyborg. Como exemplo; temos as pessoas que utilizam próteses em seus corpos, como silicones, dentes postiços, marcapassos, lentes e outros artifícios em que se associa o biológico ao tecnológico, natureza e artifício. Segundo Lemos (2008, p.171), ?chegou-se a afirmar que os cyborgs protéticos são 10% da população americana?.
3. O corpo ?hipertexto? marcado por múltiplos poderes
Uma questão interessante levantada por Lemos é a da virtualização da cultura contemporânea onde o corpo torna-se ?hipertexto?, objeto de inscrição, marcado por excessos e por múltiplos poderes. Lemos (2008) nos fala de seis possibilidades do corpo enquanto superfície de escrita. O corpo como espaço de escrita: ideológico (o corpo inscrito nos fluxos da moda), epistemológico (o corpo cínico, travestido), semiótico (o corpo como signo flutuante), tecnológico (os média, as redes telemáticas, as nanopróteses), econômico (o corpo desejo de consumo) e político (o corpo das massas). Nota-se, portanto, as várias faces de atravessamento e possibilidades do corpo na sociedade contemporânea. Graças ao desenvolvimento da engenharia genética e das novas tecnologias informáticas, a cibercultura se consolida cada vez mais como um espaço privilegiado de novas experiências dos indivíduos com o mundo, com os outros e consigo mesmo.
4. Considerações finais
Por certo, a característica cyborg da espécie humana, está diretamente ligada a um desejo de romper limites que a natureza os impõe. Mas afinal, como romper os limites da natureza se é esta a que os contituiu no seu berço? O processo de cyborgização talvez, seja a via de escape encontrada pela espécie humana. Assim, as possibilidades de romper as limitações impostas pela natureza não implica no afastamento, mas na simbiose, na integração natureza/cultura. Talvez, encontramos aí a resposta para a pergunta do que é ser humano. Um ser que produz cultura, de natureza ?aculturada?, criador de ficções, produtor de linguagens e sentidos e que está acima de suas limitações orgânicas e, portanto, diferencia-se de outros viventes os quais não operam nas mesmas perspectivas da espécie humana. Por fim, encerramos esse breve esboço fazendo uso das palavras de Lemos (2008, p.164) quando diz que: ?A cultura e a natureza só podem ser compreendidas em relação. Elas não existem como entidades puras?. Eis aí evidente, a idéia de uma Cultura ?naturalizada? e de uma Natureza ?aculturada?.
5. Referência
LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2008.
1 Lionês Araújo dos Santos ? Mestrando ECCO/IL -UFMT e bolsista da CAPES sob orientação do prof. Dr. Juan Felipe Sanchez Mederos. Blog: www.ciberfuturo.blogspot.com
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