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O MITO É NECESSÁRIO AO HOMEM?
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O mito, apesar de ser um conceito não definido de modo preciso e unânime, constitui uma realidade antropológica, pois representa uma explicação sobre a gênese do homem e do mundo e, também, traduz por símbolos a forma como um povo ou civilização entende e interpreta sua existência. É uma narrativa de conteúdo religioso, que procura explicar os principais acontecimentos da vida por meio do sobrenatural. O conjunto de narrativas desse tipo e o estudo das concepções mitológicas encaradas como um dos elementos integrantes da vida social é denominado mitologia. O mito relata aquilo que realmente se manifestou, sendo as suas personagens principais seres sobrenaturais, conhecidos pelos seus feitos em tempos remotos. Revelam a sua atividade criadora e mostram a ?sobrenaturalidade? ou a ?sacralidade? das suas obras, ou seja, apontam e apresentam as dramáticas eclosões do sagrado ou sobrenatural, dando origem ao mundo tal como conhecemos. Muitas histórias mitológicas conservam-se na mente das pessoas, oferecendo uma certa perspectiva daquilo que acontece em suas vidas. Aquilo que os seres humanos têm em comum revela-se no mito o qual tem como tema fundamental à busca da espiritualidade interior de cada sujeito. A narração mitológica envolve basicamente acontecimentos supostos, relativos a épocas primordiais. Seu objeto é a apresentação de um conjunto de ocorrências fabulosas com que se procura dar sentido ao mundo. Além disso, aparece e funciona como mediação simbólica entre o sagrado e o profano, condição necessária à ordem do mundo e às relações entre os seres. Crê-se nele, sem necessidade ou possibilidade de demonstração. Rejeitado ou questionado, converte-se em fábula ou ficção. Em seus enredos são freqüentes as transformações temporárias ou definitivas das personagens, seja em outras figuras humanas ou em animais, plantas, astros, rochas e outros elementos da natureza. As transformações ocorridas nos momentos críticos da vida individual e social são objetos de particular interesse antropológico: nascimento, ingresso na vida adulta, casamento e morte. Estes fatos são marcantes para o sujeito e sua comunidade. O mito liga-se diretamente à necessidade do homem alcançar a transcendência através da sua espiritualidade, das suas crenças, da sua fé. Surge como algo que abranda os ?espíritos? descontentes com a realidade, ajudando-os a adaptarem-se a ela. As competências espirituais incluem a habilidade de controlar diretamente a experiência, manipulando a herança cultural, transmitida ao longo dos séculos, que aumentam a harmonia entre os pensamentos, emoções e vontades pessoais. É difícil compreender porque razão as contribuições espirituais são consideradas tão importantes pela maioria das sociedades. Entretanto, produzem harmonia entre desejos contraditórios, encontram significado nos acontecimentos casuais da vida e reconciliam os objetivos humanos com as forças que se lhes opõem a partir do meio. Além disso, aumentam a complexidade ao explicar os sentimentos da experiência individual, tentando mostrar que são legados culturais. Estes esforços para levar harmonia à mente baseiam-se numa crença em poderes sobrenaturais e são instrumentos para resolverem conflitos e desordens. Como meio de comunicação, o mito relaciona-se com questões de linguagem e da vida social, uma vez que sua narração é própria de uma comunidade e de uma tradição comum. Na ciência psicanalítica, Freud deu nova orientação à interpretação dos mitos e às explicações sobre sua origem e função. Mais que uma recordação ancestral de situações históricas e culturais, ou uma elaboração fantasiosa sobre fatos reais, seriam uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo. Já, para Jung, os mitos seriam uma das manifestações dos arquétipos que surgem do inconsciente coletivo da humanidade e que constituem a base da psique humana. A existência do inconsciente coletivo permite compreender a universalidade dos símbolos e dos mitos, pois eles se revelam em todas as culturas e em todas as épocas de modo idêntico. O papel do mito é extremamente importante na constituição da cultura. Contribuiu para o desenvolvimento individual e coletivo. Também permite a tomada de consciência sobre a vida instintiva, possui a capacidade de gerar padrões de comportamento que garantem a evolução psicossocial e a atitude criativa perante a vida. Além disso, não deixam de representar a história da humanidade, dando um sentido à existência afetiva e espiritual. Os mitos em suas ações possibilitam referências (in)conscientes a um padrão adequado de comportamento, ou seja, quando uma pessoa se sente envolvida pela temática de um herói, trata-se de um indicativo de qualidades ainda não definidas ou refletem, simbolicamente, o comportamento que é necessário ser desempenhado pelo sujeito em alguma área da sua vida. Em suma, os heróis possuem a função de reportar ao comportamento adequado para introduzir ou corrigir o indivíduo na perspectiva da sua totalidade. No processo de análise psíquica, eles são extremamente úteis como mecanismos de amplificação de focos psicológicos, principalmente, quando o ser humano possui uma enorme dificuldade em perceber seus comportamentos negativos. Por conseguinte, os mitos, por serem expressão de arquétipos, permitem à pessoa rever-se neles e remodelar as suas posturas. Os mitos, devido à sua riqueza simbólica, promovem a saúde, independentemente ou não de se entender o seu significado simbólico. Eles possuem uma eficácia por si mesmo. Relacionado a algum tipo de comportamento, serve para ampliar o conteúdo afetivo. Quando não facilita a percepção do que era inconsciente, pelo menos envolve o sujeito em outros parâmetros de conduta, possibilitando uma reformulação das ações numa perspectiva de uma postura mais saudável de viver, amenizando o seu sofrimento. REFERÊNCIAS: BETTELHEIM, B. ?A psicanálise dos Contos de Fadas?, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980; DIECKMANN, H., ?Contos de fadas vividos?, São Paulo: Paulinas, 1986.
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