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A Herança Branca da Identidade Negra - parte 1
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A HERANÇA BRANCA DA IDENTIDADE NEGRA
A identidade negra e africana, expressão de simbologia, tradições e significados próprios, foi, através do processo histórico brasileiro, miscigenada à outras culturas também formadoras deste conjunto nacional ou ela foi destruída pela ideologia do dominante : o português , dentro do contexto histórico , ou esta identidade perdura até os nossos dias em resquícios , redutos e com significados próprios originais ou não ? Salta-me aos olhos a desigualdade econômica, social e cultural no Brasil e ainda mais quando percebo que das raças formadoras da Identidade Nacional, o elemento negro, desde o primórdio, ocupou uma posição inferior na estrutura social que perdura até a atualidade, evidenciando a exclusão social do negro em nossa sociedade. Entretanto, não só a exclusão social e econômica evidenciados no processo histórico brasileiro tornou-se fato. A exclusão de valores culturais da identidade negra é percebida em múltiplos casos históricos ou do cotidiano em nossa realidade. Como por exemplo, a história de Xica da Silva, que como nos foi contada a história pelos meios oficiais e apesar do tom revolucionário, reproduzia a aparência de uma Dona Portuguesa, adequando-se, desta forma, à cultura dominante. Entretanto , me questiono , seria esta atitude uma conivência ou mera pressão das classes dominantes pela supremacia da sua cultura em detrimento da cultura negra. É como hoje , na instituição da beleza , o alisar dos cabelos , o afilar do nariz e tantas outras características que os negros adotam para se parecerem com o branco. Será que a adoção de padrões brancos os ajudariam a ser menos excluídos culturalmente , já que economicamente e historicamente já o são? Por esses motivos e tantos outros como a questão social do Preconceito Racial , e da percepção de uma estruturação da identidade atual brasileira alicerçada em bases muito tênues , que desperto o meu interesse sobre este tema , na esperança de que nossa história , nossos valores , nossas raízes , sejam de fato o elemento preponderante de uma Identidade Nacional , ao invés de estarmos presos nas teias da globalização , muitas vezes , sem conteúdos culturais próprios ,reproduzindo novas Identidades que não são adequadas ao nosso contexto nacional. Nos primórdios, o processo da escravização em terras africanas não foi um fato inexpressivo. Basta rever a colonização portuguesa das terras africanas para perceber o grau de resistência dos negros, não só pelo cativeiro, mas quando transplantados na América Portuguesa, na resistência inicial da miscigenação cultural. Assim, relatam os historiadores sobre o culto do fogo, como Julia Peterkin, que ressalta o mito do fogo na história de mamãe Hannah, caracterizando assim, um dos elementos culturais negros mais sólidos. Com a expansão do comércio marítimo na América portuguesa e, em seqüência, o aumento do tráfico negreiro, principalmente voltado para terras fluminenses, como nos relata Manolo Florentino e João Fragoso, através do magnífico trabalho ?O Arcaísmo como Projeto? percebi que a escravidão não foi um fato tão tranqüilo assim. Dos dez milhões de almas que desembarcaram dos portos africanos, somente no Brasil, e, em grande parte, através do porto carioca, quarenta por cento desses, para cá vieram. Imaginemos quatro milhões de pessoas! E, se abagagem lhes era pouca, variados eram seus hábitos, seus modos de pensar e de fazer, sua cultura afinal. Que a escravidão em muito contribuiu para que boa parte das práticas culturais dos negros fossem deixados na África não é difícil imaginar, entretanto, a reprodução do seu modus vivendis em terras brasileiras foi fato expressivo em nossa história.
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