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As Contradições do Espaço Público Mediatizado


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A democracia pressupõe a existência de um espaço público onde sejam debatidos, de forma contraditória, os grandes problemas do momento. Este espaço simbólico, inseparável do princípio da ?publicidade? e da secularização, é uma das condições estruturais do funcionamento da democracia.

Este espaço público remete para uma sociedade aberta, urbanizada, na qual as relações sociais estão marcadas por uma forte valorização do indivíduo, tanto no plano do trabalho, como do consumo. Mas este espaço caracteriza-se também pela organização de massa no plano do trabalho, no consumo, dos tempos livres ou da educação.

O espaço público é um lugar simbólico, por vezes o único, onde se pode gerir esta característica contraditória das sociedades actuais. O alargamento do campo da política confere aos media um papel central no domínio da produção e difusão da informação.

A informação dos media sobre os acontecimentos, por um lado, e a informação das sondagens sobre o estado de opinião, por outro, são a condição de funcionamento do espaço público alargado da democracia de massa, onde coexistem três parâmetros contraditórios: a liberdade e a pluralidade da informação; a valorização do indivíduo; uma sociedade marcada por estereótipos. Analisemos dez contradições do espaço público mediatizado.

1- A tirania do acontecimento

A redução de toda a informação à escala do acontecimento, ao instante e ao directo, acaba por deformar a informação já que ela tem de se moldar à velocidade dos acontecimentos. Há uma contradição entre a rapidez da informação, que resulta numa simplificação, e a complexidade dos problemas sociais.

2- O expositor mediático

O conhecimento que possuímos sobre realidades que não experienciamos é inegavelmente superior devido à cobertura mediática, mas paralelamente conhecemos cada vez menos através da experiência directa. ?Há um conhecimento da realidade que precisa de tempo e de uma certa experimentação, que são ambos contraditórios com o esquema racional da informação que domina nas nossas sociedades, com a lógica do acontecimento, a instantaneidade das sondagens, a frieza das estatísticas e a distância dos inquéritos.? Além disso, a saturação da informação pode conduzir também à rejeição dos media e da classe mediático-intelectual-política.

3- Uma comunicação sem tabus

A ideia de que a organização da comunicação se deve reger apenas pelas leis de mercado tem sido defendida por diversos actores envolvidos no sector. Porém, se o domínio da comunicação contribui significativamente para a representação e percepção que os cidadãos têm da realidade política e social, dever-se-ia regulamentar os media, e não o contrário. ?A liberdade da comunicação não pode servir unicamente para favorecer as indústrias da comunicação, porque, além destas indústrias existem cidadãos, valores e situações que ultrapassam o âmbito de uma indústria.?

4- A estandartização

Uma vez que vários actores se exprimem sobre vários temas, todos eles utilizam parcialmente o mesmo tipo de discurso lógico e racional dominante no espaço público. Tudo é susceptível de ser comunicado, de modo mais ou menos político, cuja consequência é o inevitável estabelecimento de esquemas dicotómicos. Conforme se tiver esta ou aquela percepção sobre educação, saúde, sexualidade, etc., ser-se-á de esquerda ou de direita, conservador ou progressista.

5- A personalização

O alargamento do espaço público e do papel dos media na sociedade acentuam os fenómenos de personalização. A identificação transforma-se na condição de enunciação do discurso, mas há problemas culturais, económicos, estéticos que não se coadunam a fórmula de identificação, pelo que tendem a ser eliminados.

6- A identificação acção-comunicação

Cada vez mais, falar é agir, nomeadamente em política. Esta relação tende a inverter-se em favor da comunicação. Os políticos perdem cada vez mais tempo a delinear estratégias de comunicação para valorizar a sua acção e melhorar a sua imagem junto do público. Para compreenderem as linhas de evolução da opinião pública nas suas sociedades, os políticos são obrigados a seguir de perto as sondagens, fonte do seu discurso e da sua acção.

7- O tema da transparência

A ideia comum é que os media e as sondagens asseguram uma boa visibilidade da realidade social e suas diferentes componentes. Porém, esta suposta transparência é ilusória, na medida em que não nos permite participar nos actos políticos, apesar de nos dar a entender o contrário.

8- O irenismo comunicacional

Com o alargamento do espaço público e o confronto político institucionalizado através da palavra, existe a tendência para se confundir a dimensão comunicacional necessária ao confronto político com o consenso político.

9- A ?aldeia global?

Quanto mais fácil é comunicar, mais nos apercebemos da diferença de natureza entre técnica e conteúdo da comunicação. Num mundo onde tudo é visível a principal restrição está na recepção, porque são os códigos de linguagem, culturais, religiosos, históricos que constituem os quadros através dos quais os diferentes públicos se informam e comunicam. Se pode haver uma mundialização da informação do lado da produção e da difusão, o mesmo não acontece do lado da recepção.

10- Um espaço público sem fronteiras.

O princípio de publicidade tornou-se a regra, de tal forma que existe uma quase coincidência entre espaço público, espaço político e sociedade civil. O lado negativo é que a generalização da comunicação contribui para unificar as categorias do discurso e os quadros de análise utilizados no espaço público.

Conclusão:

A comunicação é hoje a condição funcional e normativa do espaço público e da democracia de massa, mas ela não pode, por si própria, garantir a qualidade do funcionamento deste espaço público democrático, que pressupõe valores políticos relativamente heterogéneos perante os valores comunicacionais.



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