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Sobre a Televisão (Parte 2)
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(Continua de Parte I referida em baixo em 'Links importantes) ------------------------------------------------------------------------------------ 2- A ESTRUTURA INVISÍVEL E OS SEUS EFEITOS Para compreendermos o mundo do jornalismo temos de conhecer as relações desse universo, o campo jornalístico, com as outras esferas da vida política, social, económica, etc. Quotas de concorrência Há entre os diversos órgãos de informação relações de força objectivas na disputa por quotas de mercado, influência junto dos anunciantes, capital colectivo de jornalistas de prestígio, etc. A concorrência económica entre os canais de televisão ou entre jornais é realizada através da competição desenfreada entre os jornalistas, ainda que essa competição não seja vivida nem pensada como uma consequência da concorrência comercial entre os diversos órgãos informativos. Depois de um período em que foi subjugada politicamente e culturalmente ao poder de Estado, a liberalização dos órgãos de informação em geral e da televisão em particular viria a instaurar o domínio simbólico e económico da televisão no campo do jornalismo, facto que pode ser confirmado pela crise generalizada da imprensa. Uma força de banalização ?(?) a televisão pode reunir numa noite durante o jornal das vinte horas mais pessoas do que todos os diários franceses da manhã e da tarde juntos. Se a informação fornecida por um meio de comunicação semelhante se transforma numa informação omnibus sem asperezas, homogeneizada, vemos que efeitos políticos e culturais que daí podem resultar.? A televisão, atingindo um público muito diversificado, evita tudo aquilo que possa dividir, excluir, abomina tudo o que possa ser foco de problemas e de conflitos, coloca na margem todos os problemas que carecem de reflexão mais aturada. Os jornalistas exercem uma forma de dominação por deterem os meios de produção e difusão da informação, meios que lhes permitem dar visibilidade a certas realidades e ocultar outras. No caso da televisão, para além da selecção operada pelos jornalistas, há ainda o problema da adequação daquilo que se vai difundir à ?linguagem televisiva?. Actualmente, é cada mais notório o desenvolvimento de um discurso crítico em relação à televisão por parte dos jornalistas da imprensa escrita, discurso que deve ser entendido no contexto de uma relação de supremacia da televisão relativamente aos jornais. Nos dias de hoje, é a televisão que marca a agenda dos acontecimentos; um tema só se torna central depois de ser lançado na televisão. A questão que se coloca hoje à imprensa escrita perante a dominação da informação televisiva, é a do modelo futuro a adoptar: reconhecer e legitimar o domínio da televisão, seguir uma linha editorial semelhante à dos telejornais; ou acentuar a diferença, diferenciando o produto. A influência da televisão Actualmente todos os campos da produção cultural estão cada vez mais submetidos à coacção estrutural do campo jornalístico, campo que, por sua vez, se encontra dominado pela lógica comercial e impõe noutras áreas as suas próprias coacções. A televisão é um poderoso instrumento de consagração e exclusão, quer nomeando e seleccionando as grandes figuras, os grandes intelectuais, os grandes artistas, quer omitindo ou mesmo negligenciando méritos a outras personalidades. Sendo a televisão o mais eficaz instrumento de comunicação, aquilo que ela difunde tende a instaurar-se como valor. Sobre o conflito latente entre os intelectuais e os jornalistas diz Bordieu: ?Tenho a convicção de que um certo número de cínicos, os profetas da transgressão, os fast thinkers de televisão e os historiadores jornalistas, autores de dicionários ou de balanços do pensamento contemporâneo por gravador, se servem deliberadamente da sociologia ? ou do que dela compreendem ? para operar golpes de força, golpes de Estado específicos no campo intelectual.? A colaboração Se a televisão tem o poder de consagrar figuras de mérito discutível, figuras que poderão ter um peso jornalístico desproporcional ao seu peso específico na sua área específica, impõe-se então a questão: devem os intelectuais colaborar com a televisão, submetendo-se aos seus critérios específicos de valorização e rejeição? A INFLUÊNCIA DO JORNALISMO A autonomia de um órgão de difusão está dependente das receitas provindas dos anunciantes e do apoio do Estado. A autonomia de um jornalista depende: 1- do grau de concentração da imprensa; 2- da posição do jornal no espaço dos jornais (mais intelectual, mais comercial); 3- da sua posição no jornal; 4- e da sua capacidade de produção autónoma da informação. O jornalismo está cada vez mais dependente da sanção das audiências e, consequentemente, da lógica de mercado. Procurando o exclusivo e a novidade, os órgãos de informação batem-se pela prioridade na obtenção da informação através da vigilância constante sobre o que os outros concorrentes noticiam. É assim que a concorrência, em vez de diversificar a oferta, acaba homogeneizar a informação. Os efeitos da intrusão Os intelectuais-jornalistas, ao pertencerem a dois universos distintos (Filosofia e Jornalismo, por exemplo), exercem dois efeitos: ?por um lado, introduzir formas novas de produção cultural, situadas num lugar intermédio mal definido entre o esoterismo universitário e o esoterismo jornalístico; por outro, impor, nomeadamente através dos seus juízos críticos, princípios de avaliação das produções culturais que, dando a ratificação de uma autoridade cultural às sanções de mercado e reforçando a inclinação espontânea de certas categorias de consumidores para a alodoxia, tendem a reforçar o efeito de nível de audiência ou de best-seller list sobre a recepção dos produtos culturais e também, indirectamente e a prazo, sobre a produção, orientando as escolhas (as dos editores, por exemplo) para produtos menos exigentes e mais vendáveis?
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