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A estrutura do noticiário estrangeiro
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A APRESENTAÇÃO DAS CRISES DO CONGO, CUBA E CHIPRE EM QUATRO JORNAIS ESTRANGEIROS 1. Introdução Esta análise e as suas conclusões sobre os factores que influenciam o fluxo de notícias no estrangeiro baseia-se na comparação da apresentação em quatro jornais noruegueses de três crises no estrangeiro. O mundo é composto por actores individuais e nacionais. Uma vez que a acção se baseia na imagem que o actor faz da realidade, a acção internacional será baseada na imagem da realidade internacional. Analisaremos aqui os media enquanto modeladores de imagens internacionais. Interessa-nos saber, dos acontecimentos até à notícia, como é que se transformam em notícias?
2. A teoria O mundo pode ser comparado a um conjunto de estações radiodifusoras, cada uma a emitir o seu programa no seu próprio comprimento de onda. A emissão é contínua, correspondendo ao axioma de que está sempre algo a acontecer no mundo. Uma vez que não podemos registar tudo, temos de fazer uma selecção e a questão é saber o que chamará a nossa atenção.
F1- Se a frequência do sinal estiver fora da sintonia, não se fará o registo. Aplicado aos acontecimentos em geral, significa que quanto mais a frequência do Acontecimento se assemelhar à frequência do meio noticioso, mais hipóteses terá de ser registado como notícia.
F2- Quanto mais forte for o sinal e quanto maior for a amplitude, mais provável será a audição dessa frequência. Quanto maior for o acontecimento, maior será a ênfase que lhe é atribuída.
F3- Quanto mais claro e inequívoco for o sinal, mais provável será audição dessa frequência. Quanto menos ambiguidade houver, mais o acontecimento será notado. É preferível um acontecimento com uma interpretação clara ao que é altamente ambíguo.
F4- Quanto mais significativo for o sinal, mais provável será a audição dessa frequência. Aquele que procura o acontecimento dará particular atenção ao familiar, ao semelhante, enquanto o distante culturalmente passará ao lado mais facilmente. Um acontecimento pode também ocorrer num lugar culturalmente distante, mas estar carregado de significado para o leitor ou para o ouvinte.
F5- Quanto mais consonante for o sinal com a imagem mental do que se espera encontrar, mais provável será a audição dessa frequência. Uma pessoa prevê que algo acontecerá e cria uma matriz mental para maior facilidade na recepção e no registo do acontecimento. Quando se quer que ele aconteça, a matriz é ainda mais preparada, de tal forma que pode distorcer as percepções recebidas e proporcionar imagens consonantes com o que se queria.
F6- Quanto mais inesperado for o sinal, mais provável será a audição dessa frequência. É o inesperado dentro dos limites do significativo e do consonante que prende a atenção de alguém. O que é regular e institucionalizado, contínuo e repetitivo, não atrai muita atenção.
F7- Se um sinal for sintonizado, é provável que mereça a pena escutá-lo. Quando alguma coisa atinge os cabeçalhos e é definida como notícia, continuará a ser definida como notícia durante algum tempo, mesmo que a amplitude seja drasticamente reduzida.
F8- Quanto mais um sinal for sintonizado, mais valerá a pena sintonizar um tipo de sinal diferente na próxima vez.
Esta hipótese pressupõe um equilíbrio na quantidade de informação dedicada a cada tema. Estes são os factores que facilitam e dificultam a percepção. Mas também há factores culturais que influenciam a transição dos acontecimentos para notícias:
F9- Quanto mais o acontecimento disser respeito às nações de elite, mais provável será a sua transformação em notícia. As nações de elite, tal como as pessoas de elite, são mais importantes que as outras.
F10- Quanto mais o acontecimento disser respeito às pessoas de elite, mais provável será a sua transformação em notícia.
F11- Quanto mais o acontecimento puder ser visto em termo pessoais, devido à acção de indivíduos específicos, mais provável será a sua transformação em notícia. O acontecimento é visto mais como uma consequência das acções de pessoas, do que como o resultado de forças sociais. A apresentação dos acontecimentos assemelha-se à tradicional análise histórica personificada. Porquê? 1- A personificação é resultado do idealismo cultural. 2- A personificação é uma consequência da necessidade de significado e de identificação. 3- A personificação é o resultado do factor-frequência. 4- É uma consequência da concentração elitista. 5- A personificação está mais de acordo com as modernas técnicas de recolha e apresentação de notícias.
F12- Quanto mais negativo for o acontecimento nas suas consequências, mais provável será a sua transformação em notícia. As notícias negativas são preferidas às positivas porque: 1- Satisfazem melhor o critério de frequência. Existe uma assimetria básica entre o positivo, que é difícil e leva tempo, e o negativo, mais fácil e menos moroso. Ex. compare-se o tempo que se leva construir uma casa e o tempo que se leva a destruí-la. 2- Serão mais facilmente consensuais e inequívocas acerca da interpretação do acontecimento. 3- São mais consonantes com algumas pré-imagens dominantes do nosso tempo. 4- São mais inesperadas do que as positivas, mais raras e menos previsíveis.
Estes doze factores não são independentes, existem interligados. Imaginemos que todos estes factores estão operando: 1- Quantos mais acontecimentos satisfizerem os critérios mencionados, mais possibilidades terão de serem registados como notícias (selecção) 2- Logo que uma notícia é seleccionada, o que a torna noticiável de acordo com os factores, será salientada (distorção) 3- Tanto o processo de selecção como processo de distorção terão lugar em todas as fases da cadeia, desde o acontecimento até ao leitor.
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