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Mídia, informação e info-entretenimento: algumas considerações (1)
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Não gosto de televisão. Quer dizer, não gosto da TV aberta, essa que é disputada à tapas por anunciantes e que divide o espaço apresentado ao público em horários completamente propostos tendo corporações e empresas em mente. A TV a cabo também não fica muito atrás nesse quesito, mas é orientada a um público de outra classe (média, normalmente), que pode pagar pelo serviço e que espera por outros tipos de anúncios entre um programa e outro. Acho que essa comercialização excessiva do espaço na televisão gera uma banalização do conteúdo geral, já que muitas vezes vemos os programas sendo enquadrados no tipo de anúncio que o precede, ou de alguma forma buscando alguma coerência com o tipo de consumidor que, presumem as emissoras, esteja do outro lado da tela naquele momento. Esse é só um dos motivos para eu não gostar de TV, pelo menos na única forma em que a conheço em uma profundidade relativamente maior, ou seja, a brasileira. Acho também que o controle e o domínio explícito de certas emissoras ? como a Globo e o SBT, por exemplo ? sobre grande parte da audiência não são, como querem os defensores dessas gigantes do info-entretenimento, resultado de competência ou de qualquer compromisso com a honestidade para com o povo brasileiro. Embora se possa argumentar que uma competência técnica elevada tenha sido necessária para que cada uma dessas emissoras tenha alcançado seu patamar de influência e alcance atuais, isso não significa que os conteúdos exibidos por elas sejam necessariamente bons ou que eles atendam de forma satisfatória às várias demandas por informação e entretenimento dos cidadãos brasileiros.
Minha opinião com relação a TV brasileira, no momento, é um pouco diferente.
Acredito que, desde o princípio até os dias de hoje, a TV no Brasil tem seguido quase que ao pé da letra não só as determinações políticas dos Estados Unidos, como também os padrões e critérios editoriais adotados pelos jornais e programas de entretenimento considerados mainstream na mídia americana. Desde as revistas que são, na minha opinião, erroneamente chamadas de "formadoras de opinião", e que recebem uma atenção gigantesca, principalmente por parte da classe média brasileira (VEJA, ISTOÉ, Época, etc.), até os programas de opinião e talk-shows nacionais exibidos nas emissoras de maior Ibope (Jô Soares e afins), todos parecem seguir padrões americanos, considerados pelos EUA e por muitos no Brasil como "os melhores modelos" a serem adotados em qualquer lugar do mundo. A VEJA copia a TIME, Jô Soares copia David Letterman com seu Saturday Night Live e há ainda alguns programas de opinião brasileiros que cometem o erro (que se engendra devido a uma espécie de cegueira política, resultado de um alinhamento acrítico com a direita americana) de copiar programas no estilo daqueles apresentados por Bill O'Reilly e companhia, onde o preconceito e o viés totalmente neoliberais e neoconservadores jorram da boca de quase todos (apresentadores e convidados, na maioria das vezes) sem a mínima preocupação ou responsabilidade no uso das informações e em suas referências. Nossos jornais televisivos (e a vasta maioria dos impressos, também) obedecem confortavelmente aos modelos introduzidos por canais como a FOX News e jornais como o The New York Post, ambos propriedade de Rupert Murdoch, cujo envolvimento direto com Washington nunca foi sequer discreto, e que se reflete amplamente na falta de contextualização nas informações relacionadas à política externa americana e às ações de Israel no Oriente Médio, isso só para citar alguns fatos. É relevante lembrar que foi a FOX News a responsável pela estranha primeira eleição do presidente George W. Bush (qualquer um que assistiu Fahrenheit 9/11 talvez ainda se recorde do evento). Canais como a CNN parecem servir de modelo para quase todos os nossos telejornais, seguindo a cartilha de sempre apresentar um evento e, em seguida, demonstrar opiniões que no máximo chegam a três conclusões diferentes: uma positiva, uma negativa e uma intermediária, quase sempre nessa ordem, como se a uma determinada notícia só fosse possível assumir três ângulos diferentes de interpretação.
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